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    Conheça a PC Music, nova vertente do eletrônico que vai conquistar o Pop Mainstream
    Conheça a PC Music, nova vertente do eletrônico que vai conquistar o Pop Mainstream
    POR Redação

    Por *Apolinário, em colaboração para o FFW

    Conhecido por suas caracteristicas de reinvenção, o pop – em uma metáfora simplista – é uma espécie de réptil, em fluxo contínuo de troca de pele, resultando sempre em uma nova e similar camada de escamas. Em um vai-e-vem editorial, a cena pop mundial já passou por inúmeros gêneros como o Eletro, Rock e o R’n’B. Desta balbúrdia cacofônica, constrói-se , de forma singular, alguns movimentos em um arquétipo saudosista, como a PC Music e sua releitura acelerada trance dos sintetizadores e agudos de Baby Girl, do Acqua e até o bassline chiclete de “What is Love”, do Haddaway.

    Levando aos extremos a música pop, o londrino AG Cook pegou suas espátulas e fundou o selo PC Music – que tornou-se a #tag para o estilo – em 2013, povoando o Soundcloud com uma quase claustrofóbica sucessão de espumantes composições dance-pop. As produções do selo são creditadas a um grupo variado de artistas, como Hannah Diamond, GFOTY, Life Sim, Spinee, Kane West, Lil Data e o açucarado Danny L. Harle, que juntos fazem da PC Music um software altamente sofisticado com batidas e melodias direcionados para um futuro mais kawaii.

    O selo e seus artistas mantiveram-se anônimos por quase um ano e meio – em contrapartida, liberavam um fluxo constante de músicas online e, principalmente, gratuitas – o que aplica ao movimento um dos mais refrescantes, engraçados e confusos fenômenos na música nos últimos anos.

    E por quê os caras são o novo pop? Simples, a gravadora britânica é capaz de absorver praticamente qualquer influência e transformá-la em algo peculiarmente pessoal – como toda a geração y e/ou z em um “pop-deformado-escorregadio”. Muitos detalhes da “label”- se é que podemos chamá-los desta forma – não são claros, por exemplo, quantas pessoas estão envolvidas diretamente no coletivo, que adiciona semanalmente novos artistas e faixas em sua conta no Soundcloud.

    Em uma recente fusão à norteamericana Columbia Records – gravadora ícone e responsável por artistas como Adele, Pharrell Willians, Raury, Solange, entre outros – o jovial, mas não imaturo, grupo tem um arsenal de artistas de peso para propor uma nova estrutura à música pop como conhecemos. Imaginem um dueto entre Hannah Diamond e o duo francês Daft Punk ou até mesmo um encontro de titãs entre Ag Cook e Céline Dion.

    Até agora, o discurso em torno da PC Music tem se concentrado em suas qualidades de auto-consciência oriental publicitária, e com razão.

    Editorialmente a #PCMusic possui uma estrutura bem “cafona”, uma espécie de hipérbole de vários padrões estéticos e sociais conectados a nossas vidas, como barulhos que aparecem de surpresa vindos de comerciais de creme de barbear ou a voz abafada das cantoras pop de “auto-tune”. Atuam com ironia e possuem intrinsecamente uma crítica ao consumo de massa e ao capitalismo avançado.

    https://www.youtube.com/watch?v=ZQNKrRoyxKY

    Nas artes visuais, a estilística absurda e satírica do movimento ridiculariza padrões estéticos comerciais, como é o caso das Lipgloss Twins – gêmeas plasticamente perfeitas –, pseudônimo de Ag Cook, passando pelo irônico e “derretido” Ryan Trecartin, que converge arte digital com teorias sobre relacionamentos sociais e interações em sociedades online, ultrapassando barreiras, alcançando o fomento e discussão de gênero.

    Como, por exemplo, na primeira apresentação de Sophie no Boiler Room, sendo ele representado por uma garota transexual. Arrisco dizer que devemos atribuir também, de certa forma, a popularização dos objetos tridimensionais na objetificação e reflexão artística, como no trabalho executado pela australiana Claudia Maté – que já ilustrou a capa da Complex com FKA Twigs, ou o duo holandês PUTPUT, formado por Martin Larsen e Stephan Friedli. Em nossa representação tupiniquim temos Cibelle, com o trabalho  <wave function salon/>, exposto na Bosse&Baun em Londres, onde a artista questiona a consciência humana por intermédio das anatomias exageradamente distorcidas.

    Ao longo do caminho, a #PCMusic propõe também um conjunto de questões críticas sobre cultura pop, hiper-realismo, comunidades digitais, gênero, identidade e consumismo. As perguntas podem não ter respostas definitivas, mas isso é o mais fascinante sobre o coletivo e o movimento. Não é didático; ao contrário, ele deleita-se com ambigüidades que até mesmo seus artistas não podem compreender totalmente.

    gif

    Vivemos submersos em inúmeras camadas, sejam abas conectadas a diferentes locais ou até mesmo “pseudo-habilidades”. Desta efusão de camadas nasce a necessidade de uma analogia e sentimentalização mais rudimentar, por isso a #PCMusic têm tomado uma nova proporção, chegando ao pop.

    Dito isto, é inegável que #PCMusic criaria oposições, porém suas composições lépidas têm sido recebidas de forma calorosa pelo público, como no comercial para a rede de fast-food Mc Donalds, onde o conjunto de batidas de Sophie criam o cenário apropriado para uma bebida gelada, a Lemonade – faixa que também recebeu uma fantástica paródia feita pela humorista americana Amy Schumer, em “Milk Milk Lemonade”, para seu programa na Comedy Central, “Inside Amy Schumer”.

    https://www.youtube.com/watch?v=20AJxzujIuk

    Esta não é a primeira vez que uma das músicas do produtor acabam em um anúncio. No início deste ano, uma faixa de SOPHIE produzida em colaboração com a cantora Liz, chamada “When I Rule The World”, foi utilizada em um video-anúncio pela gigante da telefonia móvel Samsung, para o lançamento do Galaxy S6.

    https://www.youtube.com/watch?v=o7IGkjMX2UU

    A label pode ser considerada o precursor do movimento – cintilante –  mas não são os únicos nessa fase amanteigada da música eletrônica/pop. Manicure Records, Jasmine, Teen Witch Fan Club e Cashmere Cat são alguns dos produtores e selos nesta nova fase do pop. Fase em estágio de fomento, balizado por uma série de novidades, como a participação de Sophie no último single da cantora “hitmaker” Charlie XCX , “Vrom Vrom”, um trap delicado, plano, simples e abafado por um reverb bem característico das produções de Sophie.

    https://soundcloud.com/destinyxcx/vroom-vroom

    Na moda, há alguns exemplos dessa construção retro-futurista publicitária. Membro do coletivo Pc Music, Hannah Diamond é responsável pela direção de arte da revista Logo Magazine – publicação online inspirada diretamente pelo estilo do movimento. Outra publicação, focada em arte contemporânea e direcionada pelos questionamentos abertos pela PC Music, é a Dis Magazine – conhecida pelos editoriais nada ortodoxos e a abordagem a assuntos como gênero, sexualidade e o futuro da arte curatorial.Entre os estilistas, temos nomes como Gipsy Sport, Yard666 e Nazir Mahzar – com suas justaposições holográficas, uma tradução fiel ao efeito multicamada do comportamento jovem na atualidade.

    Camadas essas pastichiadas do B2K – termo designado para descrever o bug do milênio. E foram destas camadas, que Nicolas Ghesquière, em sua última coleção de Verão 16 para a Louis Vuitton, apresentou uma jovem moderna e quase robótica. Justaposto as roupas, a identidade sobressaiu-se avançando nas estrutura de luzes que recortavam as arestas da passarela e finalizando gentilmente na trilha sonora, um bootleg de Minecraft e a trilha sonora original de “Tron”.

    https://www.youtube.com/watch?v=q57UbjigjIU

    Além disso, a #PCMusic musicalmente, representa o deslocamento oposto das tendências darkwave que caracterizaram grande parte da música eletrônica na última meia década. Em contraste com os atributos associados ao dubstep e techno, a PC Music apresenta superfícies lisas, espírito brincalhão e um caleidoscópio quase futurista, bem parecido com a EuroDance, no inicio dos anos 90

    Trocando em miúdos, a #PCMusic em seus exageros, mensagens subliminares e tons açucarados são uma crítica lírica a nossa vida conectada. Perdemos muito tempo envoltos em opiniões, páginas, aplicativos e tudo tornou-se de certa forma natural. O artificial faz parte de nossas vidas. Sejam dos agudos dos despertadores de celular à ausência do tato, perdemos aos poucos o prazer inerente ao análogo. Somos digitais. Qual é o futuro da vida? Conectar-se em absoluto ou desconectar-se?

    Leia as outras colunas de Apolinário:

    + A vanguarda que rompe com a super exposição da era Kardashian

    + Desconstruindo muros artificiais: os projetos que estimulam a criatividade

    * Apolinário, artista plástico e pesquisador, aprendeu a maior parte de seus “skills” na Box1824, onde trabalhou. Ele existe em todos os espaços do mundo online e offline – mais do que humano, ele é um vírus.

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