Luísa Matsushita, mais conhecida como Lovefoxxx, vocalista da Cansei de Ser Sexy (CSS), já não mora mais no Brasil e no momento suspendeu as atividades da banda. Mas isso não a impede de estar bem próxima do país e de ser até uma espécie de porta-voz do Brasil para o mundo. Ela é embaixadora da campanha mundial “My Town My Tracks” da Onitsuka Tiger ao lado do baterista Ricardo Di Roberto, conhecido como Japinha, da banda CPM 22.
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Ainda na adolescência, Luísa queria ser estilista. Sonhava então com o dia em que se mudaria de Campinas, sua cidade natal, para São Paulo, para trabalhar na atividade. No início, tudo saiu como planejado: ela estagiou na capital paulista com André Hidalgo, idealizador da Casa de Criadores, e o estilista Caio Gobbi. Trabalhando bastante, ela se jogava na noite, o que se certa forma acabou fazendo com que sua vida saísse da rota planejada. Outras meninas que trabalhavam na moda a convidaram para montar uma banda só pra “se encontrar, beber e se divertir”, e assim começou o Cansei de Ser Sexy. Por um tempo, ela deixou os lápis e as tintas de lado para viver as turnês. Esse tempo parece ter acabado, pelo menos por enquanto. “A arte estava gritando na minha cara. Preciso muito atender isso que sempre foi tão forte em mim”, explicou em entrevista ao FFW.
Luísa agora mora em Hudson, uma cidade de pouco mais de 7 mil habitantes ao Norte de Nova York, onde se dedica à arte. Sua primeira exposição, intitulada “Animal”, foi aberta no início do mês na Galeria Percy, em São Francisco. Ela veio ao Brasil para o lançamento da campanha da Onitsuka Tiger e, de volta a São Paulo, curte o bairro Higienópolis, onde tem um apartamento, e os arredores, como Santa Cecília e Vila Buarque. E é isso que ela mostra na campanha da marca de tênis, que a cada temporada elege novos embaixadores para mostrar em fotos e vídeos a rotina com suas cidades — claro que sempre calçando os sneakers.
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Esta é a segunda vez que a campanha “My Town My Tracks” é feita com artistas brasileiros. No primeiro semestre deste ano, os artistas Hamilton Yokota, conhecido como Titi Freak, e Thalita Rossi, também estilista, foram os escolhidos.
Confira a entrevista com Luísa Matsushita, a Lovefoxx, na íntegra:
Como foi para você falar sobre São Paulo na campanha?
Foi fácil. Eu realmente sempre tive um fascínio por São Paulo. Sou de Campinas e a minha família toda é de Rio Claro. Sempre achei estranho que Campinas é uma cidade grande para ser considerada pequena, mas não é uma cidade pequena o suficiente para ter aquelas coisas gostosas, de ficar sentada na rua, que você coloca cadeira para fora, que você pode brincar na rua. Eu gostava muito de São Paulo. Eu era muito nerd, sabia quem eram todos os novos estilistas, sabia nome de modelo, gostava muito de moda. E sabia da Galeria Ouro Fino. Minha mãe uma vez recebeu uma ligação e era de uma imobiliária de São Paulo, e eu tinha, sei lá, 15 anos, falando assim ‘A gente queria falar com a senhora Luisa’, porque eu ficava vendo preço de apartamento na internet, pedindo orçamento, sabe? Eu queria muito morar aqui. Ficava andando de bicicleta na rua e fingindo que eu estava descendo a Augusta, pensava assim ‘aqui é a Alameda Franca, aqui é a Alameda Jaú’. Muito nerd. Quando mudei pra cá, trabalhava com um estilista que tinha um escritório na Ouro Fino. Então foi muito a realização de um sonho, porque vim para cá e estagiei na semana de moda [Casa de Criadores], conheci todo mundo de quem eu já sabia tudo.
Você estagiou com quem?
Mandei um portfólio para o André Hidalgo [idealizador da Casa de Criadores]. Uma amiga minha viu uma matéria na “Capricho” dizendo que o André Hidalgo queria novos estilistas. E aí eu me joguei. Eu já costurava, fazia aula de modelagem, de corte e costura. Fazia as minhas roupas, as roupas da minha mãe. Mandei um portfólio, fotografei minhas duas amigas magras, fiz uma maquiagem meio parecida com essa. E ele gostou, mas eu era muito novinha para estar lá com uma coleção. Então ele me ofereceu um estágio. Meus pais me trouxeram, conheceram o André Hidalgo. O estágio era trabalhando na Casa de Criadores, ajudando, fazendo de tudo um pouco. Conheci vários estilistas: Carla Fincato, Thais Losso, Caio Gobbi. Eles me ofereceram estágios. Aí aceitei o convite e vim para São Paulo. Me mudei, comecei a morar com umas meninas que trabalhavam na Galeria Ouro Fino, que eu conheci na hora. Foi um sonho muito grande, eu estava em São Paulo, perto da Avenida Paulista, que eu achava bafo, achava incrível. Andava pelo Masp, todos os dias eu passava lá ‘ai, o Masp’, sabe? São muitos ícones. No nosso vídeo, a gente visitou vários desses lugares, nem todos apareceram. Não tanto essa São Paulo de quando eu tinha 16 anos, mais um mix de agora e de antes. A gente inclusive foi na Rota do Acarajé, mas não entrou.
E como você foi parar no Chic?
Eu estagiava com o Caio Gobbi, e a Alexandra Farah saiu da “Capricho” e foi para o Chic. A gente sempre manteve contato. Eu tinha 16 anos, era meio que o xodó dela. Ela me convidou para fazer ilustração para a seção ‘Pergunte para a Gloria’ [Kalil], que as mulheres escreviam assim ‘Gloria, vou ser madrinha de um casamento, mas eu tenho canela grossa, o que eu faço?’. A Gloria respondia e eu desenhava um croqui do look de sugestão da Gloria. Eu ia para a escola de manhã, trabalhava e lá pelas cinco ia pro site e ficava até umas dez, a louca, e voltava para casa. Depois de trabalhar com o Caio, eu quis ir para a parte do desenho, da ilustração. E fiquei fazendo isso na Gloria, fazia frilas, fazia desenho para o catálogo da Santista, fiz desenhos para o Unibanco, para o espaço de cinema, para o festival. Trabalhei também na Triton, com a Karen Fuke, que hoje em dia é uma das minhas melhores amigas, fazendo estampa.
Então você sempre teve contato com o mundo das artes e com o mundo da moda?
A moda foi muito forte no começo. Mas eu noto que, se você é um estilista, você não consegue tanto ser criativo, porque você precisa atender interesses de mercado, as tendências, o que as pessoas querem comprar. Mas vejo que, se você trabalha na estamparia, você pode desenhar meio que o que você quiser. E isso foi o que me puxou. Mas hoje em dia eu estou fazendo arte. Fiz uma exposição em São Francisco na semana passada e estou muito feliz.
Como a música surgiu com tudo isso?
Foi muito do acaso. Eu nunca quis fazer música, nunca foi uma ambição. Acho que todo mundo que trabalha em São Paulo se joga na noite, porque é muito intenso: é trabalho pesado, você sempre trabalha mais horas do que é para trabalhar, sei de experiência própria, trabalha fim de semana, e as pessoas se jogam na noite. E a banda veio disso, a gente se jogava muito. Um dia, a gente estava vendo um show de uma das meninas que está na banda hoje em dia, que é a Carol [Parra], ela tinha uma banda que se chamava Vera Fischer, e a Iracema [Trevisan], que trabalhava com o Alexandre Herchcovitch na época, veio pra mim e falou assim ‘eu estou pensando em fazer uma banda, você não quer fazer parte?’. Falei ‘não’. Ela assim ‘mas essa banda vai ser uma coisa assim, que você não precisa ser virtuose, é só pra gente se encontrar, beber e se divertir’. Eu ‘então tá, beleza’. Eu ia tocar guitarra na banda. No primeiro dia de ensaio, eu fui a última a chegar, e tinha um monte de gente tocando guitarra e não tinha ninguém cantando, e o microfone estava no meio da sala, aí eu fui lá e comecei a gritar. E foi assim que tudo começou.
E sobre a campanha, qual a São Paulo que você quis mostrar?
Eu acho que é uma São Paulo de quem mora aqui, e não de turista. É mais aquela coisa de quem fica em casa. Mas a gente foi para o parque da Água Branca, que tem a feirinha orgânica, que não é tanto a metrópole, é mais o lado tranquilo da cidade, o lado que você pega o trânsito no contra fluxo.
Se o que te fascinava em São Paulo era o contrário, era a avenida Paulista, a Augusta, por que mostrar esse lado mais tranquilo da cidade?
É porque eu morei aqui por muitos anos e, 15 anos depois, a energia é outra, você quer qualidade de vida. E também eu venho muito para São Paulo de férias, não moro tanto aqui mais.
Onde você mora agora?
Eu estou morando no Norte de Nova York, é uma cidade muito pequena. Chama Hudson. É uma cidade que tem bastante galeria de arte, é muito legal, mas é bem pequena. Quando venho para cá, não venho para trabalhar, para ficar na correria, é meio que férias. Acho que é isso, não é a vida real, entendeu, é meio que férias.
Quais os planos para o futuro próximo?
Trabalhar em outras exposições de arte. Acabei de fazer a minha primeira e foi incrível. Agora quero fazer outras. Estou pintando todos os dias. Eu sempre desenhei, sempre pintei, só que, por causa da banda, nunca me dei o tempo de conseguir desenvolver um trabalho. Em turnê é muito difícil conseguir ter uma rotina, até uma disciplina de sentar e conseguir desenvolver um algum trabalho criativo no meio da estrada. A gente acabou a nossa última turnê em janeiro e depois fizemos uns shows, mas agora a gente está tirando um tempo para investir em outros interesses, porque a banda existe há 11 anos. Estou com outras necessidades agora que preciso atender, sabe? E é a pintura.
Agora vocês não têm uma data para se reencontrarem, não têm shows agendados?
No momento não. A gente já fez uma pausa dessas em 2009. Quando você está lá fazendo a vida da banda, você tem que estar lá 100%, não pode dividir muito. Não dá para coincidir arte e turnê. E a arte estava gritando na minha cara. Preciso muito atender isso que sempre foi tão forte em mim. E as meninas também, elas estão fazendo outras coisas, com outros projetos musicais também. É só uma pausa mesmo.
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