Uma rápida batida de olho no Instagram ou Tiktok e você pode se deparar com alguma imagem ou referência à animes e mangás Os mais populares, como Naruto – e sua sequência Boruto – e One Piece estão aí há décadas, 2001 e 1999, respectivamente, acompanharam o crescimento de diversas gerações de jovens e hoje conquistam novas gerações, tanto pela nostalgia, quanto pelos intermináveis episódios.
Outros títulos mais contemporâneos e com temáticas mais sóbrias incluem Attack On Titan – que diz sobre um mundo apocalíptico habitado por titãs carnívoros – e My Hero Academia, uma história que aborda super-heróis e um mundo fictício onde todos nascem com alguma espécie de individualidade e Kakegurui, uma das séries responsáveis por popularizar o Hime Cut.
A imagem de desenhos infantis dos animes e mangás cai por terra com um maior aprofundamento do gênero, existem, inclusive diversos animes com censura para maiores de 18 anos, extremamente gráficos e até psicologicamente pesados, o que explica seu apelo para diversas faixas etárias.
Os animes e mangás não são recentes, nem sua legião de fãs pelo Brasil e mundo, títulos como Dragon Ball Z, Sailor Moon e Pokémon eram tão populares que chegaram até a passar na TV aberta. O termo anime, se refere à animação em japonês e engloba todo tipo de criação de animação criada no país. Dessa forma, é importante diferenciar que o anime por si só não é um gênero, mas uma classificação que começou a se popularizar por volta dos anos 80 no Japão. Os primeiros animes, ou seja, animações criadas no Japão, aconteceram nos anos 40, mas as primeiras produções que se assemelhavam aos modelos de animes que conhecemos hoje podem ser traçadas de volta para a criação de Astro Boy (1963).
ANIMES E CULTURA POP atual
Nos dias de hoje, entre dois à quatro bilhões de pessoas assistem a animes ao redor do mundo, mais de 33% dos Japoneses consomem o gênero no país e quase 20% dos estadunidenses assistem às produções japonesas, segundo o Voice Of Action.
Com tantos espectadores, o estigma ao redor do Otaku, como são chamados os superfãs de animes, algo como o que os geeks estão para os quadrinhos, têm diminuído e as pessoas estão cada vez mais dispostas a se mostrarem fãs das tradicionais animações e quadrinhos japoneses. Afinal, se Megan Thee Stallion pode usar uma camisa do Naruto e sentar ao lado de Anna Wintour na primeira fila de um desfile, por que você também não pode?
Megan Thee Stallion é fã assumida de animes e mangás, em uma de suas primeiras canções, ‘Girls In The Hood’, ela menciona transar enquanto assiste animes e o Sasuke, um dos principais personagens de Naruto. No ano passado, a rapper lançou uma coleção colaborativa com a Crunchyroll, um dos maiores streamings de animes.
No Brasil, Pabllo Vittar também adora as animações japonesas e já referenciou o estilo icônico da guardiã galática Sailor Moon em diversos de seus looks, inclusive no clipe de Modo Turbo, com Anitta e Luisa Sonza.
A guardiã estelar Sailor Moon, um dos personagens mais historicamente icônicos dos animes e mangás também é figura marcada na moda, maquiagem – e fantasias – até os dias de hoje. As transformações do look colegial para o look guardiã são marcadas na cultura e reproduzidas e reinterpretadas em diversas produções, de filmes a videoclipes.
Os figurinos dos personagens da série são elogiados até hoje é alvo de análises de moda no TikTok, pelos ‘moonies’ – como são apelidados os fãs mais jovens da produção – e o anime é elogiado por ser progressista no que tange aos looks masculinos e femininos, sem grande distinção de gênero. Sailor Moon é uma animação tão marcante na cultura pop mundialmente, que a marca de maquiagem Colour Pop tem uma collab extremamente bem sucedida de maquiagens com o anime. Além disso, a Netflix prepara um remake do anime, que deve estrear em breve.
ANIMES E A MODA
Quando o assunto é moda e animes, uma das primeiras coisas que pode vir à cabeça é a estampa da Akatsuki, legião antagônica do anime Naruto: o fundo preto com nuvens em vermelho tem estampado desde os sobretudos – usados pelos personagens na série – até camisetas e shorts e já chegou até ao fast-fashion. Ou a jaqueta vermelha do personagem Kaneda, do filme AKIRA – look aprovado por Kanye West e um dos mais lembrados dos animes.
Mas essa é só a ponta do iceberg.
As relações entre moda e anime sempre permearam, de alguma forma, esse universo. As distintas roupas dos personagens nas animações marcaram gerações e a adoração pelo gênero fez surgir os cosplayers, fãs que se vestem dos personagens e se apresentam – ou não – em festivais de animes e mangás. Posteriormente, as roupas dos animes e mangás começaram a inspirar o próprio streetstyle japonês e fomentar o estilo de diversos grupos sociais no país. Em ruas e distritos como Harajuku e Shibuya, a moda excêntrica dos jovens japoneses ficou famosa no mundo todo, registrada por perfis como o Tokyo Fashion.
Naturalmente, o ato de se vestir como personagens de anime e mangás deixou de ser necessariamente um cosplay e foi se diluindo, tendo seu estilo incorporado de formas mais palatáveis no estilo dos fãs e espectadores, de diversas formas.
Sempre atenta às novidades e com olhos virados para o continente asiático, a moda logo tratou de se associar aos animes através de colaborações e referências. A marca japonesa Undercover, do designer Jun Takahashi, lançou uma colaboração (que quase parecia um cosplay) com o anime Neon Genesis Evangelion, desfilada no ano passado, na temporada de Inverno 2021. Por sua vez, Yohji Yamamoto também se uniu ao anime Ghost In The Shell para uma série de produtos colaborativos recentemente.
Só neste ano, vimos Gucci x Crunchyroll para uma colaboração intitulada Banayna; vimos uma collab da Loewe com o filme Meu Vizinho Totoro, uma das mais famosas animações do Studio Ghibli, e a GCDS desfilar uma coleção com peças inspiradas em One Piece na semana de moda de Milão, que foi posteriormente usada por Dua Lipa.
O crescimento da potência do continente asiático – principalmente na última década – também pode ser um dos fatores que explica o crescimento vertiginoso das influências culturais asiáticas no Oeste global. Dentre o crescimento da China e interesse crescente da moda no país e o Kpop, é fácil compreender que por seu lado, os animes e mangás – um dos principais produtos culturais japoneses – também teriam seu momento de destaque.
Talvez, algo que nos atraia na moda dos animes e mangás é o desprendimento da vida real e a não-necessidade de seguir os moldes ou limitações físicas das roupas. Nos animes, as roupas, fios e lenços flutuam, brilham e cintilam para dar luz à fantasia dos personagens que, muitas vezes ambientados em locais fictícios, vivem uma fantasia fashion que somente podemos imaginar fora mundo real.