Entrevista com Marylin Fitoussi, figurinista de Emily in Paris
Em exclusividade ao FFW, Marylin Fitoussi responsável pelos looks da série mais fashionista do momento fala sobre marcas brasileiras, críticas e sobre inspirações no visual dos personagens
Entrevista com Marylin Fitoussi, figurinista de Emily in Paris
Em exclusividade ao FFW, Marylin Fitoussi responsável pelos looks da série mais fashionista do momento fala sobre marcas brasileiras, críticas e sobre inspirações no visual dos personagens
A francesa Marylin Fitoussi, nome por trás do super comentado e até mesmo polêmico figurino de Emilyn In Paris, nasceu em Toulouse, no sul da França, mas é o oposto do cliché blasé tão associado aos franceses. Seu lema é “gosto de roupas e não de moda” e isso reflete muito em sua carreira. Ela colaborou em produções como Mon père, ma mère, mes frères et mes soeurs (1998) e na minissérie Fidel (2001), além de ter trabalhado na Les Costumes de Paris, empresa de aluguel de figurinos de época clássicos parisienses.
A stylist Patricia Field (Sex In The City) precisava de uma parisiense nata, que fugisse do estereótipo apático e trouxesse um novo ponto de vista para a trama e Marylin era exatamente isso. Formada na L’École du Louvre (que teve como ex-alunos Christian Lacroix e Hedi Slimane) e trabalhos com a figurinista Sylvie de Segonzac, a figurinista se mostrou a pessoa perfeita para o desafio. Seu trabalho rendeu indicações ao Emmy e ela acabou se tornando a principal responsável pelo figurino da série da Netflix.
Em clima de lançamento da parte 2 da quarta temporada, conversamos com Marylin Fitoussi sobre o processo criativo, inspirações e a curadoria de marcas – inclusive brasileiras – para os personagens da nova temporada. Leia a conversa abaixo:
Qual foi o ponto de partida para criar os figurinos da personagem principal de Emily in Paris? As críticas de mulheres francesas de que os figurinos não refletem como as pessoas se vestem em Paris te incomodaram?
Olhe para mim. Estamos na quarta temporada. Isso não me incomoda… Sabe de uma coisa? O que não te destrói, te fortalece. Então, quando começaram a reclamar e a me criticar, eu não entendi no início, porque não era meu objetivo fazer moda, e ainda não faço moda. Na minha cabeça, estou apenas oferecendo escapismo. Estou propondo uma maneira diferente de pensar, uma forma diferente de misturar estampas e roupas. Para mim, isso é uma lição de liberdade. Estou apenas dizendo para as pessoas libertarem suas mentes, se desprenderem das revistas e das regras. As regras estão aí para serem quebradas. Então, se os franceses não se identificam ou não se conectam com o que estou fazendo, sinto muito por eles. Mas, sabe, eu não dou muita atenção a isso. Eu não quero representar completamente o estilo francês, que para mim é um pouco entediante. Eu só quero ser e propor uma silhueta interessante, algo divertido, que alimente a imaginação, que faça as pessoas sonharem ou algo assim. Mas eu não quero ser politicamente correta, seguir as regras e agradar a todos.
Mas você é francesa, certo?
Sim, eu nasci e fui criada na França, então estou desenhando para franceses como eu, que gostam de brilho, cores, estampas e rosa choque.
Você acha que as pessoas francesas que te criticam são pessoas que não entendem de moda?
Eu não sei. Acho que os franceses odeiam estar exageradamente vestidos. Para uma mulher francesa, estar exageradamente vestida é algo que ela não consegue aceitar. É visto como algo de mau gosto. Na França, isso é considerado de mau gosto ou brega. Elas preferem ser discretas, quase desaparecer. Isso não nos representa. As francesas parecem desarrumadas, o cabelo levou horas para ficar assim, mas elas não querem mostrar que dedicam tanto tempo a si mesmas, porque isso soa superficial, e é melhor ler um livro do que arrumar o cabelo. As francesas querem ser vistas como intelectuais. É por isso que não gostam de certas coisas no programa, porque não é intelectual o suficiente para elas, é popular demais. O ponto é que, se elas se identificam ou não, eu amo esse programa. Amo criar os figurinos para ele. Adoro a liberdade que o show me dá, a oportunidade de apresentar e descobrir novos designers, de fazer tudo o que eu quiser e mostrar que podemos nos divertir com a moda. A moda existe para ser aproveitada. Precisamos nos divertir com ela. Não é um assunto sério. Não estamos salvando vidas, estamos apenas brincando com coisas bonitas.
Eu estava morando no México e me sentia totalmente livre. Adoro viajar e ver que pessoas ao redor do mundo se conectam com o que estou fazendo, mesmo que os franceses não gostem. Sim, no final do dia, estou feliz. Podemos conversar, você pode gostar ou não, mas o debate é válido. Se todo mundo gostasse do programa, significaria que o que eu fiz é comum, sem risco nenhum. Se há discordância, se amam ou odeiam, é porque todos podem se questionar. Eles podem perguntar por que gostam. O que é bom gosto? O que é mau gosto? Quem decide o que é mau gosto? Você? Eu?
Entende? Qual é a sua expertise para, de repente, decidir que não se deve usar algo ou que não se deve combinar mais de cinco estampas ou dez pulseiras? Eu amo o maximalismo, então libere sua mente. Quem decide é você, ninguém mais.
O papel e o figurino de Sylvie têm ganhado cada vez mais atenção da mídia e do público. Quais foram as referências para criá-los?
No Brasil, vocês têm muita cor, então o estilo de Emily é algo comum para vocês. Mas uma silhueta mais sofisticada, quase monocromática, como a de Sylvie, chama mais atenção, talvez porque vocês não vejam tanto disso.
A inspiração veio da mãe de Philippine Leroy-Beaulieu, a atriz que interpreta Sylvie. Ela foi modelo e designer de joias da Dior durante a era Marc Bohan. Era linda e super elegante. Aquele jeito característico de Sylvie andar com a mão de uma certa forma veio da mãe dela. Philippine me mostrou algumas fotos: uma mulher alta, de cabelos longos e lindos, usando caftans. Eles moravam em Roma, na Itália, e ela vestia peças de um jovem designer da época com um estilo boêmio. A mãe foi uma grande inspiração, assim como Sylvie Grumbach, uma RP francesa do Le Palace, extremamente chique, um pouco como Andrée Putman, a arquiteta. Esse tipo de mulher forte e muito confiante no que vestia. Com Sylvie, também descobri o poder de uma camisa branca, a simplicidade que pode ser incrivelmente poderosa. É assim que estou desenhando para ela também.
Notei que alguns personagens usavam peças de marcas brasileiras. Como foi o processo de curadoria para incluí-las? Houve uma razão específica?
Meu objetivo a cada temporada é descobrir e envolver ainda mais designers de todo o mundo, se possível. Conheci os dois caras da Paraíso, do Brasil, em um salão de jovens designers em Paris, em um evento por lá. Então, eu os usei. Se você tiver outro designer brasileiro, como a Farm Rio, que também utilizei, por favor, me envie o link ou o nome. Porque sim, eu uso designers brasileiros, indianos, ainda não mexicanos. Mas, cada vez mais, quero dar essa visibilidade global a todos esses tipos de designers, porque é divertido e me traz alegria trabalhar com diferentes estéticas e poder brincar com isso.
Essa temporada terá alguns episódios na Itália. Já vimos uma imagem de Emily em um vestido vermelho em camadas que parece fazer referência a uma criação do designer Roberto Capucci. O que mais podemos esperar dessa segunda parte, em termos de moda?
Muitas marcas italianas, romantismo, amor, romance. E sim, foi uma homenagem a Roberto Capucci, que está sendo esquecido. Ele não tem a fama e o sucesso que merece. Eu adoro Roberto Capucci há muito tempo, mas não sei por que ele desapareceu de quase todos os livros e referências de moda. Você sabe, nunca falamos sobre ele. Falamos sobre Pucci, Schiaparelli, mas não sobre ele. Esta foi minha homenagem a Roma. É lindo. Uma homenagem à Dolce Vita, a Roman Holiday e ao cinema italiano, que eu adoro, e à mulher glamorosa da Dolce & Gabbana, mesmo que eu não tenha usado Dolce & Gabbana nesta temporada.