Rick Owens continua sua exploração estética e narrativa com a versão feminina da coleção ‘‘Concordians’’, reafirmando os códigos que apresentou na masculina em janeiro. Ambas as coleções compartilham uma base conceitual sólida: a relação íntima do designer com Concordia, a pequena cidade industrial italiana que produz suas roupas há mais de duas décadas.
Assim como na coleção masculina, o couro é o grande protagonista, trabalhado em texturas que vão de cortes ultrafinos – o ‘‘spiky leather’’ das botas que virou um traje só reforçando a estética e a agressividade do material – a franjas longas e em movimento. O mesmo princípio tátil surge no jeans, tratado com ceras e camadas que criam um efeito desgastado quase escultórico.
Se na coleção masculina a trilha de David Bowie remetia à melancolia de um deslocamento constante, na feminina, agora “Mass Production”, de Iggy Pop traz uma energia crua e industrial que se reflete nas silhuetas alongadas. Ombros destacados, casacos acinturados por amarração e jaquetas de couro com golas altas criam uma estética poderosa, enquanto peças como as calças que poderiam ser saias (ou vice-versa) brincam com a dualidade de forma e função. A pegada utilitária também se mantém, com zíperes, ilhoses, amarrações e um destaque para botas que evocam polainas. Mas há nuances específicas na versão feminina: o brilho surge pontualmente em peças estratégicas, e bombers cropped de couro ampliam o jogo de proporções.
No fim, “Concordians Women’s” não apenas expande as propostas apresentadas na masculina, mas reforça a obsessão de Owens por uma moda que é, acima de tudo, um universo próprio, distópico, hipertexturizado e essencialmente seu. E dessa vez menos chocante, afinal ele quer, e precisa vender.