Quando a Porto da Pedra entrar no Sambódromo da Marquês de Sapucaí na próxima segunda-feira, dia 15 de fevereiro, a nação fashionista vai estar ligada na Globo: a escola que soma trinta e um anos de tradição elegeu a Moda como tema do seu enredo 2010.
Fantasia da Ala “Noivas” em homenagem ao estilista Simon Azulay © Bob Wolfenson/MAG!
Paulo Menezes, carnavalesco oficial da Porto da Pedra, explica: “Era um desejo antigo fazer um enredo sobre a história da moda e da indumentária. Moda e Carnaval são dois mundos muito próximos, mas ao mesmo tempo distantes. Neste enredo eu procurei aproximá-los, pois afinal nós [carnavalescos] também fazemos uma coleção e posso afirmar que o seguimos tendências, como a moda”.
Em janeiro deste ano, a MAG! “Rio de Janeiro a janeiro” homenageou a Escola com um ensaio de moda editado por Paulo Martinez com fotos de Bob Wolfenson (as imagens usadas aqui foram originalmente publicadas na revista).
O portal FFW conversou com o carnavalesco. Confira:
Quando você começou sua carreira como carnavalesco?
Comecei por acaso, em 1992, desenhando fantasias para um amigo. Mas sempre foi como um passatempo, até 1999, quando realmente vi que era isso que eu queria. Então não parei mais e passei por Escolas como União da Ilha do Governador, Mocidade Independente, Estácio de Sá, Império Serrano, e, agora, Porto da Pedra.
Qual é o seu papel num desfile?
No desfile, propriamente dito, posso dizer que a função do carnavalesco é muito mais a de orientação e acompanhamento para que nada saia errado. Até chegar o dia do desfile a nossa responsabilidade é total. Somos responsáveis desde o processo de pesquisa e conceito do enredo até a criação de toda a parte plástica e teatral do carnaval.
Com quanta antecedência você começa a desenvolver as roupas?
Isso depende de quando a Escola decide o enredo. Neste Carnaval especificamente começou a ser pensado em maio de 2009, e em agosto estava pronta toda a parte de pesquisa, criação e desenho de todas as fantasias e alegorias. Então, depois de desenhadas todas as fantasias, passamos para o processo de pilotagem, onde estas roupas deixam de ser apenas um desenho para serem reais.
Quantas pessoas estão envolvidas na manufatura das roupas de um desfile de Carnaval?
No caso da Porto da Pedra, devemos ter uma média de 170 pessoas produzindo 4.200 roupas.
No caso deste desfile da Porto da Pedra, de onde veio a ideia da inspiração na moda?
A inspiração veio de vários livros, foram mais de 150 pesquisados entre biografias e arquivos de estilistas e livros de indumentária. A minha formação acadêmica em História ajudou muito na pesquisa. Vários filmes também serviram de inspiração, como “Cleópatra”, “Elizabeth”, “Maria Antonieta”, “Vatel” e até mesmo “Os Flintstones”.
Quem são os estilistas homenageados?
São muitos, entre os internacionais Chanel, Lacroix (o meu preferido), Versace, Elsa Schiaparelli, Dior, Charles Worth, Lanvin, Yves Saint Laurent, Jean Paul Gaultier, Valentino, Thierry Mugler, Karl Lagerfeld, Moschino, John Galliano, Madeleine Vionnet, Mary Quant, Pierre Cardin, entre outros. Os brasileiros Zuzu Angel, Alexandre Herchcovitch, Ronaldo Fraga, Jum Nakao, Lino Villaventura, Lenny Niemeyer, Oskar Metsavaht, Simon Azulay, Georges Henri, Clodovil, Denner e Gregório Faganello.
Quantos blocos tem o desfile e quais são eles?
Eu começo na pré-história, com a necessidade do homem cobrir seu corpo, aí passo pela Antiguidade Clássica, pela Idade Média, dando ênfase ao Bizâncio e ao Gótico. Tem também o Renascimento, onde muda o pensamento do homem e uso como figura central a Rainha Elizabeth. No Barroco, com toda sua exuberância, trabalho o Rei Luís XIV como o grande personagem. No Rococó a figura central é Maria Antonieta e no Neoclássico temos o Napoleão. Até aí sempre trabalho com a realeza influenciando a moda, mas quando entro no século 20, a Chanel toma conta do cenário. Neste bloco faço uma menção à Naomi Campbell. E aí chego ao Brasil, onde faço uma homenagem aos grandes artistas brasileiros.
Look da Ala “Quero Ser Naomi”, homenagem à supermodelo e também ao estilista Yves Saint Laurent © Bob Wolfenson/MAG!
Vocês tiveram reuniões ou conversaram com os estilistas que são homenageados?
Procurei não conversar com nenhum deles pois não queria sofrer influências. Mergulhei na obra e tentei viajar com a cabeça deles para criar as fantasias. Foi um processo bastante difícil, mas também muito prazeroso, pois me deu muitas possibilidades de criação. Acho que de todo o processo criativo, este foi o que mais me encantou.
Qual a sua ala favorita?
Gosto de todas as roupas, mas tenho grande carinho pela da bateria, que é o Rei Sol, toda feita com fitas. A das baianas, que é a Rainha Elizabeth e as dos estilistas brasileiros.
A fantasia de laços em homenagem ao Rei Luís XIV, uma das favoritas do carnavalesco Paulo Menezes © Bob Wolfenson/MAG!
Qual fantasia deu mais trabalho?
A do Alexandre Herchcovitch, pelo processo de desconstrução da roupa. A blusa foi toda furada, depois foi para um processo de lavagem e depois para a pintura de arte. As penas foram todas destruídas para serem aplicadas na roupa. A peruca é um dreadlock feito com estopa e cola, depois pintado. A roupa teve uma construção quase artesanal.
A roupa que homenageia Alexandre Herchcovitch foi a mais trabalhosa de todas por conta do processo de desconstrução © Bob Wolfenson/MAG!
Qual a roupa mais cara?
A das baianas, com certeza, pois além da roupa, que tem um desenho diferente de saia, com tecidos bastante requintados como pede uma indumentária de rainha, pois elas representam a Rainha Elizabeth. Ainda tem a maquiagem, totalmente teatral.
As baianas de Paulo Menezes se vestem de Rainha Elizabeth © Bob Wolfenson/MAG!
Quais materiais foram usados nas roupas?
É um Carnaval de poucas penas e muitos tecidos. Alguns são diferenciados, como o tecido de estofamento de sofá, jeans, moletom, couro, – todos materiais pouco usados no Carnaval. Além da possibilidade de brincar com os tênis All Star e Sandálias Ipanema e Melissa. Gosto muito do resultado final.
O que era moda na sua infância?
Não lembro de ter um conceito formado sobre moda na infância, isso veio muito na década de 1980, onde eu passei a gostar demais do trabalho do Simon [Azulay] na grife Yes, Brazil. Posso até dizer que o meu interesse pela moda começou ali, admirando suas criações.
E o que é moda pra você hoje?
Acho que moda é personalidade, é estilo. A Gloria Kalil tem uma frase que resume muito o que eu penso: “Moda é oferta. Estilo é escolha. Faça as suas”.