FFW
newsletter
RECEBA NOSSO CONTEÚDO DIRETO NO SEU EMAIL

    Não, obrigado
    Aceitando você concorda com os termos de uso e nossa política de privacidade
    De adolescente imigrante a pop star: documentário da cantora M.I.A estreia em Sundance
    De adolescente imigrante a pop star: documentário da cantora M.I.A estreia em Sundance
    POR Camila Yahn

    Estreou ontem no Festival de Sundance o documentário Matangi/Maya/M.I.A, aguardado filme feito a partir de mais de 20 anos de filmagem da própria M.I.A. Amigo da cantora e diretor do doc, Stephen Loveridge anunciou o projeto em 2013, mas a produção parou por conta de uma diferença entre ele e selo musical Interscope Records.

    O filme segue Maya, 42, provocando a indústria da música e a mídia mainstream enquanto tenta manter sua integridade artística, mostrando a trajetória de uma adolescente imigrante em Londres à popstar internacional M.I.A. Um trailer de quase cinco minutos divulgado ainda em 2013 mostra bem o conteúdo denso e relevante do qual é feito o documentário. Tem participações do ativista Julian Assange, Kanye West e Diplo, um dos produtores mais quentes do mercado há anos e ex-namorado da cantora.

    Maya canta e briga pelos oprimidos e pelos refugiados. Seu lado ativista fala mais alto que seu lado pop star e já rendeu críticas e problemas à cantora. Nos últimos anos, ela se envolveu em inúmeras provocações e confusões. Criticou Beyoncé por apoiar o movimento Black Lives Matter, e foi processada pelo NFL em US$ 16.6 milhões por mostrar o dedo do meio durante o show no Superbowl que participou à convite de Madonna. Somente sse fato isolado mostra que está dentro dela – verdadeiramente – a necessidade de ir contra o sistema. Que outra cantora pensaria em fazer qualquer gesto “negativo” para as câmeras ao vivo de um dos eventos mais assistidos do mundo?

    M.I.A. durante apresentação no intervalo do Super Bowl / Reprodução

    M.I.A. durante apresentação no intervalo do Super Bowl / Reprodução

    Para entender seu posicionamento, vamos voltar um pouco no tempo. Maya nasceu em Londres, mas cresceu no Sri Lanka e na India, onde seu pai integrava um grupo separatista chamado Tamil Tigers, que lutava pela separação do Estado de Tamil, minoria à qual pertence a família de M.I.A. Os Tamils estão entre as mais antigas civilizações do mundo e, originalmente, governavam Tamilakam e partes do Sri Lanka. Porém, na era colonial passaram a ser governados pela Índia Britânica, o que erradicou seu poder transformando-os em minoria. O tratamento dos Tamils pelo governo de Sri Lanka é uma preocupação constante que aparece nas letras de Maya.

    No Sri Lanka, ela viu cenas como a polícia bater em sua mãe grávida. “Meu pai e minha família começaram uma guerra que durou 35 anos. Eu fazia parte da família mais caçada da região e isso é uma coisa que nos lembram no minuto em que nascemos: ‘alguém vai te matar’”. Maya teve raras chances de desfrutar da companhia de seu pai, devido ao seu envolvimento com a organização Tamil Tigers. Os Estados Unidos vêem os Tigers como grupo terrorista e negou diversas vezes o visto de entrada para M.I.A. no país.

    Quando mudou para Londres aos 10 anos, sofreu preconceito por causa de sua cor. Ela chegou a tomar cuspe na rua ou ainda se sentir totalmente invisível. “Não é nem racismo, é muito além. É como se você simplesmente não estivesse lá”, diz ao The Independent.

    Foi essa rebeldia, raiva e senso de justiça que construíram a sonoridade única da cantora, que apareceu no início dos anos 2000 com o álbum Arular e seu som global que conectava os jovens dos subúrbios de Londres com pessoas oprimidas em países sub desenvolvidos. Muito ativismo e feminismo apareceu em seguida, desde o surgimento de cantoras como Grimes e Santigold, dadas como descendentes diretas de M.I.A, a Nicki Minaj e Beyoncé, com sua Formation Tour. “Eu não sou a pessoa que faz bilhões de dólares falando de opressão. Eu sou a quebradora do gelo, daí vem alguém atrás de mim e monetiza em cima”.

     

    Maya já foi nomeada a um Oscar, fez turnê com Bjork, compôs para Christina Aguilera, cantou com Kanye West e Jay-Z no Grammy 2009 (grávida de nove meses)… Para sua gravadora, ela poderia ser o ícone do milênio. Seus agentes falavam: “Você poderia ser a Rihanna se simplesmente calasse a boca”. Isso veio como consequência do hit Paper Planes. A música estourou, mas também virou um hino dos refugiados. Às críticas que recebeu na época, ela responde:

    “Bom, eu tenho que ser honesta comigo mesma. Se você é um imigrante, significa que deixou algo em algum lugar e, a maior parte do tempo passou fugindo de uma guerra. Os sons das armas são uma parte da nossa cultura como uma coisa cotidiana. Se eu fui exposta a armas de fogo, violência, bombas e guerra, então eu posso usar esses sons apoiando meus pensamentos em uma música. Olha, eu estou bastante à vontade com sons de bala. Se você tiver um problema com isso, vá e fale com as pessoas que estavam atirando em mim.”

    poster do documentário

    poster do documentário

    Em seu útltimo album AIM, lançado em 2016, ela resurge mais positiva e tranquila. “Estou exausta, quero apenas me aposentar e cuidar do meu filho”, disse à Rolling Stones, indicando que este seria seu último disco de estúdio. “É o trabalho mais positivo que já fiz, sem nenhum desses tópicos como racismo, gênero ou política. Tem sido uma jornada interessante pra mim, essa coisa de espalhar o amor”. E logo emenda: “Estou me esforçando para não soar como Madonna”. Essa é M.I.A.: você pode sair da revolução, mas a revolução não sai de você.

    Não deixe de ver
    Bebé apresenta seu mosaico de influências em “SALVE-SE”
    Por que a A24 é tão relevante?
    O desfile da Victoria’s Secrets de 2024 até tentou, mas agradrou?
    Nina Fernandes explica seu novo álbum “Bhangzwn”
    Madonna de véu para o desfile da Dolce & Gabbana
    Emily in Paris: tudo sobre o figurino da quarta temporada
    FFW Sounds: Charm Mone apresenta “CORRE”, seu primeiro álbum
    Nike e Lego firmam parceria para lançamentos em 2025
    Alice Caymmi apresenta versão deluxe de “Rainha dos Raios” no Teatro Oficina
    Billie Eilish se apresenta no encerramento das Olimpiadas de Paris 2024
    FFW