O grupo VAMO (Vetor Afro-Indígena na Moda) surgiu este ano em meio à pandemia como uma organização de profissionais do setor para trabalhar o antirracismo e fomentar a luta contra o preconceito sistêmico através de ações educativas e positivas.
O grupo começou a tomar forma em uma conversa no whatsapp e hoje tem mais de 90 participantes entre fotógrafos, estilistas, empresários, designers, jornalistas, educadores e especialistas em educação antirracista. Para funcionar de forma efetiva, o grupo tem quatro guardiões à frente, abrindo espaço, iniciando conversas e organizando ações, projetos e reuniões. São Rafa Silvério, Leticia Nascimento, Gisele Caldas e Guilherme Marques. “Somos uma associação livre, voluntária e horizontal de ação direta no fomento à equidade racial. É uma via alternativa para acelerar o PERTENCIMENTO das pessoas pretas e indígenas na moda brasileira e na sociedade”, diz Guilherme. “É importante reforçar a ideia de pertencimento pois é algo que vai além da inclusão e da diversidade, é naturalizar a presença, o protagonismo e a liderança (historicamente negadas) dessas pessoas em todas as instâncias do mercado e não apenas na exposição da suas imagens e corpos.”
O FFW conversou com o estilista RafaelSilvério sobre a importância do coletivo na descolonização de um pensamento eurocentrista que sempre esteve presente ao longo da história da moda. As imagens acima foram fotografadas por Hick Duarte e reúnem peças das 15 marcas que integram o grupo. Leia abaixo os principais trechos:
FFW: Quando e como surgiu o VAMO?
Rafael: Surgiu inicialmente depois de uma fala inflada minha em um grupo de mensagens de profissionais mistos da moda que discutem sustentabilidade. A fala se iniciou porque alguns empresários que estão dentro desse grupo queriam saber quais ações seus concorrentes prepararam para o # BLACKOUT TUESDAY.
Após minhas colocações, algumas pessoas do grupo entraram em contato comigo falando que queriam desenvolver ações afirmativas que conseguissem impactar a indústria de forma positiva. Então abrimos uma sala de Zoom com seis pessoas, sendo eu o único preto. De junho para cá, o grupo se organizou para uma atuação dentro da área da moda criando pontes e possibilidades.
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“O VAMO é um chamado pessoal que nunca tive coragem de honrar. Fui embranquecido e envenenando em prol da aceitação de pessoas brancas que nunca viram brio nos meus talentos. Aceitei o legado dos meus ancestrais que me protegeram mesmo quando não fui capaz de gerar minha própria luz.”
Rafa Silvério
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Quantas pessoas fazem parte hoje do grupo?
Somos mais de 90 VAMERs associados compondo um time interracial, espalhados por cinco estados brasileiros (SP, RJ, MG, SE, CE e PE). Mais de 15 marcas também integram o movimento (veja a lista de marcas abaixo).
Qual o propósito do grupo?
Ele nasceu para iniciar um processo reparatório na moda nacional onde pretos e indígenas possam ter ferramentas e oportunidades anteriormente negadas pela estrutura racista do mercado. VAMO é um chamado para o exercício de uma educação através da descolonização do pensamento eurocentrista e tem como objetivo criar espaços, métodos e ações equitativas que viabilizem, valorizem, empoderem e transformem a realidade e o pertencimento da população afro-indígena multi potencial na indústria e na sociedade.
Como vocês estão atuando?
Atuamos em coordenação com uma educação que possa restaurar o encontro
de pretos e indígenas com sua ancestralidade e potencializar seus talentos. Faz parte do nosso trabalho contribuir com narrativas afro-indígenas dentro do cenário de moda nacional, contribuir com condições favoráveis para o desenvolvimento de habilidades que possam ser absorvidas e atuantes no setor da moda, influenciando empresas, instituições e mecanismos de investimento em movimento reparatório. E também fortalecer eixos já atuantes no mercado visando o desenvolvimento saudável pró equidade racial.
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O VAMO ter surgido como um movimento intelectual e estratégico de pessoas, em sua maioria de cor preta, em prol de ressignificar a moda brasileira parece utópico, mas não, ao contrário. Ele tem como núcleo movimentar estruturas, e para mim, fazer parte de um movimentar de uma estrutura de forma tão potente, onde olhamos para o nosso sagrado e para o nosso passado e conseguir despertar as nossas potências pretas e pisar forte, sempre em frente, é simplesmente divino.”
Leticia Nascimento
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Tem algumas ações em andamento já?
Temos Oficinas fechadas com Senac Faustolo para março e outubro de 2021. Algumas ações educacionais estão sendo desenhadas com IED Rio e com o Fashion Revolution. E temos projetos para empreendedorismo feminino negro com o portal GE ( Garotas Estúpidas).
Quais são as frentes que estarão mais atuantes em 2021?
Para 2021, trabalharemos em dois eixo centrais: Educação Pró Equidade Racial
Promoção de Marcas e Talentos Afro Indígenas.
Como faz para quem quiser participar?
Para se inscrever para participar do movimento, é só responder a este link e nós devolveremos um e-mail informando o processo de submissão para novos VAMERS Associades.
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“Em junho deste ano, recebi um convite de uma amiga branca para integrar um grupo de combate ao racismo, onde a maioria era de pessoas brancas e dissidente de outro grupo sobre moda. Logo afirmei que não, pois estava sem paciência para ‘educar comportamentos racistas’ e estava deixando outros grupos, por justamente estar estafada e perplexa de ver tanta gente íntima e admirável sendo leviana e oportunista em pleno Black Lives Matter. Mas adentrei ao grupo, já perguntando quantas pessoas pretas lá tinham. Acabei ficando e me encontro até o momento, fazendo com que o discurso se materialize em ações e em comunhão com outros integrantes afinados.”
Gisele Caldas
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Marcas integrantes
Ta Studio
https://www.instagram.com/tastudios_
Silvério
https://www.instagram.com/silveriobrand
Lolo for Kids
https://www.instagram.com/loloforkids
Vontrapp
https://www.instagram.com/vontrapp________
Flavo
https://www.instagram.com/flavooficial
Revol Store
https://www.instagram.com/relevostore
O Verbo Etc e Tal
https://www.instagram.com/overboetcetal
Az Marias
https://www.facebook.com/azmarias
Tugun
https://www.instagram.com/usetugun
Invisivel Store
https://instagram.com/invisivel.store/
Mescla
https://www.instagram.com/mesclaroupas
Pibags
https://www.instagram.com/pibags
Ateliê Silvaia de Deus
https:// www.instagram.com/ateliesilvaniadedeus
Nana Oliveira
https://instagram.com/nana__oliveira__
Camisas Tcha
https://www.instagram.com/camisastcha
Diáspora 009
https://instagram.com/diaspora009
Aurelio Alvez Brand
https://www.instagram.com/a.alvezbrand
Ateliê Ms Vee
https://www.instagram.com/atelie_ms_vee
Mile Lab
https://www.instagram.com/mile.lab/
Opo Studio
https://www.instagram.com/use.opo/?hl=pt-br
Ficha técnica do ensaio
Fotografia: Hick Duarte
Styling: Caio Nascimento
Make: William Cruzes e Ana Paula Lima @annalimis
Cabelo: Amanda Moreno
Direção Criativa: Mayara Francolino, Caio Nascimento e Rafael Silvério
Direção de Arte: Mayara Francolino
Tratamento de imagem: Helder Bragatel
Cenografia: Manoela Moura
Produção de moda: Henrique Sanches e Letícia Verissimo
Produção executiva: Letícia Nascimento
Apoio: Avon, TexPrima Loja e Espaço Arte Africana