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    Qual espaço o luxo ocupa com exclusividade?

    Em sua segunda coluna para o FFW, Bia Nardini reflete sobre as fronteiras cada vez menos claras entre o luxo e o fast fashion.

    Clare Waight Keller apresenta sua coleção para a Uniqlo

    Qual espaço o luxo ocupa com exclusividade?

    Em sua segunda coluna para o FFW, Bia Nardini reflete sobre as fronteiras cada vez menos claras entre o luxo e o fast fashion.

    POR Redação

    Por Bia Nardini

    Em setembro de 2024, enquanto as marcas mais exclusivas e requisitadas desfilavam suas coleções primavera 2025 ready-to-wear nas capitais da moda, uma matéria que disseca a estrutura de trabalho clandestino na moda ganhou espaço. Ofuscada por todo o glamour que acontecia em paralelo, dessa vez a escrita não descrevia o mercado de massa, mas sim o mercado de luxo, com destaque para Dior e Armani. Apesar das fiscalizações e preços elevados, não é de hoje que marcas desse porte se envolvem em polêmicas que colocam em cheque o discurso de valorização da mão de obra.

    Durante o mesmo período uma notícia chama a atenção: Clare Waight Keller assume a direção criativa da Uniqlo. A designer que construiu carreira em marcas como Givenchy e Chloé, agora, lidera a rede japonesa reconhecida por seus produtos básicos com preços acessíveis. Vale ressaltar que essa não é a primeira aproximação da empresa com o luxo, ao longo dos últimos anos lançou colaborações com marcas e designers como: Marni, Jil Sander e JW Anderson.

    Posicionamentos como esse não são raros desde que a primeira colaboração entre o mercado de massa e de elite aconteceu em 2004, Karl Largerfel x H&M. Desde então, a marca sueca – que em breve abrirá sua primeira loja no Brasil – também trabalhou com Roberto Cavalli, Versace, Balmain, entre muitas outras. Assim, começamos a enfrentar a mesma aproximação acontecendo na Zara, que apenas no ano de 2024 juntou forças com Steven Meisel, Stefano Pilati e Harry Lambert, e já anunciou sua próxima colaboração que, agora, não será pontual, a SR_A Engineered by Zara. Nessa proposta, o designer britânico Samuel Ross, fundador da marca A-COLD-WALL*, assinará coleções masculinas que serão lançadas duas vezes por ano, como uma linha de maior valor agregado.

    Assim, os limites entre esses segmentos da moda vão se transformando em um grande borrão que estremece os cinco pilares que sustentam o luxo: qualidade, exclusividade, design único, herança de marca, origem do produto e experiência do consumidor.

    Qualidade: 

    De tempos em tempos o fashion tiktok estremece com alguma polêmica que envolve peças de luxo e qualidade indesejada. Costura abrindo, fecho solto, ferragem desbotada, entre outras reclamações que prejudicam não apenas a imagem da marca em questão, mas também  a ideia de que essa categoria apresenta a melhor qualidade disponível no mercado de moda.

    Exclusividade:

    É fato que quanto mais caro o produto, menos pessoas têm acesso a ele, mas a produção excessiva somada ao aperfeiçoamento das falsificações, faz com que os itens sejam frequentemente vistos no físico ou no digital, perdendo sua fama de produto escasso, exclusivo, especial. 

    Design único:

    Recentemente uma imagem viralizou, nela vimos diversas bolsas de palha semelhantes, uma de cada marca de luxo diferente. Celine, Balenciaga, Loewe, Givenchy, Ferragamo, Prada, marcas que antes criavam influenciando o resto da indústria, hoje replicam designs entre si e mergulham em tendências de forma agressiva, característica das fast-fashions.

    Herança de marca:

    Aqui encontramos um ponto importante. Grandes nomes dessa indústria demoraram anos para se consolidarem, transformaram a moda, fizeram história, algo que difícil de ser atingido, mas que pode ser apropriado. Como assim? Marcas de massa não apresentam o mesmo prestígio e dificilmente vão conquistá-lo, mas elas podem se associar a nomes que já o possuem, absorvendo esse reconhecimento.

    Origem do produto:

    Quando falamos de mercado de luxo nos deparamos com os famosos made in’s – Made in Italy, Made in France, Made in England. Países que ganharam reconhecimento ao longo de anos agregando valor ao produto final. Nessa questão, a problemática está na falta de transparência da indústria, uma vez que ela permite que essa sinalização se paute apenas no local de finalização do produto e não em todas suas etapas. O que diferencia um produto de fast-fashion feito ao redor do mundo de um produto de luxo feito no mesmo local, mas finalizado na França?

    Experiência do consumidor:

    Antigamente, muito se falava sobre o champanhe ou o cafézinho servido no momento da compra em uma loja de luxo. Hoje muito se fala sobre as filas nas portas e o julgamento por parte dos atendentes que vão definir se e o que te será oferecido, do bem estar ao  produto. A experiência não deixou de existir, mas está cada vez mais incerta para aqueles que não são clientes assíduos.

    Ainda assim o luxo continua sendo valorizado, desejado e enaltecido, uma vez que seu peso está diretamente associado ao posicionamento das pessoas em meio a uma sociedade que preza pelo ter e parecer – em especial no digital, o que não faz com que o mercado fast-fashion deixe de ser visto com novos olhos. Dessa forma, a estrutura se mantém em pé, mas começam a surgir rachaduras que permitem uma reformulação das intenções. Enquanto marcas da base da pirâmide ganham diretores criativos, deixam evidentes as suas identidades e colaboram com profissionais admirados, marcas do topo buscam faturamento enquanto se apoiam em um passado que, talvez, não será o suficiente a longo prazo.

    O que sustentará o luxo em 10 anos, se não a história que fizeram ainda no século XX?

    *Os artigos de opinião não refletem necessariamente a posição do FFW.

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