Por Isabella de Almeida Prado
Antes de começar o ensaio geral do desfile, Adriana Bozon chega apressada e calça as botas de couro da nova coleção da marca. Ela é quem comanda hoje a equipe criativa da Ellus, onde trabalha há 30 anos. Nesta edição, a marca comemora os seus 45 anos e mostra que ainda habita um lugar importante no imaginário da moda brasileira, seja entre os jovens de 20 e poucos anos ou adultos. Pode até soar apresentação nostálgica – com desfile ao som de Pet Shop Boys e David Bowie, top models dos anos 1990 como Marcelle Bittar, Carol Ribeiro e Mari Weickert, uma das primeiras logomarcas como elemento cenográfico, mas esqueça. A Ellus quer se atualizar. Além das tops, novos jovens rostos entraram na passarela e os códigos atuais do street wear também estavam lá.
Veja abaixo a conversa com a Adriana Bozon, diretora criativa da Ellus, e Rodolfo Souza, estilista da marca, sobre o novo momento.
+Veja o desfile completo da Ellus na SPFW N43
Durante esse tempo que vocês fizeram parte equipe criativa da marca, quais foram as vitórias de vocês?
Adriana: Bom, ao longo da história tiveram várias! Vou falar lá de trás, pois são 45 anos de história e eu tenho 30. Então desse ponto, fazer uma campanha e trazer a Kate Moss para o Brasil, fazer uma campanha com a Alek Wek, ocupar, na fase que nós começamos nosso trabalho juntos, a cidade de São Paulo, levando as pessoas para o Teatro Municipal, para a Praça das Artes, fazendo o nosso show ali no meio e valorizando o que a gente tem, sabe? Apaixonados pelo que a gente tem. Hoje aqui também, trazendo esse momento comemorativo para a Bienal. Acho que temos vários motivos para comemorar. Qual você lembra mais, Rodolfo?
Rodolfo: Acho que é isso mesmo, em termos de imagem. O tempo que estivemos juntos como equipe. Comercialmente, nós temos muitos produtos que fazem muito sucesso nas vendas. É uma realização, uma conquista para a marca. Tudo é intuição, aposta e investimento. Quando o retorno vem, é muito importante para a marca e para nós.
Adriana: É, e a gente está torcendo para que esse “see now, buy now” seja um sucesso também. Pode significar outro momento. Esse novo formato, de vender a roupa direto para o consumidor, pode ser um novo momento para a moda aqui no Brasil. A gente não sabe. Lá fora a gente vê que os canais estão divididos.
O streetwear ganhou muita força na moda nos últimos anos, inclusive o uso do jeans. O que esse momento representa para a Ellus?
R: Na verdade, a Ellus sempre usa da rua para criar as coleções e essa imagem, a individualidade. E o jeans, inevitavelmente, sempre fez parte disso. Os produtos têm um ciclo na moda. A gente acabou de vir de uma onda mais esportiva, onde o jeans é forte. A gente criou um jeans com elastano, mais confortável. A gente sempre se adapta a qualquer que seja a moda da vez.
Esta coleção tem muitas peças de alfaiataria, além de apresentar uso de outros tecidos. O jeans ainda é a prioridade da Ellus?
R: O jeans sempre foi e sempre vai ser a prioridade da marca. É o nosso top business. A gente sempre desenvolve tecnologias, lavagens, acabamentos para esse tecido. Isso na venda tem uma importância muito grande para nós. Como temos uma coleção muito grande, voltamos com a alfaiataria dessa vez, que foi um segundo assunto, de mesma importância na marca ao longo dos anos, mas que a gente deixou de fazer por uma questão de moda.
A: Existe até essa mistura, de alfaiataria com jeans…
R: Sim, é até essa mistura que a Adriana citou, sair na rua de jeans e paletó, de calça de alfaiataria e camiseta… É essa mistura, individualidade do jeito de se vestir.
E qual é o público-alvo da marca, atualmente?
A: Hoje em dia, não existe muito isso. Até ficou um pouco fora de moda falar. Nós somos uma marca madura e temos clientes que amadureceram conosco. Temos essa nova moçada que nos acompanha também. Esse casting que estamos apresentando hoje, mostra bem quem é o nosso público. Acho que é essa mistura de gerações, as pessoas que viveram a marca lá atrás e esse novo público que está entrando. Nós temos uma distribuição no Brasil inteiro, é uma marca muito acessível para todos. É uma marca que surgiu no movimento de rua, surgiu nos anos 1970 com o movimento hippie, e é superatual, para tudo que a gente está falando sobre moda no mundo. É uma moda democrática.
Qual é a principal diferença entre o posicionamento da Ellus e da Ellus 2nd Floor?
A: A Ellus 2nd Floor é mais jovem. Mais colorida, mais fun. A distribuição é muito menor, nós trabalhamos muito mais no atacado. Ela é, realmente, para um público mais jovem.
E como vocês trabalham hoje a imagem da marca, desde campanha até Instagram?
A: É um desafio alimentar todos os dias as redes. Acho que é um conjunto de toda a nossa história, o que temos para passar.