Na SPFW edição 52 que se encerrou no último dia 21.11, a diversidade esteve mais em pauta do que nunca e a beleza indígena também ganhou destaque. Desde o acordo firmado entre o coletivo Pretos na Moda, de Natasha Soares e a São Paulo Fashion Week, o evento passou a garantir que todas as marcas tenham um casting de pelo menos metade dos modelos racializados.
Enquanto na temporada digital de maio – com vídeos e fashion films – essa presença se tornava um pouco mais difícil de mensurar, nos desfiles presenciais recentes isso ficou mais claro. Modelos indígenas que já vinham ganhando notoriedade nas redes sociais se destacaram, acumulando diversos desfiles nesta temporada da volta dos desfiles físicos. Muitos deles, descobertos recentemente, também estrearam no evento em um momento chave: o retorno das passarelas e o maior número de modelos indígenas da história.
Um dos principais destaques foi Noah Álef (Way Model). O modelo de 20 anos é natural de Jequié, no interior da Bahia, e de origem Pataxó. “Estou muito feliz e realizado, foi um sonho pra mim desfilar na maior passarela da América Latina e fazer cinco grandes desfiles de marcas que admiro. Não consigo nem explicar essa grande emoção, é só felicidade.” conta Noah. O modelo estreou oficialmente nas passarelas – apesar de já ter realizado um bom número de projetos comerciais e editoriais – e desfilou para João Pimenta, Ponto Firme, Misci, Handred e Isaac Silva nesta temporada.
“Fico muito feliz ao ver outros indígenas representando a beleza originária e poder ser um deles. Espero que isso continue evoluindo e que a gente consiga ver mais rostos e belezas originárias no mercado da moda e nas passarelas” conta o modelo.
Outro destaque é Emilly Nunes (Prime MGT), de Belém do Pará, que tem ascendência indígena da aldeia dos Aruans. “É a minha terceira temporada no SPFW, mas por ser a primeira presencial foi ainda mais emocionante, especial e marcante!” conta, a modelo não é exatamente novata aos circuitos da moda, e já acumula trabalhos, editoriais e capas de revista até internacionais, mas ocupou lugar de destaque nesta edição SPFW. Além de desfilar para Torinno e Ateliê Mão de Mãe, Emilly foi uma das musas de Airon Martin na Misci, ao lado de Sasha Meneghel, ambas com duas entradas.
“Fico extremamente feliz em ver meu povo e outras minorias ocupando espaços, ainda que, por enquanto, não seja o bastante. Representatividade é muito importante! Que mais de nós também tenham essa oportunidade, seja na frente ou por trás das câmeras.” afirma Emilly Nunes.
Karen Brasil (Way Model), outra modelo de origem indígena, de Manaus, também desfilou pela Misci. “Fico muito feliz que os traços indígenas estão sendo valorizados.
Quando eu era mais nova, nunca tinha visto modelos indígenas ou descendentes.
Fico feliz que a beleza brasileira esteja sendo valorizada. Essa foi a minha primeira vez desfilando no SPFW presencialmente. Senti uma energia surreal de estar ali, ao lado de outros modelos incríveis que eu já acompanhava e admirava.” conta a modelo.
Zaya (Ford Models), uma das integrantes do coletivo Indígenas da Moda e ativista da causa indígena no Brasil, também estreou na semana de moda. “Estrear nas passarelas físicas foi uma experiência incrível e um marco para a moda no Brasil, ter pela primeira vez não uma mas várias mulheres indígenas nas passarelas da SPFW. Eu senti como se tudo fosse possível quando pisei na passarela” conta Zaya.
A modelo, natural de Porto Velho (RO) nascida e criada nas aldeias do povo da etnia Guarani Mbya, já havia participado do fashion film de Isaac Silva na última edição digital, fez seu debut nas passarelas físicas também pelo estilista nesta edição. “Essa edição foi a que mais vimos pessoas pretas e indígenas, também graças à Natasha Soares. Por muito tempo a sempre viu um padrão eurocêntrico nas revistas e chegou o momento de quebrarmos esses padrões e valorizarmos os povos originários e a nossa ancestralidade” conta, “É muito confuso no Brasil falarmos de diversidade e não entregarmos isso de verdade, às vezes uma modelo tem que fazer sucesso lá fora, com uma estética brasileira, para ser valorizada nacionalmente” finaliza Zaya.
“Queria que meu avó estivesse aqui para ver tudo que estamos conquistando” conta Dandara Queiroz (Mega Model). Com desfiles para Lilly Sarti, Ponto Firme, Apartamento 03 e Lenny Niemeyer, Dandara também é uma das novas belezas indígenas para ficar de olho. Natural de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, Dandara já tem carreira como Miss, mas estreou nas passarelas físicas somente neste ano, um pouco antes da SPFW, com desfiles para o Brasil Eco Fashion Week e para a marca Água de Coco.
“Estar na SPFW era um sonho e eu achava que eu nunca iria conquistar algo assim. Fico muito grata, nesses momentos a gente sempre lembra do quanto foi árdua essa subida.” conta a modelo “Até hoje é difícil eu saber minha etnia ao certo, porque meu avó tinha muita vergonha em ser indígena, pelo preconceito, e escondia isso, então poder ocupar esses espaços é muito importante para mim. Muitas pessoas vieram me agradecer após o desfile e dizer que antes se sentiam invisíveis e que agora tem se sentido mais vistos e lembrados. Não é uma conquista só minha. ” finaliza Dandara.
A modelo Sumé Yina (JOY) também trouxe representatividade trans e indígena à programação do evento. Nascida no Rio de Janeiro, a jovem de 24 anos debutou na carreira e no SPFW na apresentação digital da Mnisis: “busco a incorporação da diversidade de gênero e de possibilidades mais livres de atuação na moda e na arte”, conta.