Capa de “Azul”, um dos discos de estreia da cantora Nina Becker ©Caroline Bittencourt
Foi preciso um prêmio da APCA, um EP, quatro faixas no Myspace, algumas coleções de moda_ ela também é estilista _e um lugar cativo por sete anos na Orquestra Imperial (big band carioca composta também por Moreno Veloso e Kassin), para Nina Becker finalmente lançar, de uma vez, dois discos de estreia: “Azul” e “Vermelho”. Produzidos por Carlos Miranda e Mauricio Tagliari, os CDs foram lançados neste mês pela gravadora paulistana YB.
A primeira e principal sensação é de alívio: ouvir uma jovem cantora com um bom repertório contemporâneo, que não bebe das fontes óbvias no quesito intérprete-de-MPB, e que trabalha com compositores como Domenico Lancelotti, Moreno Veloso, Marcelo Callado e Rômulo Fróes_ de longe os melhores da geração atual. Mesmo sendo autora também (nove das vinte faixas são dela), os colaboradores são vitais para Nina; e isso passa longe de ser um problema. Pense no que teria sido de Elis Regina ou Marisa Monte sem seus produtores…
“Azul” é cristalino e acústico. Começa bem com “Ela Adora”, passa pela bonita “Dans Toi Ilê”, e a confessional “Não Tema”, onde Nina se despe de orgulho e admite um amor em um bolero. Voz afinada e clima de pôr-do-sol carioca. A contemplativa “Janela”, composta em parceria com Domenico tem sua primeira versão aqui. Mas se as são canções acertam o tom individualmente, o conjunto peca pela repetividade; o clima se mantém linear demais e o álbum não decola.
Na contramão veio “Vermelho”. Quente, urbano, gravado ao vivo e dado aos improvisos com a ajuda da banda composta por Gabriel Bubu, Bartolo, Eduardo Mando e Thomas Harres (Quarteto, que já acompanhou Caetano Veloso em turnê). Na primeira metade do disco_ entre “Madrugada Branca” e “Janela”_ a banda faz silêncio (um pouco demais) para Nina, e o ritmo demora a engatar. Mas engata. Se destacam as bem-humoradas ‘”Toc Toc'” ou “Volte Sempre”, onde ela evoca uma Rita Lee pós-mutantes.
Mais para o final do disco, “Superluxo”, (que deu nome ao seu primeiro EP) chega com mais pouco mais de (bem-vindo) peso, distorção e guitarra, que continua em “De Amor e Paz”. Uma versão bossanoviana de “Lágrimas Negras”, de Jorge Mautner e Nelson Jacobina, dá mais um momento contemplativo ao disco.
“Tropical Poliéster” fecha o CD fazendo graça – ao que parece, das cobranças intelectualóides de muita gente por aí. “Você ainda não viu?/Sucesso internacional/A nobre trama/Ao toque clama/Você ainda não viu?”. Se não viu, deveria.
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