Mark Lanegan e banda em apresentação no Cine Joia ©Juliana Knobel/FFW
A voz rouca de Mark Lanegan parece ter o poder de tocar os mais profundos recintos da alma. Se ao ouvir seus discos solo é quase que impossível não ser dominado por um arrepio, vê-lo ao vivo é experienciar um transe introspectivo em coletividade. Neste sábado (14.04), o cantor, que já veio ao Brasil em outras duas ocasiões, apresentou-se com sua banda no Cine Joia, em São Paulo, na turnê promocional do álbum “Blues Funeral”, lançado em fevereiro deste ano, e ofereceu a seus fãs um verdadeiro espetáculo musical, tecnicamente impecável.
Mark Lanegan em apresentação no Cine Joia ©Juliana Knobel/FFW
Sem afetações, como já esperado pelos que conhecem sua personalidade reservada, Lanegan e sua banda entraram pontualmente às 23h no pequeno palco do Cine Joia – ambiente que combinado às projeções holográficas e à acústica acolhedora da casa parecia transportar o espectador ao universo melancólico do cantor. “When Your Number Isn’t Up”, canção do disco “Bubblegum”, de 2004, foi a primeira a ser tocada, como vinha acontecendo em suas últimas apresentações na América Latina, e preparou o público para a soturna, porém envolvente, “The Gravedigger’s Song”, cantada frase por frase pelos presentes e que terminou em forte ovação.
Apesar da reação cálida da plateia, Lanegan só soltou suas primeiras palavras de agradecimento após a sétima música, “Resurrection Song”, o que em momento algum causou desconforto, já que a condição primordial para apreciar uma apresentação do músico, comparado recentemente a Johnny Cash e Nick Drake pelo jornal britânico “The Guardian”, é mergulhar em cada verso sofrido de suas canções. “Hit the City”, quarta no setlist da noite, que, na versão gravada em estúdio conta com a participação da inglesa PJ Harvey, foi outro desses instantes inesquecíveis em que a interação extremamente ativa do público protagonizou a cena – e, no fundo, com certeza deixou até Lanegan surpreso.
Mark Lanegan em apresentação no Cine Joia ©Juliana Knobel/FFW
Das 17 músicas que compuseram o show de Lanegan, apenas uma não faz parte dos sete álbuns solo do cantor: “Crawlspace”, resquício dos dias de Screaming Trees. Já “Creeping Coastline of Lights”, cover da banda californiana Leaving Trains, faz parte do disco “I’ll Take Care Of You”, de 1999 – disco esse composto apenas de canções regravadas de nomes que influenciaram o americano ao longo de sua carreira. Além da já mencionada “The Gravedigger’s Song”, o fantástico “Blues Funeral” foi representado com mais seis músicas: “Riot in My House”, “Tiny Grain of Truth”, “St. Louis Elegy”, “Harborview Hospital” e as dançantes “Gray Goes Black” e “Ode to Sad Disco”. A icônica “Methamphetamine Blues”, lançada inicialmente no EP “Here Comes That Weird Chill”, de 2003, encerrou a apresentação deixando a sensação de que poderíamos passar outras duas horas imersos na profundidade daquela voz.
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