Não seguir tendências faz as marcas perderem a relevância nos dias de hoje?
Qual o limite entre repetição e ser fiel a uma assinatura e, de quebra, conseguir sobreviver em meio a tantas tendências (cada vez mais efêmeras)?
Não seguir tendências faz as marcas perderem a relevância nos dias de hoje?
Qual o limite entre repetição e ser fiel a uma assinatura e, de quebra, conseguir sobreviver em meio a tantas tendências (cada vez mais efêmeras)?
Vivemos em um momento em que a roupa em si não se basta. Para a uma coleção alcançar alguma relevância precisa ser produto de uma ação de marketing gigante, acompanhar desejos megalomaníacos ou se encaixar perfeitamente no “core” da vez – já que como percebemos o core tem uma vida útil ainda menor do que uma tendência (expressão que atualmente causa mais dúvidas do que entrega respostas).
Mas me pergunto: e as marcas que não dão o braço a torcer e conseguem driblar tudo isso (mecanismos, algoritmos, efemeridades)?
Ao refletir sobre conseguimos elencar alguns nomes e exemplos com facilidade. Se você precisar de uma camiseta branca, lisa, de algodão e decote careca, invariavelmente, você vai pensar na Hering – marca que após rebranding e de se auto proclamar “o básico do Brasil”, voltou a um lugar cativo sendo realmente sinônimo de essenciais.
Em uma entrevista recente o designer norte-americano de raízes iranianas, Mike Amiri ponderou: “estéticas na moda vão e voltam, mas quando você cria uma marca e se baseia em outros princípios, que não apenas na efemeridade, não importa se a tendência vai ser calça baggy ou skinny, as pessoas voltam porque a marca tem força. Por que é preciso proteger sua marca para além disso, garantir a sua longevidade para além desses ciclos”. A citação que, em um primeiro momento pode até soar como uma frase de coach, tem sentido – não à toa a Amiri vem se expandindo a passos largos e tendo até o CEO que já foi da Burberry por trás.
No mercado de luxo com marcas de apelo global isso se repete e acaba sendo um tanto mais fácil manter-se fiel ao seu “DNA”, assinatura e, claro, estilo.
Quem melhor do que Hedi Slimane para ilustrar isso? O diretor criativo conseguiu imprimir seus códigos em todas as marcas que passou, apesar de ser ultra converso, Saint Laurent, Celine e lá nos idos dos 2000, a Dior Homme, todas cederam ao seu olhar rocker-grunge-skinny jeans-1990s. Sem rodeios, o motivo sempre foi o mesmo: sucesso comercial.
Apelidado de “Maestro”, Giorgio Armani também não olha para além dos muros que criou em seu império. A alfaiataria bem cortada, os ternos marinhos, os cinzas e a silhueta minimalista se perpetuam coleção após coleção.
E para quem acha que isso se limita apenas a nomes tradicionais, mero engano. Rick Owens acumula ao longo de sua carreira reviews em que seu trabalho é tido como “um tanto auto-referente”, o que jamais influenciou seu processo criativo. Ao ver um desfile de Owens é fácil reconhecê-lo e este é um dos seus maiores triunfos.
A Lemaire, que tem por trás o Christophe Lemaire e Sarah-Linh Tran, se firmou como a detentora do estilo francês e urbano, sem afetação – ali não estão novas tendências ou styling inventivo, mas fideliza.
A própria Levi’s responsável por universalizar o denim nos mostra que nem tudo é tendência. A moda não se limita a lançar peças que se adequem ao algoritmo ou trend da vez.
Se deslumbrar ou fascinar é necessário, mas essa é apenas uma das facetas. Ser consistente não quer dizer que uma marca ou designer seja repetitivo, já que nem sempre a fantasia é o que nos preenche – seja ao buscarmos uma camiseta ou uma roupa especial para um evento único.