Lotta Volkova. Se esse nome ainda não é familiar pra você, é apenas uma questão de tempo. É muito comum ouvir falar de estilistas e modelos, mas os stylists, apesar de serem essenciais na moda hoje, acabam ficando muito nos bastidores, de forma que somente quem acompanha de perto conhece os profissionais pelo nome. Katie Grand, por exemplo, é há mais de 20 anos uma das principais stylists e criadoras de imagem de moda na indústria e a maioria – aposto – não sabe quem ela é.
Por muito menos tempo e trabalho, Lotta é a stylist russa e estrela em ascensão junto com o resto de sua turma, formada pelo estilista também russo Gosha Rubichinkiy – protegido de Rei Kawakubo – e por Demna Gvasalia, cabeça por trás do coletivo Vetements e recém-nomeado diretor criativo da Balenciaga. O mundo da moda se curvou para Demna e já o chama de revolucionário. Lotta faz parte dessa história; ela assina o styling de seus desfiles, Balenciaga inclusive, e também desfila para ele.
+ Veja o desfile da Balenciaga e da Vetements
Lotta é a menina que reflete com perfeição a estética proposta por Demna – imagem que tem suas raízes na União Soviética e na Rússia pós-socialismo. Então, se ele é o cara do momento e cria suas roupas pensando em Lotta, isso faz dela a menina do momento? Pode apostar que sim.
Ela já assina styling para todas as revistas boas independentes, como “Dazed & Confused”, “iD”, “Another Magazine”, “OC32”, “Document” e “Man About Town”. A Kenzo deu seu desfile masculino para Lotta assinar a edição. “Gosto de olhar as coisas de uma maneira diferente, olhar para o que nós não estamos acostumados a achar bonito”, disse ao site da “Vogue” americana.
Lotta nasceu em Novosibirsk, terceira maior cidade da Rússia, e foi batizada assim em homenagem na música “Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin. Com o fim da União Soviética, ela se deparou com as novidades do resto do mundo, inclusive teve seu primeiro contato com a moda através do programa “Eurotrash”, com Jean Paul Gaultier e Antoine de Caunes. “Foi uma explosão de informação, o que para mim, como adolescente, foi muito inspirador”.
Aos 17, ela foi morar em Londres para estudar arte, fotografia e moda na Central Saint Martins. À noite, saía para clubes e festas e passou a fazer suas próprias roupas – pouco tempo depois também fazia a de seus amigos. O entusiasmo em torno de suas criações a levaram a lançar uma marca masculina em 2004, a Lotta Skeletrix, um “streetwear inspirado na cultura punk e pós punk” e com influência de bandas underground. Lotta chegou a vender para multimarcas e conheceu Rei Kawakubo, conhecida por ajudar novos talentos – Gosha entre eles – e passou a vender na Dover Street Market. Com sua marca, desfilou nas semanas de moda de Paris, Londres e Berlim (vídeo abaixo).
Foi em 2007, quando estava em Paris, que ela trocou o trabalho de estilista pelo de stylist. Aconteceu de forma acidental, quando conheceu a fotógrafa Ellen Von Unwerth, com quem trabalhou em diversos editoriais e projetos comerciais. Uma coisa leva à outra e Demna a convidou para fazerem um trabalho juntos e nunca mais se largaram. Gosha já estava na roda e juntos hoje eles lideram esse grupo que está trazendo a cultura pós soviética para a moda, com suas meninas e meninos brancos, frios, sentados em lugares decadentes ou esquecidos pelo tempo, vestindo seus abrigos Adidas. “Cresci numa época muito estranha. Vivi um pouco do comunismo. Agora, acho que é a primeira vez que as pessoas prestam atenção na nossa cultura. Nunca houve tantos russos trabalhando e se inspirando em suas origens. É um estilo diferente e uma estética muito forte, que europeus e americanos não estão muito acostumados ou não sabem muito sobre”.
Para Lotta, a atenção sobre seu grupo não é uma modinha passageira e sim um movimento com novas vozes e perspectivas diferentes. E eles, de fato, têm produzido boas imagens, na passarela, nas revistas, na internet, e estão criando juntos novos caminhos, um momento de frescor no meio do furacão. Os editoriais ganham nomes como “From Russia With Love”, “Russian Roulette” ou “The Svietsky Hotel”. Mudar de assunto, na moda, sempre funciona.