“Essa não é uma coleção que se comunica com todo mundo, como no prêt-à-porter. É algo muito especial feito para pessoas com um estilo de vida igualmente especial”. Assim Karl Lagerfeld descreveu a coleção de Alta-Costura da Fendi, desfilada este mês em plena Fontana di Trevi, em Roma.
Por hora vamos deixar de lado o lifestyle das pessoas que podem consumir essas peças e focar em outro tipo de riqueza: a criatividade e habilidade do estilista e seu time na hora de pensar essas roupas tão especiais.
Se por um lado a Alta-Costura se aproxima cada vez mais do estilo do prêt-a-porter, por outro, ela é ainda um laboratório, um território para experimentações e escapismo, duas palavras sem muito lugar na moda desde os anos 90 e as criações lúdicas de Marc Jacobs, dramáticas de McQueen, teatrais de Galliano e experimentais de Helmut Lang e Martin Margiela.
Em um momento em que as coleções estão cada vez mais pragmáticas, a relevância da Alta-Costura é questionada por ser um segmento de tamanha exclusividade que parece não caber mais nesse modelo de mundo. Porém, é durante essa temporada quando os estilistas podem ser livres, ousar, vender sonhos impossíveis e degustar novas ideias que depois podem ser colocadas em prática de maneiras mais comerciais.
Na Alta-Costura, os ateliês usam suas maiores habilidades técnicas e criativas, posicionam as marcas em termos de inovação, expertise, supremacia artesanal e criativa. É o momento em que os estilistas podem experimentar e realizar ideias que seriam impensáveis em uma coleção normal. Com budgets enormes para desenvolver tecidos, texturas, estampas e uma equipe de artesãos que pode levar mais de mil horas bordando uma única peça à mão, o céu é o limite – tanto para quem cria quanto para quem compra. É uma obra de arte ou uma joia que se pode vestir.
É um mundo que se divide entre a fantasia e o futuro. Nas passarelas, vemos as mais divinas noivas, princesas, fadas, Guineveres ou seres mais misteriosos que um dia ainda irão habitar esse planeta com suas roupas vestidas ao contrário ou decoradas com vidro.
Essa capacidade em modo full é totalmente inspiradora para toda a indústria da moda por suas experimentações e inovações técnicas, empurrando o mercado pra frente. Para o público, ela alimenta o sonho, o êxtase e a nossa capacidade de delírio e de sermos arrebatados por algo verdadeiramente raro e especial.
Abaixo, selecionamos alguns desfiles mostrados na temporada de Inverno 16:
Chanel
Um desfile-homenagem ao ateliê de Alta-Costura da Chanel, que mostra a supremacia do trabalho manual com bordados impressionantes, como o floriform, que formam motivos florais ou as aplicações com pedras preciosas e acabamentos em rubis e esmeraldas, verdadeiras roupas-joias. No desfile que dizem que pode ser o último de Lagerfeld, ele experimenta mais com a modelagem e construção.
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Fendi
Para comemorar seus 90 anos, a casa italiana olhou para os contos de fada e fez roupas de princesa para serem usadas por princesas da vida real. Vestidos de renda branca com aplicações de dezenas de flores feitas e cortadas à mão, capas e casacos de pele com desenhos criados pelo tingimento ou peças que têm efeito mosaico feito por pequenos quadrados que levaram 1.200 horas para serem costurados integram essa, que foi uma das coleções mais especiais de Lagerfeld para a Fendi.
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Iris van Herpen
Uma das estilistas mais inventivas e inovadoras de sua geração, a holandesa Iris van Herpen se aprofundou ainda mais no uso de técnicas e materiais não convencionais para causar o efeito que vemos nas peças. Ela usou uma organza japonesa cortada de maneira que fica cinco vezes mais fina que um cabelo humano, fez vestidos feitos com camadas de silicone e decorados por cristais encapados por cola de vidro. O ponto alto fica por conta da evolução dos plissados, que tomam formas elaboradas e enganam o olhar: as linhas, na verdade, são retas, mas a forma como o plissado é feito dá a sensação de curvas. O desfile é uma experiência em 3D.
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Atelier Versace
Donatella trouxe uma nova ideia para a marca, deixando de lado suas glamazons para mostrar seu exercício com drapeados como principal elemento de construção das roupas, criando uma nova silhueta para a Versace. Lindo também o trabalho com degradê de paetês bordados à mão que parecem escamas.
+ Veja a coleção completa da Atelier Versace
Giambattista Valli
Sempre um dos hot tickets da semana de couture, Valli é o número um na hora de vender o sonho que habita o imaginário da Alta-Costura. Vestidos de contos de fada para princesas modernas que usam mangas super volumosas e acabamentos em diamante.
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Maison Margiela Artisanal
Em um dos desfiles mais inventivos da semana, John Galliano volta às suas raízes e mostra uma construção experimental, começando pelo primeiro look, um vestido usado de cabeça para baixo. O estilista encontra novas maneiras de criar formas e volumes, reutilizando materiais como plástico e nylon, resultando em uma coleção não comercial à primeira vista, mas altamente impactante e que, como Margiela, questiona os padrões do que é bonito.
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Valentino
Esse foi o último desfile de Maria Grazia Chiuri, que dirige a marca em parceria com Pierpaolo Piccioli – ela segue para a Dior. Suas coleções são sempre um show à parte, trazendo inspirações e riquezas de outras épocas, como o período elisabetano (1558 – 1603) desta temporada, considerado a era dourada da história da Inglaterra, com o surgimento de escritores como Shakespeare. Dos seus contos, saíram ideias para esse desfile poético, com bordados maravilhosos e vestidos inteiros encrustrados por mini pérolas, além de um trabalho profundo com modelagem e volume.
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Elie Saab
Segundo sites especializados, esta foi uma das coleções de Alta-Costura mais caras de Elie Saab, estilista acostumado a ter suas roupas usadas por estrelas em eventos de red carpet. Saab é expert em criar roupas que são joias, com alto nível de decorativismo feito por bordados manuais em tules, rendas e sedas. Fartura de plumas, penas, cristais e pedras preciosas, em vestidos com movimento e transparência, às vezes tudo junto em um mesmo look.
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