Por Guilherme Meneghetti
Aos 15 anos, Marianna Rothen iniciou a carreira de modelo. Passou muitos anos viajando a trabalho para fazer shootings e ao observar atentamente os fotógrafos de moda em ação um interesse pela fotografia foi desperto. Nos momentos de folga, sua câmera era a melhor companhia e com ela andava pelas ruas registrando tudo ao seu redor. O interesse foi crescendo até quando ela decidiu abandonar a carreira de modelo para se dedicar integralmente à fotografia.
Num primeiro momento, pensou em ser uma fotógrafa de moda, mas logo se deu conta de que não era exatamente o que queria. “Eu percebi que as minhas melhores fotos eram aquelas com as quais eu trabalhava as minhas próprias ideias”, disse à Another. Ao Design Observer, complementa: “Gosto que as fotos tenham certa humanidade, quando acho um momento especial num cenário simples, do dia a dia”.
O que de antemão chama atenção em seu trabalho é a estética vintage – de certa forma atual, ao mesmo tempo – com o estilo soft-focus, fotos levemente embaçadas que remetem a cenários idílicos. Isso é contrastado a um clima meio sombrio, distópico, que revela a seriedade e pujança e, ao mesmo tempo, a leveza e elegância das lindas mulheres que fotografa, todas como se vivessem na década de 1950, com a estética própria da época, tanto nos looks e na beleza como também no cenário. As mulheres, aliás, são figuras centrais em seu trabalho.
Rothen é baseada hoje em Nova York, mas nasceu no Canadá. Sua mãe era religiosa e dona de casa, seu pai, um suíço que trabalhava fora para sustentar a casa. Ela não concordava muito com essa situação, achava triste ver sua mãe em casa o dia inteiro. Daí que vem sua predileção por sempre fotografar mulheres, celebrando-as. A estética 1950-60 é de certa maneira inspirada pelo gosto do pai, que amava os filmes americanos dessa época, aos quais ela cresceu assistindo também – hoje, seus cineastas favoritos, Ingmar Bergman, Robert Altman e Michelangelo Antonioni, também influenciam seu trabalho. Embora as mulheres de suas fotos tenham algo de Monica Vitti ou Liv Ullmann, musas desses diretores, o seu ideal de beleza vem da própria família. “Minha primeira ideia de beleza veio das mulheres polonesas da minha família, que ficavam impecavelmente bem vestidas o dia inteiro, com maquiagem pesada e cabelos ondulados e volumosos”.
Para alcançar a estética vintage de suas fotos, Rothen desenvolveu o seu próprio método por acaso. Primeiro, ela fotografa digitalmente. Depois, seleciona as fotos que mais gostou, edita, imprime e, então, fotografa novamente com a Polaroid, já que só gosta do filme dessa câmera e a estética que ele proporciona.
Esse método foi necessário porque os filmes da Polaroid ficaram muito caros uma vez que são produzidos em pouquíssimas quantidades. “Então, eu comecei a trabalhar assim, com um método mais barato para conseguir os cliques como eu queria. O que significa que você perde detalhes e as fotos se tornam como se fossem pinturas – por isso elas parecem tão sonhadoras, com um tom específico ou como existisse uma neblina”, explica. “A primeira vez que isso aconteceu foi por acaso, apenas um bom acidente, mas agora eu amo tanto essa estética que acabei levando ao longo do meu trabalho”.
Assim, ela já expôs em países como Israel, Turquia, Alemanha, Bélgica e França, publicou dois livros (um deles está disponível aqui), dirigiu quatro curtas-metragens, além de realizar a direção de arte do filme independente Everybody Knows this is Nowhere, de 2010. Sua exposição mais recente em Nova York, Shadows in Paradise, foi uma série que retratou um mundo em que não havia homens.
Conheça um pouco mais do trabalho dela: