Fotografia para a Jil Sander, de 1992 ©Nick Knight/Reprodução
“Eu não quero refletir as mudanças sociais – eu quero causá-las”. Desafiar padrões estéticos e ultrapassar limites, tanto culturais quanto técnicos, é o que tem marcado continuamente a carreira do fotógrafo Nick Knight. Há cerca de 30 anos no mercado da moda, o britânico criou imagens impactantes que se fundem intrinsecamente à história de algumas marcas de luxo, bem como de publicações de vanguarda no segmento. A produção de Knight em outras mídias, através do experimentalismo possibilitado com o “SHOWstudio”, plataforma online desenvolvida por ele em 2000, converteram-no em um nome pioneiro na arte de cristalizar o instante.
Nick Knight ©Reprodução
Apesar de ter-se estabilizado na fotografia de moda, Knight iniciou sua trajetória retratando grupos da contracultura inglesa no começo da década de 1980, em especial os skinheads, tema que inclusive motivou a publicação de seu primeiro livro, “Skinhead”, em 1982. Ao contrário do que acontece com frequência no meio artístico, Knight, que nasceu em 1958 em Londres, veio de uma família ligada às ciências: seu pai, psicólogo, e sua mãe, psicoterapeuta, levaram o britânico a cogitar a possibilidade de seguir na mesma área de atuação. Após iniciar um curso de graduação em Biologia, ele percebeu que, na verdade, não tinha interesse algum em células, mitocôndrias ou quaisquer elementos relacionados à fisiologia vegetal e passou a ocupar-se da fotografia.
– Vídeo de “Pagan Poetry”, da islandesa Björk, dirigido por Nick Knight:
Segundo matéria publicada em 2007 no jornal “The New York Times”, o interesse de Knight por fotografia surgiu porque “havia sempre uma câmera em casa, e era um modo de conversar com garotas”. O comentário honesto do britânico não reflete o afinco com que tomou os estudos na Universidade de Artes e Design de Bournemouth e Poole, onde se graduou, e no mesmo ano, teve uma das imagens do livro “Skinhead” publicada na revista “i-D” – a capa da obra rendeu a Knight em 1985 o prêmio dos Designers & Diretores de Arte do Reino Unido (D&AD). A partir de então, Knight passou a colaborar assiduamente com a publicação e, em 1990, tornou-se editor de imagem comissionado do veículo fundado por Terry Jones.
Capa do livro “Skinhead”, 1982 ©Nick Knight/Reprodução
Além do trabalho na “i-D”, onde em 1986 conheceu sua mulher e grande musa, Charlotte Wheeler, Knight passou a fotografar campanhas publicitárias de marcas de luxo, com destaque para a Jil Sander e Yohji Yamamoto, foi nessa última que o britânico inclusive criou, ao longo de 12 catálogos sucessivos, imagens cheias de cor e precisão técnica, mas também de sofisticação e futurismo. O perfeccionismo, aliado à estética vanguardista, converteram-se em estandartes da obra de Knight, que parece nunca estar satisfeito: “Ele irá tirar uma fotografia e você achará que está brilhante, mas para ele é apenas um ponto de partida”, sua esposa contou ao “The New York Times”. Nomes hoje reconhecidos no mercado, como Craig McDean e Sølve Sundsbø, foram assistentes de Knight e, segundo o primeiro, adquiriram conhecimentos inestimáveis: “Eu aprendi mais em meu primeiro mês com Nick do que em quatro anos na faculdade”.
No início de 1993, Knight deu uma pausa em suas atividades como fotógrafo de moda para, em parceria com o arquiteto David Chipperfield, desenvolver “Plant Power”, uma exposição no Museu de História Natural de Londres que pretendia explorar a relação entre o ser humano e as plantas (talvez um resquício da ligação de Knight com as ciências). O retorno do britânico às publicações deu-se com a capa da “Vogue” britânica de novembro do mesmo ano, em que Linda Evangelista aparece iluminada por um flash circular em um fundo infinito vermelho. A imagem pode parecer comum para olhos habituados a inovações tecnológicas muito mais revolucionárias como as empreendidas nos últimos 10 anos, mas tal fotografia tornou-se icônica na história da revista, marcando um período estético “pós-grunge”.
Capa de novembro de 1993 da “Vogue” britânica e “Flora”, de 1997 ©Nick Knight/Reprodução
As celebradas colaborações de Knight com Alexander McQueen e Björk tiveram início no fim da década de 1990, sobretudo a partir de 1997. Nesse mesmo período, o britânico retomou a antiga paixão por retratar grupos sociais estereotipados, ou mesmo marginalizados, como mulheres obesas ou idosas, e até indivíduos com necessidades especiais. “Nick os fez parecer fabulosos, e forçou as pessoas a olharem para eles de forma diferente”, disse a editora de moda do jornal londrino “The Times”, Lisa Armstrong. Também em 1997 começou a parceria entre Knight e John Galliano, então diretor criativo da Christian Dior, que revitalizou a linguagem visual da marca francesa.
Karen Elson na campanha de Outono/Inverno de 2001/02 da Christian Dior ©Nick Knight/Reprodução
Devon Aoki, 1997, e “Dolls”, 2000 ©Nick Knight/Reprodução
Outras campanhas marcantes na trajetória de Knight incluem grifes como Louis Vuitton, Calvin Klein, Yves Saint Laurent, Hermès, Giorgio Armani e Vivienne Westwood. Ao fundar o “SHOWstudio”, em 2000, ele decidiu sobrepujar todos os limites da fotografia comercial e dar vida a obras experimentais, que incluem filmes, entrevistas e montagens inovadoras. A iniciativa cresceu e atraiu a atenção de colaboradores que vão de Kate Moss, Gisele Bündchen, John Galliano a Lady Gaga – a plataforma conta inclusive com uma equipe fixa de mais de 10 pessoas. Em virtude do interesse por novas mídias, Knight já dirigiu vídeos clipes de Björk (“Pagan Poetry”) e Lady Gaga (“Born This Way”), além dos curtas-metragens desenvolvidos para seu próprio website e para publicidade, que incluem anúncios de fragrâncias da Dior ao carro da Land Rover de Victoria Beckham. É um dos grandes mestres da inovação de sua geração. E talvez, de muitas ainda por vir.
– Tributo a Alexander McQueen, dirigido por Nick Knight e musicado por Björk:
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