O designer João Medeiros se divide entre seus estudos fora do país e a criação de sua marca em solo nacional – voltou em agosto do ano passado para lançar a JAMP, que tem na alfaiataria o ponto de partida para combinar o melhor do que viu no exterior com as suas raízes brasileiras. 

João saiu da periferia de Taubaté rumo a Boston, nos Estados Unidos, em 2021, para cursar Ciências Sociais e Tecnologias. Porém, em poucas semanas, percebeu que esse curso não era o ideal para ele e decidiu mudar para Belas Artes. Durante esse período no exterior, ele escolheu a moda como especialidade.

Foto: Muraca

Uma dessas oportunidades é a mentoria de grandes nomes da indústria, como Mary Wang, ex-CEO da Tommy Hilfiger e atual CEO da Proenza Schouler, e Joshua Kapelman, diretor da Hilldun Corporation, que foi responsável pela expansão internacional da PatBo, Arezzo e Golden Goose. Outra possibilidade foi o intercâmbio para Londres, onde estudou e se formou na Central Saint Martins, aprendendo a trabalhar com tecidos nobres e a fazer alfaiataria inglesa. Sua formatura está prevista para maio de 2026.

Nesse processo, a vontade de construir algo dele, que refletisse seus gostos e aquilo que aprendeu no dia a dia da faculdade falava mais alto. Assim, ele juntou dinheiro e buscou bolsas na faculdade e começou a desenvolver peças urbanas que funcionam no verão brasileiro, mas sem perder cortes retos e trazendo um pouco do streetwear londrino.  

Em um ano, vivendo o cotidiano europeu, João fez mais pesquisas e amadureceu o gosto, trocando o streetwear pela alfaiataria, se deixando levar pelas referências da Saville Row.

“Com novas experiências, em Londres, nos Estados Unidos, e aqui, surgiu a vontade de fazer mais alfaiataria – não que seja uma evolução ditada, mas que pra mim, veio naturalmente à medida que eu adquiri mais conhecimento e experiências” , comenta.

Foto: Muraca

NOVA COLEÇÃO 

De volta ao Brasil, se preparou por 4 meses para lançar sua segunda coleção chamada Narcisus, onde ele olha para o mito de narciso para buscar respostas para dilemas pessoais e estéticos.

“Meu processo criativo surgiu de um momento difícil, onde transformei desafios pessoais em uma expressão criativa significativa, especialmente refletindo sobre saúde mental”, explica.  

João começou a desenhar e buscar referências a partir de um turbilhão de emoções, inspirando-se em obras renascentistas, especialmente na pintura de Narciso, de Caravaggio. Decidiu reinterpretar essa obra tradicionalmente europeia, substituindo o modelo branco por dois modelos pretos, trazendo brasilidade a uma coleção que reflete a diversidade do país. Baseou as cores, formas e shapes nessa pintura, e selecionou tecidos italianos de alta qualidade para garantir o caimento desejado.

Foto: Muraca

O resultado? 26 peças de modelagens amplas, genderless e com texturas sutis. Para construir os looks, ele escolheu os clássicos da moda, como camisas de lã fria italiana, jaquetas e calças jeans, vestidos e blusas de seda, além  de quatro bolsas de couro. O detalhe mais interessante é a transliteração de Narciso, representado pela flor, e materializado nos bordados de algumas peças, feitas por um coletivo chamado Artesãs da Linha Nove, composto por mulheres bordadeiras da Favela da Linha e da Favela do 9, em São Paulo.  

As peças da JAMP podem ser encontradas no e-commerce da marca e na multimarcas Pinga, a partir de 14 de agosto.