Por Laura Artigas, em colaboração para o FFW
Vitorino Campos no camarim, pouco antes do desfile de estreia ©Sergio Caddah/Agência Fotosite
Quando a fila de modelos estava se formando, em meio aos retoques de spray dos cabelereiros, o estilista Vitorino Campos, 24, abraçou sua sócia Natalia Trocolli, 23. Os dois se olharam, trocaram algumas palavras, e se perderam em meio ao burburinho do backstage. Do tipo centrado, minutos antes do desfile, confessou: “Sim, estou nervoso”. Mas o semblante continuou firme.
A equipe do estilista Vitorino Campos desembarcou em São Paulo carregando as roupas no cabide. Além de Natalia, mais quatro pessoas vieram para a semana de moda. A logística manual de Salvador até o SPFW aconteceu em função da extrema delicadeza de algumas de suas peças, que não podem amassar.
Muito preocupado com acabamento dos modelos que cria, ele mostra com orgulho a parte interna da blusa preta combinada com um saia da mesma cor e usada por Aline Weber na abertura do desfile. “A parte interna da roupa é tão importante quanto a externa”, diz o jovem estilista. Toda a sua coleção foi desenvolvida com uma seda produzida com requintes artesanais na cidade de Como, na Itália. “Cheguei na fábrica e vi aquelas máquinas antigas tecendo os fios e um senhorzinho gentil mostrando o processo de fabricação. Na hora percebi que usaria o tecido como matéria-prima”, relembra.
Arara com alguns dos looks do desfile ©Felipe Abe
As matérias publicadas sobre o estilista até o dia de sua estreia na semana de moda paulistana e replicadas uma a uma em sua página no twitter descrevem seu rigor técnico, seu bom gosto e o apontam como jovem talento. “Acho que isso está acontecendo porque eu sou muito verdadeiro com o meu trabalho”, reflete.
Sua coleção, batizada de “Não Tradução”, chancela seu ideal de não querer rótulos, desígnios de temporalidade ou inspirações pontuais. “Minha criação parte muito do meu cotidiano, do que eu ouço, do que vejo”, analisa. “A Clarice Lispector escreve muito sobre o que não podemos explicar”. Os textos da escritora lhe servem como mantra. “Leio de quando em quando e me inspiram muito. Acho que eu e ela temos uma relação”, diverte-se.
A trilha sonora era uma grande preocupação do estilista. “Ele queria músicas atemporais”, conta o produtor musical Max Blum. “Trabalhar para um estilista estreante é uma responsabilidade grande. A trilha não pode ser pretensiosa nem se destacar muito”, observa. A conclusão aconteceu nas músicas etéreas do produtor alemão Hauschka.
Vitorino não caminhou até o final da passarela. Voltou ao backstage e foi surpreendido com: “Oi Vitorino, eu sou o Paulo Martinez. Boa estreia”, se apresentou o editor de moda. Paulo olhou com atenção a lista de looks e apontou seus preferidos com prováveis chances de sair nas páginas da “Mag!”. “Este aqui é importante (vestido de losango que fechou o desfile), é o efeito de espelho. Não é estampa, é corte de tecido. O acabamento e a escolha de materiais são muito bons”, observou.
O vestido que fechou o desfile ©Zé Takahashi/Agência Fotosite
A editora de moda Suzana Barbosa, da revista “Elle”, também foi cumprimentar o estilista ao final do desfile. Ela também considera levar alguns modelos para as páginas da publicação. “As peças são muito bonitas. Ele fez um desfile correto. Não ousou muito. Mas prefiro que ele vá nesse caminho, e apurando seu estilo”, diz.
Hoje a grife conta com 25 pontos de venda no Brasil, e se prepara para alçar um voo ainda maior. “Ao contrário do que dizem a respeito dos baianos, nós trabalhamos muito, e vamos ter que trabalhar ainda mais. Chego a me arrepiar”, diz Natalia Trocolli, enquanto aponta o braço e olha para o amigo e sócio rodeado de jornalistas.