Vencedor da mostra Horizontes do Festival de Veneza 2017, o filme “Nico, 1988” estreou ontem no Brasil e deve arrastar para os cinemas fãs de rock e especialmente do Velvet Underground. Nico ficou conhecida nos anos 60 quando se tornou musa da contracultura, integrante da banda de Lou Reed, amiga de Andy Warhol e namorada de Jim Morrison e Alain Delon.
Mas o filme de Susanna Nicchiarelli passa longe desses tempos de sexo, drogas e rock’n’roll (e glam). Ele se ocupa com os últimos dois anos de vida da alemã Christa Päffgen, seu nome real e como ela exigiu ser chamada pós Velvet Underground. “Muita gente acha que depois de sua experiência com o Velvet e a Factory, ela simplesmente se tornou uma junkie e desapareceu. Mas para mim, a segunda parte de sua vida é muito mais interessante. Foi quando ela realmente foi ela mesma”, diz a diretora. Coube à atriz dinamarquesa Trine Dyrholm a difícil missão de interpretar Nico – ela também canta todas as músicas. “Quando cantava, Nico estava quase sempre fora do tom e às vezes soava horrível. Mas isso não importava. Ela contava uma história com suas canções. Eu olhei para suas músicas como monólogos para capturar o estado emocional de sua personalidade”, diz a atriz.
A influência de Nico é muito mais importante e duradoura do que se imagina e vai, de ato, muito além dos anos com o VU. Abaixo, conheça alguns fatos sobre a artista antes de ver o filme:
O começo
Nico foi descoberta pelo fotógrafo Herbert Tobias em Berlim aos 16 anos. Foi ele quem a apelidou de Nico por conta de um namorado que ela teve, o cineasta Nikos Papatakis. Ela se mudou para Paris e começou a fotografar para Vogue e Elle e chegou a ser contratada pela Chanel, mas em vez de ir para o trabalho, ela voou para Nova York onde começou a fazer comerciais para televisão e a estudar atuação com Lee Strasberg.
Cinema
Em 1959 ela foi convidada por Fellini para visitar o set de La Dolce Vita e acabou ganhando um papel pequena, interpretando a si mesma. Em 61 ela estreia no filme A Man named Rocca, de Jean Paul Belmondo, e em seguida ganha o papel principal em Strip-Tease (1963), de Jacques Poitrenaud. Ela também canta uma música escrita por Serge Gainsbourg que só foi lançada em 2001 como parte da coletânea Le Cinéma de Serge Gainsbourg. Na década de 70, ela fez sete filmes com Philippe Garrel, com quem morou e por um tempo virou o centro de suas produções. Seu filme de 1991 J’entends Plus la Guitare é dedicado a ela.
The Factory
Nico foi uma das musas de Andy Warhol. Ele era manager do Velvet Underground e deu a ideia de introduzi-la na banda. Foi quando ela estourou e virou um símbolo de beleza e também da contracultura.
Carreira solo
Ela logo iniciou sua carreira solo como cantora e sempre teve a colaboração de membros do Velvet. Eles contribuíram para seu primeiro álbum, Chelsea Girl. John Cale produziu The Marble Index (1969) e The End (1974), que também tem a participação de Brian Eno. Com Cale, ela também abriu um show pro Pink Floyd nos anos 70. Nos anos 60 e 70, ela circulou com Rolling Stones, Bob Dylan e Jim Morrison, que a incentivou a escrever suas próprias músicas.
Ari
Em 1962, Nico teve um filho com o ator francês Alain Delon, Christian Aaron Boulogne, a quem ela chamava de Ari. Delon nega a paternidade, mas seus pais assumiram sua guarda quando ele tinha 4 anos. Nico sofreu com a culpa por não ter conseguido cuidar dele e por ter induzido seu filho ao consumo de drogas pesadas. Ari é fotógrafo e tem um filho. Ele estava com sua mão no dia de sua morte em Ibiza. Ele viu o filme e, segundo a diretora, ficou impressionado com o trabalho da atriz Trine Dyrholm.
Aparência
A beleza de Nico abriu muitas portas para ela, mas era, no fundo, algo que a atormentava. Ser muito bonita virou um peso e ela queria desfazer essa imagem. Pro final dos anos 70, ela começou a deixar o cabelo marrom e passou a se vestir praticamente só de preto. “Não era feliz quando era bonita”, ela disse. Nessa época, ela estava envolvida com Lutz Ulbrich, guitarrista da banda experimental Ash Ra Temple.
No final de sua vida quando estava morando em Manchester, ela foi a um programa de rádio. O DJ a introduziu como “a femme fatale de Lou Reed” e logo ganhou uma patada: “não me chame assim”.
Últimos trabalhos
Seu disco final, Camera Obscura, foi lançado em 1985 e também produzido por John Cale. Ela gravou o clipe de My Heart Is Empty no clube The Fridge, no bairro de Brixton, em Londres. Sua última visita ao estúdio foi para gravar um dueto com Marc Almond, um mês antes de morrer. A música Your Kisses Burn foi lançada meses mais tarde no álbum The Stars We Are, de Almond. “Ela era um dos assuntos pelos quais era obcecado no colégio. Ela tinha essa voz intrigante, gelada e remota, mas também calorosa ao mesmo tempo”, diz o cantor.
Influência
No início dos anos 80, seu trabalhou causou um impacto na cena gótica. Ela convidava bandas como Sisters of Mercy para abrir seus shows e participava como special guest de gigs do Bauhaus e Siouxsie. Em uma turnê em 1978, Siouxsie Sioux convidou Nico para uma participação especial. Ela também fez um cover de All Tomorrow’s Parties. Nico foi uma grande influência também para Robert Smith, do The Cure, especialmente no álbum Pornography. Peter Murphy, do Bauhaus, considera Nico a primeira original do movimento gótico com os álbuns Marble lndex e The End. Morrissey disse que ela é uma das cantoras que mais o influenciaram, junto com Frank Sinatra e Elvis Presley. Para ele, a faixa Innocent and Vain representa sua juventude inteira em apenas uma música. Desertshore é um dos álbuns favoritos de Björk e Chelsea Girl é o favorito de Peter Hook. Em 2014, Patti Smith fez um show em homenagem a Nico. Duas músicas de Chelsea Girl (The Fairest of the Seasons e These Days) estão no filme Os Excêntricos Tenenbaums, de Wes Anderson.
Fim
Nico morreu por conta de hemorragia cerebral enquanto passeava de bicicleta em Ibiza em 18 de julho de 1988.