por Marcelo Moraes aka 1933 agosto
Não lembro um dia sequer da minha infância em que não tinha música tocando no fundo. Meu pai era DJ. A música moldou minha personalidade, meu lifestyle, minhas fotos. Comecei a fazer retratos aos 14 anos, com uma câmera analógica. Trouxe essa minha estética para a atualidade. Passei anos estudando e praticando pra chegar na fotometria que mais se aproximava dos anos 90 — a que eu mais gosto e a que guiou meu trabalho. Hoje, uso uma Fujifilm digital e uma Canon analógica, mas troco de câmera todos os anos. Ela é uma extensão de mim.
Há sete meses me mudei para São Paulo, onde fiz a maior parte desses retratos, e tudo mudou. Fui de apenas um fotógrafo com talento pra banca de talentos da família Ceia. A Ceia Ent, uma gravadora independente que foca em novos talentos do rap, me deu uma perspectiva que influenciou diretamente no meu modo de trabalhar em São Paulo. Todas as pessoas que eu fotografo são meus aliados. Não os escolho por turmas, tribos, grupos — gosto de pessoas originais. Retratar diversos lifestyles, estilos, pessoas. É assim que eu costuro meu trabalho.
Ser quem eu sou e me vestir do jeito que eu me visto quebrou muitos paradigmas dentro da cena. Estou no rolê da desconstrução. Desde que entendi que tinha muita coisa que eu não concordava na cultura em que eu vivia, passei essa minha personalidade para minhas imagens. Meus auto-retratos mostram muito isso:é importante que as pessoas entendam que as imagens não são apenas um click momentâneo. Existe uma pessoa por trás daquelas fotos, com todos seus princípios, filosofias, questionamentos e vivências.
Isso importa também porque atuo muito no mundo do rap, que é um dos movimentos musicais brasileiros mais machistas. E eu fui, sim, o primeiro hétero cis a colar de saia e unha pintada nesse rolê. Foi meu primeiro momento de resistência. Calado, resisti através do empoderamento estético. Minhas imagens são uma extensão da minha personalidade.
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A turma do projeto Melissa Meio-Fio tem uma coluna semanal no FFW para dar amplitude à essas vozes, dividir as causas pelas quais elas defendem e mostrar como cada um deles pode movimentar a cidade de São Paulo. Em tempos em que tudo que ouvimos são notícias cada vez mais preocupantes, o Meio-Fio quer mudar seu quadrado através de uma política do sim, pra frente e pra cima.