Filipe Jardim e algumas das suas ilustrações ©FFW
Filipe Jardim é um dos ilustradores mais requisitados do cenário da moda. É comum vê-lo andando pelos bastidores de desfiles, sempre simpático, sorridente e relax. Formado em Belas Artes pela Universidade de Lisboa, ele teve seu trabalho reconhecido após assinar um “Carnet de Voyage” sobre o Rio de Janeiro para a Louis Vuitton. Essa exposição que ganhou por meio da marca francesa abriu muitas portas e Filipe passou a receber encomendas da Tiffany & Co., Hermès, Issa e ainda para a publicação americana “The New Yorker”, além de colaborações para matérias de moda na “Folha de S.Paulo” e outras publicações nacionais. Nesta temporada, ele criou as ilustrações que estamparam peças do desfile da Forum e da Água de Coco, mas antes já havia trabalhado com marcas como Neon, Amapô, Cantão e Converse, com um lançamento de um tênis com as suas estampas.
Tudo começou nos bastidores do SPFW, quando Filipe desenhava para a revista oficial do evento. “Eu entrava, sentava no backstage e saía desenhando”. E foi precisamente no backstage que Filipe contou ao FFW um pouco mais sobre a sua carreira.
Uma página da “The New Yorker” com ilustração de Filipe Jardim ©Reprodução
Como é o seu processo criativo?
O que eu faço são ilustrações que viram outras coisas. No caso da Forum, as ilustrações foram aplicadas em várias peças. No desfile, metade das estampas da coleção eram minhas, mas foi um trabalho de equipe. Eu dou os desenhos e depois a equipe desenvolve a forma como as estampas são mostradas nos diferentes tecidos, podem aparecer em tecido plastificado, sobrepostas, plissados, mas essas já são decisões da equipe de estilo. Na Forum conheço a maioria das pessoas há mais de 10 anos, e elas já conhecem o meu trabalho, mas muitas vezes eu estou fora e as reuniões são feitas por Skype ou quando eu venho a São Paulo. Mas o fato de a gente se conhecer ajuda no processo.
Duas das ilustrações de Filipe nas estampas da Forum: a cidade baixa de Salvador e o edíficio Bretagne em Higienópolis, São Paulo ©Ag. Fotosite
E como surgiu este trabalho com a Forum?
Eles voltaram a desfilar e queriam celebrar o Brasil contemporâneo, e de uma forma que não fosse cliché. Não queriam falar só da caipirinha ou só do Corcovado, então caiu para um lado muito bacana que são coisas contemporâneas e legais, como Inhotim e o edifício Bretagne, que é um ícone de São Paulo e simboliza a arquitetura contemporânea, dos anos 50 e 60. E foi o máximo para mim porque é muito raro você trabalhar com um cliente que não quer uma coisa cliché. Neste caso é o melhor dos prazeres porque você tem um trabalho original com uma equipe que está te incentivando a ser original.
Todos os seus trabalhos são feitos com exclusividade?
As marcas me pedem um trabalho com um tema e a partir daí eu começo a criar. Pego uma série de referências e desenvolvo cada um deles, sempre com exclusividade para quem encomendou.
Seu trabalho para a Louis Vuitton foi muito comentado.
Foi esse trabalho que me botou nesse mundo de moda, do luxo. Eu fiz Belas Artes em Lisboa, depois voltei para o Brasil, trabalhei com restauração, fui professor e construí uma carreira no mundo da ilustração. Como todo ilustrador, eu fazia os meus diários gráficos, os meus sketch books. Aí uma amiga viu que existiam os Carnet de Voyage da Louis Vuitton e um dia encontrei-me com uma pessoa da marca e me ofereci para fazer um sobre o Rio, caso um dia eles pensassem em fazer. Acabei sendo contatado pela marca e fiz o Carnet. Foi um projeto grandioso para um ilustrador, porque é importantíssimo, com um lançamento mundial e que permanece nas lojas. Se você for à loja em Hong Kong, vai ter lá o Carnet de Voyage do Rio. E foi super bem impresso, fora que a marca tem um prestígio gigante e obviamente te coloca numa catapulta para te jogar nesse universo de moda. E não é só de moda, é um universo em que você é respeitado pelo seu trabalho, pelas suas ideias.
Páginas do Carnet de Voyagge que Filipe criou para a Louis Vuitton ©Reprodução
Ilustração para um dos catálogos da Hermès ©Reprodução
E foi então que você começou a trabalhar para outras grifes?
A minha entrada no SPFW tem a ver com isso também. Eu entendi que tem muitas pessoas da minha área inseridas no universo de moda. Conheci fotógrafos, stylists, maquiadores, todos eles com o background de Belas Artes. É um universo que te dá uma certa liberdade, além de ser muito divertido. Eu me identifiquei com isso e mergulhei de cabeça. Há mais de 10 anos que frequento os eventos de moda. Comecei vindo para desenhar para o jornal oficial do SPFW, entrava nos camarins e saía desenhando. A história de trabalhar com as marcas é uma consequência das amizades que fui construindo a partir desse primeiro trabalho. Como estava sempre por aqui, fui virando amigo das pessoas.
O que você gosta de fazer quando não está desenhando? O que te inspira?
Viajo muito, desenvolvo um trabalho bem pessoal. Gosto muito de fotografia não digital. Tem sempre um trabalho ou outro surgindo, mas gosto de viver bem, viajar. Não tenho uma disciplina, uma rotina de artista, mas me envolvo em vários trabalhos diferentes.