O nosso radar foi certeiro: o filme “Nine”, que estreia nesta sexta-feira (29/01) nos cinemas brasileiros, só vale o preço do ingresso por causa do figurino assinado por Colleen Atwood.
Dirigido por Rob Marshall (o mesmo de “Memórias De Uma Gueixa” e “Chicago”), o longa é marcado pela exuberância e pelo brilho característico dos musicais da Broadway, mas aqui com pegada felliniana. A mistura tem explicação: “Nine” é uma adaptação de uma peça da Broadway que, por sua vez, foi inspirada no filme “8 ½” de Frederico Fellini.
Daniel Day-Lewis no papel de um cineasta em crise © Divulgação
A história tem como ponto de partida o personagem Guido Contini (interpretado por Daniel Day-Lewis), um diretor em crise existencial que está prestes a começar, sem ao menos ter um roteiro definido, sua nona produção cinematográfica (daí o nome do filme). Como se não bastasse o impasse profissional, Contini se vê assombrado pelas sete mulheres de sua vida. Com personalidades fortes e estilos visuais distintos, cada uma delas contribui para a salvação do filme através do figurino.
Marion Cotillard interpreta sua esposa, Luisa – uma versão às avessas de Audrey Hepburn, com figurino repleto de vestidinhos pretos e elementos 1950s.
Penélope Cruz faz o papel de Carla, sua amante que não tem medo de parecer vulgar. Com vestidos chamativos e clichês propositais sobre a sensualidade italiana, a personagem abusa dos decotes e lingeries à vista.
Claudia, sua musa e atriz principal, é interpretada por Nicole Kidman: ultra glamourosa em vestidos tipo Dior vintage. Sofisticação extrema.
Sophia Loren interpreta sua mãe. Uma senhora sofisticada, de gosto refinado, mas que não abre mão da sensualidade, ainda que de maneira discreta e comedida – vide as transparências e decotes (não raramente) provocativos ou então a frequente aparição de peças com pegada boudoir.
Fergie faz a prostituta Saraghina, com figurino repleto de corsets, lingeries vermelhas, meias arrastão e todos os outros elementos dignos de uma profissional do sexo.
Judie Dench interpreta a figurinista do longa de Contini, numa versão mais leve e discreta comparada às outras mulheres. Quase andrógina, ela abusa dos ternos em tons sóbrios, casacos alongados e tem uma elegância despretensiosa.
Kate Hudson fecha a lista das mulheres com a fashionista Stephanie. Ela é responsável por alguns dos melhores looks do filme. Pense nos anos 60 (Space Age ou Swinging Sixties).
Apesar do filme ter um roteiro “sofrível” (se você é assinante do UOL ou da Folha e S. Paulo, leia a crítica de Alexandre Agabiti Fernandez), as cenas são dignas de editoriais de moda nas principais revistas do mundo.
Colleen Atwood, figurinista de “Nine” e dona de duas estatuetas do Oscar (“Chicago” e “Memórias de uma Gueixa”, em que trabalhou ao lado do diretor Rob Marshall), aproveitou a história felliniana do longa-metragem para explorar uma época glamourosa na história da moda italiana.
“Eu amo o glamour latino que só Guido sabe retratar”, exclama a personagem de Kate Hudson num dos melhores momentos fashion do filme. Num vestido prateado cheio de franjas e usando botinhas de astronauta tipo Swinging Sixties, Kate desfila numa passarela rodeada de homens em ternos sequinhos com gravatas estreitas, traduzindo perfeitamente o estilo dos Mods em meados dos anos 60.
O segredo deste figurino quase que inteiramente criado pela equipe de Atwood (com exceção de algumas peças, como o casaco vintage de André Courrèges usado pela personagem de Hudson) está justamente nas referências. Em vez de se basear no musical da Broadway ou no filme de Fellini, Colleen busca inspiração no filme “Rocco and His Brothers”, de Luchino Visconti, e nas fotografias de Louise Dahl-Wolfe.
Para não dizer que Fellini não exerceu nenhuma influência sobre seu trabalho, Atwood cita outro clássico do cineasta italiano: “La Dolce Vita”, de onde sai a exuberância que ajuda a transformar o figurino de “Nine” em algo além da fantasia histórica.
Site oficial: nine-movie.com
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