Acostumada a tomar a internet e as redes com suas peças que viram hits instantâneos, a Vetements se viu em uma situação incomum nesta semana. O site Highsnobiety, que cobre a cultura streetwear, publicou um artigo com a chamada: “Dois após anos terem quebrado a internet, parece que ninguém mais compra Vetements”.
A matéria assinada pelo jornalista Alec Leach é construída sobre fortes aspas de fontes anônimas que sustentam o fato de que a Vetements já era. “Do ponto de vista do varejo, a marca está completamente morta”, diz o buyer de uma multimarcas americana. Outras pessoas ouvidas pela reportagem falam que as principais ideias de Demna Gvasalia vão parar na Balenciaga, onde também é diretor criativo, e citam também os preços altíssimos, dizendo “que o consumidor não é estúpido para pagar mil dólares em uma camiseta”.
Como se trata de uma das marcas mais hypadas dos últimos anos, a matéria virou notícia nos veículos especializados e tem dividido opiniões.
CEO da Vetements, Guram Gvasalia, acusou o site de publicar fake news. “Infelizmente, alguns jornalistas hoje estão mais preocupados em escrever notícias falsas com títulos chocantes do que checar os fatos e mostrar o panorama completo. É frustrante ver jornalistas de moda atacarem marcas independentes enquanto puxam o saco dos grandes conglomerados pra entrar em seu budget de anúncios. Agências de notícias sérias parecem estar virando tabloides e blogs de fofoca que publicam histórias fabricadas como notícias verdadeiras”, escreveu em um comunicado. “Para a decepção de todos os haters, nós gostaríamos de declarar que a Vetements está mais forte do que nunca, criativa e financeiramente. Nós, definitivamente, não vamos sair do mercado e as especulações sobre nossas vendas não são apenas falsas, mas simplesmente ridículas”.
Demna usou o Instagram para se pronunciar:
De uma forma geral, a indústria foi rápida em mostrar seu apoio à Vetements. Compradores de lojas como MyTheresa, Saks, The Webster, Harrods e Jeffrey New York rapidamente forneceram aspas e informações que contradizem a matéria do Highsnobiety. Um porta voz da Jeffrey New York até revelou valores ao WWD, dizendo que a loja vende entre US$ 350.000 e US$ 450.000 em produtos da marca por ano.
Por não revelar nenhuma fonte sequer nem procurar a Vetements para um comentário, o artigo do site ficou parecendo um ataque pessoal. Procurados para comentar a declaração de Gvasalia, o Highsnobiety enviou à imprensa o comunicado abaixo:
“A Vetements não está imune às lutas enfrentadas pelas marcas independentes, mas o que estamos analisando é sua capacidade de sustentar o hype e a relevância para um público jovem e antenado. Embora seja impossível quantificar o quanto a marca é relevante no streetwear, notamos um declínio acentuado de peças Vetements em nossa cobertura global de estilo de rua, e os compradores com quem falamos, muitos dos quais trabalham em lojas menores e independentes, geralmente confiam na força de uma marca para ajudar na curadoria de seus produtos. A partir do momento em que uma marca como a Vetements acaba nas prateleiras de varejistas maiores e mais tradicionais, mostra que sua autenticidade foi percebida. Enquanto a Vetements está longe de estar morta, para muitos na indústria – especialmente o mercado seletivo que atendemos – ela está acabada”.
Aqui é importante destacar que este é o ponto de vista de um nicho, aquele que tem acesso à informação antes (no caso, em relação à cena streetwear). Eles ficaram sabendo da Vetements em seus primeiros momentos, divulgaram e celebraram a marca em seu início, quando era vista como disruptiva. Mas a partir do momento em que até Celine Dion passa a comprar seus moletons, para esse público específico, a marca acabou.
Muitas vezes, essa é a trajetória normal de uma marca. Nasce no underground, vira buzz, passa a ser desejada, cria demanda, chega ao mainstream. E a partir daí, perde um perfil de consumidor e ganha outro.
Então, apesar de sua popularidade, particularmente no segmento de luxo, a sustentabilidade das marcas streetwear será naturalmente questionada pelos veículos que cobrem essa categoria.
Mas vale notar que o que aconteceu com a VTMNTS é uma história que deu certo: um coletivo jovem que sai da periferia de Paris para o centro da moda, trazendo, com sucesso, a linguagem e autenticidade do streetwear para o segmento de luxo. E eles mudaram muita coisa nesses últimos anos, especialmente a rota da moda. Também trouxeram ironia, questionaram estéticas, transformaram o feio em hype e contestaram os calendários da moda.
O fato dela ter se tornado uma marca “comercial” é um sucesso ou um problema? A marca estar sendo comprada por pessoas que não estão nem aí pro streetwear e só querem mesmo um moletom de unicórnio (por R$ 3 mil reais no Matches Fashion) é uma vitória ou uma preocupação? Não tem o certo e o errado, e sim dois pontos de vista.
Mas convenhamos que, criativamente, a Balenciaga sob direção criativa de Demna, parece estar hoje à frente da Vetements. Certamente ela exige mais do estilista e parece mesmo que suas melhores ideias vão parar na maison. Se ele quiser se manter relevante tanto para o grupo formador de opinião quanto para o público que compra a tendência, Gvasalia tem que olhar para a Vetements tentando reencontrar o amor e a paixão em um longo casamento: sempre como se fosse a primeira vez.