A resposta para a pergunta do título acima é quase automática: claro que sim. Um dos nossos instintos mais primitivos e naturais, tudo passa pelo sexo, já diria Freud, então por que não apelar para ele também no momento da sedução capitalista? A estratégia é antiga, quase tão antiga quanto a tal “profissão mais antiga do mundo”, se naquela época já existissem outdoors. Neles, a Calvin Klein exibiu no que hoje parece ser o Egito Antigo da publicidade de moda suas primeiras propagandas bombásticas do ponto de vista sexual quando, em 1981, lançou a campanha com a atriz Brooke Shields e o indefectível slogan: “You want to know what comes between me and my Calvins? Nothing”.
Mais de 30 anos depois, a fórmula provocação + sexo ainda parece surtir efeito na publicidade de moda. Os tempos mudaram, os veículos de divulgação das mensagens das marcas também. Se na época da eterna ninfeta do filme “Lagoa Azul” (quando fez a propaganda tinha 16 anos, o que também geraria polêmica hoje) ela aparecia na televisão e em fotos impressas, no século 21 as campanhas são interativas e circulam no Instagram, Facebook e Youtube. A abordagem sexual também é outra.
Quem – com idade suficiente para já ter memória dos anos 90 – não se lembra de Kate Moss e Mark Wahlberg seminus, só de (respectivamente) calcinha e cueca agarrados numa foto em preto e branco que anunciava a famosa linha underwear da Calvin Klein, em 1992? Na última estação, Lara Stone e Justin Bieber reinterpretaram a clássica imagem de Kate e Mark para a grife. Na mais nova edição da campanha #MyCalvins, em que celebridades e modelos aparecem em fotos com a frase “I …. in my Calvins”, completada de diversas maneiras, o apelo sexual foi elevado a um novo patamar. O dos millennials, talvez?
Num passado recente, as imagens mais sexy e impactantes envolviam uma sugestão de relação sexual, seja entre um homem e uma mulher, entre duas mulheres, dois homens, um ménage, uma orgia. Mesmo o fetiche com contornos de perversão que ganhou o mundo na época da Gucci de Tom Ford, reiterado pela então editora da Vogue Paris e também stylist Carine Roitfeld, com a letra “G” depilada na virilha de uma campanha da grife no início dos anos 2000 sugeria uma interação e a iminência do ato sexual em si. Em muitos casos, havia essa ideia do homem, o “macho alpha”, seduzindo a mulher. Já na recém-lançada campanha da Calvin para a Primavera 2016, batizada de “Erotica”, a relação é totalmente individualizada, solitária, narcisista. É o sexo nos tempos da selfie.
Kendall Jenner aparece com uma grapefruit cortada no meio sugerindo a forma de uma vagina com a frase embaixo: “eat in #mycalvins”. Depois, a modelo com cinco milhões de seguidores no Instagram aparece em várias fotos bem similares dela mesma. Em outro momento, uma imagem tirada de baixo foca na calcinha e no contorno do sexo da modelo, com cara de foto amadora. E tem até uma “belfie”, selfie de bunda (?!), com a calça vestida ao contrário, revelando metade do derrière.
As imagens não destoam em nada do estilo da Calvin Klein e até reinterpretam o espírito de suas campanhas antigas e famosas. Agora, porém, o foco parece mais na ideia da sedução como instrumento de vaidade do que para fins sexuais. Trata-se de uma mensagem de hedonismo, de fazer sexo com você mesmo, mais do que com o (s) outro (s). O seu corpo, a sua beleza e sua sensualidade são admirados por você mesmo, registrados em suas próprias fotos. Em tempos individualistas e exibicionistas de mídias sociais, deve vender como pau de selfie.