Rosie Huntington-Whiteley em entrevista ao FFW ©Juliana Knobel/FFW
A angel da Victoria’s Secret Rosie Huntington-Whiteley já nos habituou à sua presença na temporada de moda paulista, desfilando para a Animale, para quem é rosto de campanha. Nesta edição do SPFW, a top inaugura o evento abrindo o desfile da marca às 16h30, esta segunda-feira (11.06) na Bienal, em São Paulo.
Elegante, simpática e linda como sempre, Rosie recebeu o FFW no domingo (10.06) no hotel Fasano em São Paulo, onde está hospedada. Ainda com um longo dia de entrevistas e provas de roupa pela frente, a modelo falou da sua vida no campo, das suas inspirações e da sua opinião forte em relação à regulamentação da profissão de modelo.
Como começou a sua carreira?
Era estagiária em uma agência de modelos. Eu queria trabalhar com moda, mas não tinha experiência de trabalho, e na época, – eu tinha 15 anos – o único lugar que me aceitou era uma agência de modelos em Londres. E claro, eu atendia telefone, fazia café e tirava xerox. Um ano mais tarde de eu ter parado de trabalhar lá, fui dar um oi para as pessoas e uma booker me perguntou se eu queria experimentar ser modelo, e eu aceitei. Eu pensei, “talvez eu possa ir a uma foto e estar mais perto das roupas”, porque no fundo eu queria fazer design. Nove anos depois, aqui estou.
Você nasceu e foi criada no campo. Como acha que isso influenciou a sua carreira e visão da moda?
Ter sido criada no campo me deu uma sensibilidade muito pé no chão. A minha família e todas as pessoas que me rodeavam me apoiavam muito e acho que isso me fez sentir que eu podia ir para o “grande mundo mau” sem medo porque tinha esse apoio por trás. Onde cresci, a moda não estava disponível e não era acessível e talvez tenha sido isso que me tenha dado vontade de fazer a coisa mais distante da minha realidade. Eu queria ir para Londres, ver o mundo, explorar… o ambiente do campo é muito protetor.
O que mais a impressionou quando você começou a trabalhar no mundo da moda?
Eu acho que foi maravilhoso ver todos os talentos que existiam no mundo e ver a moda. Enquanto modelo você consegue ver mesmo a moda, o interior da indústria, as suas coisas boas e as suas coisas ruins. Estar perto de designers super talentosos. Você pode viajar e ver todas as culturas novas. Para mim foi maravilhoso, vindo de onde eu vim, que nunca tinha ouvido sequer um sotaque diferente. Trabalhar em uma indústria em que você conhece pessoas de Paris, do Canadá, da América do Sul, é fascinante.
Quais são as suas inspirações?
Eu me inspiro muito em pessoas e ícones dos anos 60 e 70. Adoro mulheres como a Brigitte Bardot e Elizabeth Taylor, me inspira muito o glamour das mulheres daquela época. Tem algo misteriosamente fantástico nelas e na forma como viviam ao extremo.
Com quem gostaria de trabalhar?
Felizmente tenho trabalhado com pessoas maravilhosas nos últimos 10 anos. Mas tem tantas mais com as quais eu gostaria de trabalhar. E agora que estou entrando no mundo do cinema, tem muitos diretores que eu já cresci adorando. Adoro os filmes do Baz Luhrmann, são tão teatrais e dramáticos… o figurino, o cenário, tudo. E eu gostaria de, pelo menos, entrar em um dos sets dos seus filmes e ver de dentro como eles são feitos, tão desconcertantes e bonitos.
Rosie, rosto do perfume da Burberry “Body”, fotografada por Mario Testino ©Reprodução
Você estuda alguma coisa ligada às artes?
Eu vejo muitos filmes agora. Durante a minha infância isso era uma coisa que eu não tinha disponível. Eu cresci no campo e a gente não estava autorizado a ver muita televisão. Ver um filme era uma coisa excepcional para a minha família, era uma ocasião muito rara em que a gente ia à locadora e trazia um filme. Eu acho que nos últimos nove anos em que tenho viajado o mundo, tento sempre me educar nas artes: filmes, moda, arte, design, arquitetura… tem muitas dessas coisas que podem te inspirar e te interessar.
Qual a sua opinião em relação a todas as questões de regulamentação da profissão de modelo, como a questão da idade e do incentivo a um estilo de vida mais saudável?
Eu tenho uma opinião muito forte nessa questão. Não concordo nada com meninas desfilando antes dos 14 anos em campanhas de adultos. É meio que uma área “cinza” – claro que temos crianças que são modelos, mas aí elas têm o seu próprio espaço e as suas próprias regras. Eu acho que é uma coisa à qual é dada pouca atenção ainda. Acho que a saúde das modelos e a maneira como as meninas são tratadas quando começam nem sempre é apropriada. Sempre falei e senti isso. Eu tive muita sorte porque sempre fui muito bem tratada e não tive muitas experiências más. Mas acredito que muitas coisas precisam mudar e acho que o que é interessante agora é que trabalhando na indústria do cinema e comparando a maneira como tratam os atores e a maneira como tratam as modelos, vejo que as regras e regulamentações que os atores exigem não se parecem em nada com as das modelos. E acho que tem muitas meninas que são arrancadas do meio do nada, jogadas em uma cidade grande e são mal aconselhadas e mal tratadas. Pode ser uma indústria negra.
Que conselho daria a essas meninas?
Têm que ter um senso muito forte do que está errado e do que está certo, o que às vezes pode ser difícil. Quando você tem 15 ou 16 anos você olha para os adultos e parte do princípio de que o que eles estão falando é o certo, ou que o que eles estão pedindo é razoável. E tem muitas meninas que estão desesperadas para trabalhar, que muitas vezes mandam dinheiro para os pais e que fazem qualquer coisa. O importante é ter a certeza do que vai deixar você confortável e o que não vai. Tem que saber distinguir o certo do errado. E claro, sempre se rodear por uma boa equipe. Vai ter que trabalhar muito, quando se é uma jovem modelo, sempre tem. Chega uma altura em que você tem que fazer sacrifícios, porque não vai ser sempre hotéis de cinco estrelas. Outro conselho importante que posso dar é para procurarem sempre ajuda legal com um advogado.
O que mais gosta na sua profissão?
Eu cresci no campo e sempre me pergunto o que eu faria se não tivesse feito o que fiz. E sempre me sinto muito abençoada de aos 25 anos já ter viajado o mundo, de conhecer novas culturas e países diferentes, pessoas diferentes. E isso é algo que você não senta e aprende em uma sala de aula. Agradeço por todas as pessoas que foram fantásticas comigo na minha carreira, mas também agradeço às que não foram, porque elas me moldaram e me transformaram no que sou.
Qual foi o seu trabalho mais marcante?
Aos 18 anos comecei a trabalhar para a Victoria’s Secret, que me permitiu entrar no mercado americano com muita força. É uma empresa enorme e com muito prestigio. Trabalhar com o Mario Testino para a Burberry nos últimos quatro anos tem sido maravilhoso tanto para mim quanto para a minha carreira. Fazer o filme “Transformers” também foi incrível e uma grande mudança na carreira, algo que eu nunca pensei que faria. Grande parte do que faço é sorte, sou muito sortuda, tem muitas meninas bonitas e talentosas no mundo que não têm a oportunidade que eu tive. A indústria criativa muitas vezes se resume a estar no lugar certo, na hora certa.