A expedição de Schiaparelli no Brasil
O reporter de moda Gabriel Fusari conta a história inacreditável sobre a tour da designer Elsa Schiaparelli por todo o Brasil.
A expedição de Schiaparelli no Brasil
O reporter de moda Gabriel Fusari conta a história inacreditável sobre a tour da designer Elsa Schiaparelli por todo o Brasil.
Elsa Schiaparelli é, sem dúvida, uma das designers mais icônicas de todos os tempos. Seu trabalho unia arte e moda de forma revolucionária e ainda hoje influencia muitos criadores. Parte de suas inspirações vinha das viagens que fazia, como a vez em que criou uma coleção inspirada em paraquedistas após visitar a União Soviética. Mas você sabia que ela também já esteve no Brasil? Basta olhar páginas e páginas do Correio da Manhã e O Cruzeiro do início da década de 1950 para acompanhar sua passagem meteórica por aqui.
Muito tempo antes de pisar em terras brasileiras, Schiaparelli já tinha vários amigos brasileiros. Segundo relatos, ela costumava recebê-los em sua casa aos domingos, onde se divertiam bastante com suas roupas, deixando os convidados europeus impressionados com a espontaneidade dos brasileiros. Em um texto sobre essa convivência, o jornalista Bruno Astuto conta que “um dia, Greta Garbo perguntou como ela deixava aquelas pessoas mexerem em suas coisas. Elsa respondeu que os brasileiros eram impecáveis e deixavam tudo em perfeita ordem”.
Melhor amigo brasileiro
Seu melhor amigo brasileiro era o empresário Assis Chateaubriand, que ela conheceu em uma dessas festas. O objetivo de Chatô, como era conhecido, era promover matérias-primas brasileiras entre os estilistas da alta-costura francesa. Esse empenho fez com que ele trouxesse para o Brasil nomes como Jacques Fath e Marcel Rochas, conquistando o título de “Rei do Algodão”. Em 1952, quando foi a vez de Elsa visitar o país, Chateaubriand organizou uma tour completa.
Rio, São Paulo e Recife
A viagem começou no Rio de Janeiro, onde ela visitou o Morro do Pinto e assistiu a uma apresentação de samba. Em São Paulo, doou três obras de Amedeo Modigliani (1884-1920) ao Museu de Arte de São Paulo (MASP). Depois, passou pelo Recife e pela Bahia, absorvendo as influências locais. O ouro das igrejas encantou a estilista, que incorporou a textura em suas criações. Ela também se apaixonou pelas praias, descrevendo a paisagem como um “balé dos pescadores”. Antes de seguir viagem, participou de uma cerimônia de candomblé para “fechar o corpo”.
A homenagem na Bahia
A última parada foi em Feira de Santana, na Bahia, onde Chateaubriand a homenageou com a Ordem do Vaqueiro, uma condecoração criada por ele, já oferecida a figuras como Getúlio Vargas e Winston Churchill. Elsa participou de uma vaquejada vestindo um gibão e um chapéu de couro, presente do governador do Piauí. Ela montou a cavalo e seguiu com uma comitiva de 80 vaqueiros, acompanhada por Yolanda Penteado, o pintor Pedro Leitão e outros amigos.
Antes de voltar ao Rio para embarcar para Paris, Elsa ganhou um pedaço de terra do compositor Carlos Guinle, em Teresópolis, onde hoje fica a Granja Comary, sede da Seleção Brasileira. Essa homenagem consolidou a amizade dela não só com Chateaubriand, mas também com o Brasil. Foi um encontro cultural e simbólico, que até hoje reverbera na moda, especialmente com a atenção que o atual designer da marca, Daniel Roseberry, tem dado às brasileiras como GKay e Anitta. Que venham mais frutos brasucas no futuro!
Fontes e imagens: Revista O Cruzeiro e Jornais O Globo, Correio da Manhã, O Jornal.
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