Primeiro veio a faculdade de arquitetura. Com ela, o interesse por movimentos de ocupação e intervenção. Daí a produção de festas que se propunham a ocupar espaços vazios. E, então, a música e o trabalho manual. Essa não foi uma trajetória planejada por Carol Schutzer, a Cashu, DJ e designer da label de acessórios Nóia Rara, mas faz parte de uma fluidez criativa e espontânea que pulsa forte na geração millenial e que ela foi curiosa o bastante para abraçar.
Hifenizada, a paulistana de 27 anos resume o que faz em uma frase: “animal peçonhento de hábitos noturnos”. E é essa, aliás, a definição que ela e a amiga Laura Diaz dão à Mamba Negra, festa e coletivo que as duas criaram e que tem transformado a cena noturna em São Paulo, ocupando lugares inusitados tais quais fábricas de manequins, prédios vazios e até a Cracolândia e, com isso, tateando questões como igualdade social. “Vivemos um momento em que se faz necessário nos expressarmos politicamente e artisticamente”, diz ao FFW.
Uma entre os “25 artistas que você deve conhecer” segundo a revista The Fader e também um dos nomes brasileiros mais badalados do line-up do Festival Dekmantel São Paulo, Cashu toca seus sets eletrônicos com a mesma organicidade que transita por diferentes plataformas de arte, com vários elementos e gêneros musicais dentro de um mesmo caldeirão. “Meu interesse por música veio com o tempo. Quando criança meus pais ouviam música brasileira e jazz. Depois passei a gostar de rock, soul, rap, pop, eletrônico, como as pessoas da minha idade. Mas não era aficionada”, conta ela, que eventualmente passou a ouvir muito e pesquisar música e, então, discotecar em festas como a Voodoohop. “É um prazer criar a viagem musical e a experiência que as pessoas vão ter”.
Foi já como residente da Mamba, que despretensiosamente começou a vender acessórios criados a partir de peças e materiais encontrados na rua, culminando na label Nóia Rara. “Temos uma produção de baixo custo na MN, então, a cenografia sempre foi feita por artistas que trabalham com materiais baratos e reutilizados. Eu pegava peças na rua e em oficinas, lojas de materiais de construção e eletrônicos. Depois de juntar um monte sem fazer nada com elas, passei a transformá-las em colar para uso próprio”.
Pregos, mangueiras, cabos e fusíveis tomam nova forma como colares e pulseiras, tão dramáticos quanto simplistas – “clubber silvestre”, ilustra. “Acredito que isso expressa uma quebra de paradigmas. Coisas que podem ser usadas com outra finalidade, a coincidência industrial. Materiais que não são feitos para o mesmo fim, mas que industrialmente se encaixam”. O reaproveitamento dos materiais é, sem dúvidas, uma ideia bastante sustentável, mas que, acima disso, propõe uma ressignificação de objetos funcionais como adornos.
Com uma demanda de vendas maior do que imaginava, Cashu pediu ajuda às amigas Ana Paula Oliveira e Mari Ferrucci para fazer bazares em várias festas. Mas pode receber pedidos pelo Facebook ou Instagram da Nóia Rara e também envia para outros estados. “É um processo mais instintivo do que racional. Não me cobro muito nesse projeto. Gosto de mantê-lo como algo gostoso de fazer, como era quando comecei – um momento para sair do computador e criar algo manualmente”.
Dekmantel Festival São Paulo 2017
Data: 4 e 5 de fevereiro
Ingressos: compre aqui
Preços: Weekend Day (R$ 400); individual para o sábado ou domingo (R$ 225)
Atenção: valores meia-entrada, disponíveis para quem tem acesso ao benefício ou àqueles que doarem um livro na entrada do evento (regras aqui)
Dekmantel Festival São Paulo 2017 By Night na Fabriketa:
Noite extra no sábado R$ 90
*O FFW, parceiro oficial do festival passa a publicar uma coluna semanal do Dekmantel, sempre às sextas até 4 de fevereiro.
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