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    Um papo com Maika Mano, novo stylist para ficar de olho
    Um papo com Maika Mano, novo stylist para ficar de olho
    POR Redação

    Por Guilherme Meneghetti

    Com apenas três anos de carreira, o stylist Maika Mano, 28, é um nome pra ficar de olho. Ele estreou no SPFW nesta temporada assinando a edição do desfile de Victor Hugo Mattos, do Projeto Estufa, e a estreia de Flavia Aranha, que acontece neste sábado (27.04).

    Intrépido e eloquente, Maika adora explicar – e mostrar – o seu universo, repleto de memórias afetivas e referências de uma brasilidade que emaranham-se com sua própria história. Seu trabalho já foi publicado em revistas como Ela, Vogue e L’officiel Brasil, além de publicações independentes como Scape Mag Stories Collective.

    Entre um desfile e outro, no espaço Arca, conversamos com Maika sobre seu universo, inspirações e representatividade:

    Qual a origem do seu nome?

    Na verdade, meu nome não é Maika, é um apelido, foi um amigo que me deu na escola. A minha última memória de quando esse nome surgiu na minha vida foi nos meus 10/12 anos. Imediatamente amei e aceitei. Todo mundo aceitou, inclusive meus pais.

    Mano é sobrenome mesmo, vem da minha mãe, de origem italiana. Porém, eu não usava esse nome socialmente, usava dentro do meu universo. Quando ia para outros lugares, não me apresentava como Maika. Assumi esse nome de fato no início da minha carreira, em 2016. E acho que isso influenciou muito, porque foi um start – depois que mudei pra Maika, parece que as coisas aconteceram muito rápido.

    Você é de São Paulo?

    Sim, nasci aqui em São Paulo mesmo, na Vila Mariana, mas muito cedo eu fui morar em Poá, na grande São Paulo.

    O modelo Nabilah Sedar com joias de Andrea Conti para Vogue Brasil © Cortesia

    O modelo Nabilah Sedar com joias de Andrea Conti para Vogue Brasil © Cortesia

    Você sempre quis trabalhar com moda?

    Sempre tive uma atmosfera de arte na minha vida, pois estudei em escolas que me incentivavam a procurar esse lugar. Eu tinha aulas de canto, dança, piano, das mais diversas áreas. Entendi aí que eu ia transitar esse caminho pelo resto da minha vida.

    Sempre estudei sozinho, em casa, também. Estudava as revistas, lia livros, desenhava, escrevia, pintava. Sempre fui de ler muito, lia um livro por semana de diversos temas possíveis. Sobre Gandhi, por exemplo, ficava desenhando vestidos inspirados nele, era uma loucura. Meus pais falam isso: desde os meus dois anos, eu já queria usar coisas que não eram “comuns”. A minha sorte é que eles são pessoas incríveis e me deixaram ser quem eu sou desde muito jovem.

    Como começou sua história com a moda?

    Estudei moda na FMU. Entrei no curso a princípio com a intenção de ser designer, até porque era um curso focado para essa área, e aí logo no início entendi que não era exatamente isso o que eu queria fazer. Eu trabalhava numa loja como vendedor, na Budha Khe Rhi, uma marca do Sul, e estudava ao mesmo tempo.

    Quando terminei a faculdade, fui fazer uma pós em jornalismo de moda. Continuei trabalhando na loja, e foi aí que tive contato com produção de moda. Os produtores iam na loja pra produzir geralmente pra celebridades, e eu ficava investigando o que era esse trabalho. Foi quando me encantei, senti que seria algo por aí que queira fazer.

    Três meses depois, já estava assinando meu primeiro editorial como stylist, não era nem como produtor. Aconteceu muito rápido. Eu conheci o [fotógrafo] Adriano Damas e outras pessoas que me influenciaram de uma forma muito intensa e rápida.

    Campanha Verão 19 de Emanuelle Junqueira para Vogue Noiva © Cortesia

    Campanha Verão 19 de Emanuelle Junqueira para Vogue Noiva © Cortesia

    Você disse que gosta muito de pesquisar. Quem ou quais são suas principias referências?

    Trazendo esse lugar da infância, comecei pesquisando muito em livros. Qualquer livro, qualquer tipo de publicação me inspira. As minhas referências vêm desde moda e literatura à arquitetura. Eu absorvo muito todos esses universos. Os que eu mais transito é arquitetura e literatura brasileiras – nos dias de hoje principalmente. Estou começando um projeto que vai falar sobre isso, inclusive, e minhas pesquisas estão aprofundadas nisso.

    No seu trabalho, em geral, vê-se uma predileção por natureza morta e cores vivas. De onde vem essa predileção?

    Acho que vem do Brasil – inclusive eu tenho uma tatuagem com o mapa do Brasil, porque dentro desse universo, comecei a entender, ainda na infância, de onde vim, quem são os meus pais, meus avós, os pais dos meus avós e assim por diante. Nisso encontrei muita brasilidade. Apesar dos meus avós paternos serem portugueses, e os maternos italianos, eles tinham histórias fenomenais, encantadoras do Brasil. Então, acho que essas cores, essas texturas vêm muito desse lugar.

    Tem muitas pessoas que me inspiram também e são brasileiras. Desde artistas a familiares. Tenho uma tia que sempre me influenciou muito. A casa dela sempre teve muita informação, tapetes em todas as paredes, na casa inteira, até na cozinha, no banheiro… Brasil pra mim é o ápice de onde quero estar e onde quero desenvolver um novo lugar da arte. A gente está vivendo um momento muito delicado, e essa delicadeza faz com que eu queira ainda mais mostrar quem é o Brasil, quem sou eu dentro desse universo.

    Carol Ribeiro em editorial do caderno Ela, 2018 © Cortesia

    Carol Ribeiro em editorial do caderno Ela, 2018 © Cortesia

    Qual é o artista para quem você olha com amor?

    Tem alguns. A família do meu pai é do Nordeste e, da minha mãe, do Sul. Sempre convivi muito mais com a família do meu pai. É uma família enorme, eu tenho 15 tios, pra você ter ideia, e trocentos primos. Eles são de Pernambuco e eu sempre estive muito lá. Uma das primeiras artistas que comecei a gostar e da qual tive uma referência não só musical, mas também visual, foi a Elba [Ramalho]. Meu pai a ouvia muito quando éramos crianças – eu tenho dois irmãos, sou o mais novo.

    Esse universo do Nordeste como um todo, esses artistas, sempre me inspiraram muito. Espedito [Seleiro] é outro, um artesão que começou fazendo bolsas e sapatos e hoje faz diversas coisas, cadeiras, móveis, etc. É um trabalho manual com couro, tingimento totalmente natural. É um processo enorme que parece muito com o meu: começa muito pequeno e vai crescendo. Ainda criança, eu fui ao ateliê dele, quando fazíamos tour por algumas cidades do Nordeste. Meu pai queria mostrar isso pra gente.

    Qual é o seu maior desejo ao trabalhar com moda?

    Cara, nos últimos dois anos eu vim entendendo que universo era esse. Apesar de almejá-lo, não entendia o que era viver isso. Quando vi, estava inserido totalmente, e ele virou prioridade na minha vida. O meu maior desejo atualmente é falar de Brasil e, talvez, ter alguma publicação, não necessariamente impressa. Eu quero fazer isso muito logo. Quero trazer pessoas de outros lugares para estarem comigo. Não quero desenvolver isso sozinho. Quero fazer muito mais direção artística do que styling. É um sonho bastante recente. Venho diluindo isso e neste ano quero fazer.

    Editorial da L'officiel Brasil, 2018 © Cortesia

    Editorial da L’officiel Brasil, 2018 © Cortesia

    Essas pessoas que você quer trazer contigo, são de diferentes áreas?

    Tenho algumas pessoas que me influenciam. A [diretora de arte] Igi Ayedum, por exemplo, é uma delas. Eu quero dar oportunidade para as pessoas que querem estar dentro desse universo, que é extremamente fechado e privilegiado, e não têm acesso tão fácil. Trazer a alma delas pra esse trabalho. Não sei como isso vai se dar.

    Aí você também está falando de representatividade.

    Totalmente! Eu acho que é muito mais sobre isso até.

    É algo que já faz parte do seu trabalho.

    Exatamente, foi algo totalmente espontâneo. As pessoas até fazem muito essa pergunta, se trabalho, por exemplo, só com modelos pretos. Não, não trabalho só com modelos pretos. O meu desejo é mostrar essas pessoas, ou seus trabalhos, pra todo mundo ver. Acho que é uma forma de a gente começar a mudar todos os cantos.

    Desfile de Victor Hugo Mattos, no Projeto Estufa, no SPFW N47 © Agência Fotosite

    Desfile de Victor Hugo Mattos, no Projeto Estufa, no SPFW N47 © Agência Fotosite

    Esse é o seu primeiro SPFW. Qual o balanço da experiência? 

    Sim, fiz Victor Hugo Mattos, que é do Projeto Estufa, e vou fazer Flavia Aranha. Ambas as marcas me convidaram na mesma semana. Me inseri 100% no universo de ambos, como em todos os trabalhos que eu faço. São histórias e pessoas completamente diferentes. Eu criei pro Victor um lugar muito emocional, porque ele também é assim.

    Já a Flavia tem uma demanda de trabalho muito maior, pois são 30 looks. É o primeiro desfile dela. É muito questionamento, muita delicadeza, tem sido um processo muito enriquecedor. Acho que no Brasil, ela é a única estilista que tem uma cadeia de trabalho muito correta. Ela respeita muito todo mundo que trabalha com ela. Estou com uma expectativa maravilhosa porque acho que vai ser um dos desfiles mais fortes. Estou muito feliz com o resultado. Ela faz uma coisa que vem de dentro da alma mesmo, é isso que ela quer mostrar pro mundo.

    O que você diria para quem quer seguir a carreira de stylist?

    A primeira, e mais importante, é entender quem é você e qual é o propósito que você tem no mundo, como profissional e como pessoa. Quando você entende isso, você consegue encontrar um lugar confortável. A segunda é estudar, ter informação, pois isso é muito importante, e todos os tipos de informação – claro que sempre tem aquelas que temos facilidade para absorver. Praticar também. Chame pessoas, fotógrafos dos mais variados, com trabalhos diferentes para você estudar junto e construir uma imagem, que é a última coisa. O que essa imagem conta? Mesmo que as pessoas possam não compreender de uma forma direta, é necessário construir uma imagem. Pra isso precisa estudar, precisa de tempo.

    Campanha da Matri © Cortesia

    Campanha da Matri © Cortesia

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