A maturidade é o que dá liga ao álbum “Berlim, Texas”, o primeiro de Thiago Pethit, lançado no início de março. Ele vem acompanhado da sua primeira turnê, que começa nesta quinta-feira (25/03) no SESC Vila Mariana, em São Paulo. Com produção assinada por Yury Kalil, (coprodutor de “Uhuuu”, do Cidadão Instigado), e direção artística de Jackson Araújo, o disco é perfumado pelo Vaudeville, espécie de cabarés teatrais populares nos EUA entre o final do século 18 e até a década de 1930.
O acabamento rústico (Ouça “Não se Vá”, que abre o álbum), evidencia ruídos e pequenas falhas, que aproximam o ouvinte do cantor como num show intimista. Músico relativamente tardio – começou estudando tango aos 25 anos, hoje tem 27 –, Thiago demonstra confiança e desenvoltura notáveis para um primeiro álbum: evoca Leonard Cohen em “Birdhouse”; os poucos acordes de “Fuga N. 01” tem imensa sensibilidade melódica; “Outra Canção Tristonha” lembra uma canção de ninar saudosista.
A fórmula folk chanson acaba sendo um vício e uma virtude: funciona, mas se torna repetitiva ao longo das onze faixas, onde tanto arranjos quanto letras não saem da zona de conforto de Pethit. Mas em “Sweet Funny Melody” e “Forasteiro”, que têm participação de Hélio Flanders (Vanguart), Thiago encontra a própria voz, que fica em algum lugar entre Chris Garneau e Rufus Wainwright. E num país carente de cantores, o crooner é mais que bem vindo.
“Berlim, Texas” tem um tema único ou as inspirações foram variadas?
As duas coisas. Cada pessoa tem um tema, um jeito e um gosto por várias coisas. O Vaudeville é uma bagagem que eu trago. Ao mesmo tempo, não é um disco de música Vaudeville. Ele tem uma inspiração em cima disso. Foi pensado em cima de uma estrutura que talvez se repita pela minha vida inteira, mas preciso fazer mais um disco para confirmar isso.
A sua formação inicial se deu no teatro.
Sim, minha primeira peça foi aos nove anos, com a minha avó, que é atriz. Me formei no Célia Helena e em 2000 trabalhei no Oficina e num grupo chamado Elevador Panorâmtico como ator.
Você gostava?
Antes de desistir, sim, eu gostava muito.
Por que desistiu?
Em 2007 eu comecei a ficar frustrado com o teatro. Gostava mais da teatralidade do que do teatro em si. E existe uma resposta de público super frustrante, é um meio muito autoexistente. Percebi que aquele não era o público com quem eu queria dialogar, queria falar com pessoas da minha geração. Comecei a andar com gente da música e a perceber que aquele era o público com quem eu queria dialogar. Eles me convidaram para dirigir um show de cabaré que eles tinham, virei cenógrafo, me colocaram como mestre de cerimônias, para cantar nos coros. Foi quando comecei a pensar na música.
E como a música entrou na sua vida?
Fui estudar composição e canto de tango em um conservatório da Academia Nacional de Tango Argentino, em Buenos Aires, com uma professora de noventa anos, chamada Maria de La Fuente. Durante um ano. Foi o melhor ano da minha vida. Me sentia bem na cidade, que é meio melancólica. Me sentia acolhido. Essa coisa de “Brasil, País Tropical” é meio invasiva para quem é melancólico. Fora que estudar um tipo de música na região onde ela nasceu é muito intenso.
Voltando para o Brasil…
Em janeiro de 2009 convidei o Tatá e o Maurício Fleury para fazer o EP. Coloquei na cabeça que seriam quatro músicas, mas só existiam duas. No meio do EP eu fui descobrindo que o canto não era natural para mim, eu não tinha um método para compor. Então agi de acordo com a minha intuição.
Quais são os dois lados (o bom e o ruim) de ser um músico temporão?
Depende. Eu não sabia fazer música. E foi muito difícil começar. A sensação que eu tenho é que comecei a fazer música desde sempre. As motivações são sempre as mesmas, o que muda é a ferramenta.
Faz falta não ser instrumentista?
Faz e não faz. Por um lado eu sinto que seria mais independente nas escolhas de shows, arranjos. Por outro lado isso me torna um crooner, é uma liberdade só cantar. É uma qualidade.
E até que ponto você controla os seus músicos/parceiros?
Completamente. Como eu não sou instrumentista, raramente as minhas músicas tem mais de cinco acordes. São sons primários, as letras são simples. Quando um dos meus parceiros tenta colocar alguma firula, fica brega. Como uma roupa luxuosa para uma pessoa muito humilde.
Quais as implicações legais de ser músico independente?
São muitas – e todas chatas. Basicamente você nunca é o dono das suas músicas, tem que lidar com no mínimo duas associações – a Ordem dos Músicos do Brasil (OMB), pra onde você paga uma anuidade de R$ 600 para poder tocar nos lugares como SESC; e com o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), que administra os direitos autorais.
O que você ouvia quando era criança, adolescente…?
Discos dos meus pais. Meu pai era radialista e ganhava muitos discos das gravadoras, tinha uma discoteca enorme em casa. Ouvia Rita Lee, Mutantes, Ney Matogrosso, Caetano… Mais adolescente eu comecei a gostar de Rolling Stones, Tom Waits. Depois comecei a ouvir Cansei de Ser Sexy [risos].
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