O brasiliense Hodari é daquelas presenças impossíveis de não ser notada. Dono de uma voz sedutora, sorriso largo e fala afiada, o cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor musical – que já foi modelo e tatuador antes de mergulhar de cabeça na música, é dono do hit Teu popô e lançou esse ano seu primeiro álbum que leva nome seu nome, cujo significado é dignidade no idioma africano zulu.

O álbum Hodari é um passeio pela trajetória do jovem artista em faixas que transitam pelo R&B, rap, funk, soul, samba e MPB.

Além do talento musical, Hodari é dono de um estilo singular que mistura suas referências ancestrais à peças urbanas de marcas de streetwear e joias, pelas quais ele se diz apaixonado. Ele chamou a atenção do designer Felipe Matayoshi e acabou numa recente campanha da marca Pace. A Vans também convidou Hodari para um de seus projetos, onde mostra seu lado artista plástico. E nós o escolhemos para estrelar nossa capa digital de dezembro e um editorial de moda aqui no FFW, além de responder algumas perguntas sobre sua relação com moda e a importância da estética em seu trabalho.

Hodari queria saber de sua relação com moda

Minha relação com moda começa lá em 1920, 1930. Minha bisavó Isabel Garcia, que tinha o apelido de Madame Garcia foi uma das primeiras mulheres negras a morar em Copacabana, ela era estudada e trabalhava com vestidos de noite, de gala, ela vendia para a alta sociedade do Rio. E ela trouxe isso para nossa família. E minha avó Lydia Garcia era professora de música e meu avô era paisagista e arquiteto. Eles viveram o início da militância negra no Brasil. Então dentro da casa dos meus avos era como se fosse um quilombo urbano. Minha avó tinha uma marca, a Bazar Afro e ela carrega todo o conhecimento de costura da mãe dela. Através da moda meus avós fizeram um resgate da nossa auto estima.

Minha mãe também tem uma marca de moda étnica, a Yalodê, ela é designer de acessórios, de roupa, tem uma pesquisa muito grande com turbantes aqui no Brasil e tem um projeto de profissionalização e geração de renda para mulheres negras. 

E eu lancei minha marca Canceriano Store . Durante a quarentena eu criei uma coleção de moletons pintados a mão, esses produtos me ajudaram a aumentar minha renda e apoiam meu sonho na música. Minha relação com moda vem de tudo isso disso. 

Que papel a estética tem no seu trabalho?

No meu trabalho ela é fundamental, pois a estética comunica, do jeito que me visto eu to tentando trazer e mostrar que existem outras formas de ser homem. Trago muito esse questionamento. 

E eu levo a moda como uma brincadeira, como uma forma de proteção, uma chance de ser um personagem por dia. Eu sou hétero e fui no Lollapalooza usando um vestido. A moda traz pertencimento, desejo, é também uma forma de poder, abre portas. Eu tento inspirar pessoas através disso, o mundo está tão triste, conflituoso. 

“Do jeito que me visto eu to tentando trazer e mostrar que existem outras formas de ser homem. Trago muito esse questionamento.” 

Quais são suas marcas e designers favoritos?

No momento eu tô muito apaixonado pela Pace, pela Louis Vuitton, Loewe, Off-white, Margiela pelo que é hoje. Eu amo joias da Schiaparelli. Joias a gente já carrega há muitos anos na nossa moda, se falarmos do Egito, os caras faziam dedeiras de ouro. Eu tento pegar tudo das civilizações que eu estudei e colocar no meu estilo, e comunicar isso pra quem tá me consumindo, eu tento enriquecer, nem todo mundo tem a coragem de se comunicar na moda como eu.

Você fez a pouco tempo uma campanha com a Pace. Como surgiu esse convite?

Eu sempre amei a marca, mas sempre foi algo distante de mim. Eu tava gravando o álbum no mesmo bairro da Pace e o Carlos Bezerra, produtor da faixa Signos, me contou da marca. Daí o Felipe Matayoshi me encontrou pelo Instagram do maquiador Dindi Hojah, ele achou que eu fosse gringo, me mandou mensagem pra fotografar na mesma semana e fizemos a campanha. O Felipe e Virgil são minhas maiores referências de designers de moda. 

Você também fez uma collab com a Vans. Como foi isso?

Foi com a Vans California, foi um convite de fora. Eu cresci tocando guitarra em Brasilia na cena Emocore, e todo mundo usava Vans na época. Dai veio o convite para fazer essa collab, pra eu desenvolver um projeto artístico. Eu tava estudando pintura com o Marlon Amaro e o Pegge e fui me apaixonando pela pintura e em vez de fazer meu projeto com música escolhi fazer assim, contando minha conexão com a marca através desse trabalho de pintura. 

Na musica, onde você está e onde você gostaria de chegar?

Eu quero ter uma carreira longa e duradoura, sou mto fã de Djavan, Luiz Melodia, eu miro na longevidade, gosto desse processo de ir crescendo, construindo aos poucos. Ganhei single de diamante por Cachorrinho com a Luiza Sonsa, sou também compositor de Diaba da Urias, já compus pra Negra li. Quero que as pessoas cantem cada vez mais minhas músicas, onde falo muito sobre amor, a vida de uma forma simples e elegante. Fiz esse álbum pra ser escutado, degustado como um todo, pegando todo o conhecimento que eu tive com todos esses artistas, o Luccas Carlos incluso. E meu sonho é fazer uma tour no mundo inteiro, conhecer muitos lugares, da Africa até o lugar mais distantes na Ásia. 

Que respostas memoráveis ​​você já teve sobre seu trabalho?

Muitas pessoas já desistiram de tirar a vida por causa das minhas músicas, principalmente durante a pandemia. Eu quero salvar vidas, eu quero que as pessoas sejam livres, se permitam, quero desbloquear isso em mais pessoas também.

Qual é o melhor conselho que você recebeu?

Seja você. A vida que me trouxe isso, siga seu coração e vai. 

Foto: Thi Santoss @thi.santoss

Assistente de foto: Zeh Henrique

Styling: Giusepe Botelho @giusepebotelho

Direção criativa: Francisco Leonardo @chicocaju

Assistente: Renê Porfirio @reneporfirio

Hair: Felipe Araújo @felipearaujo__

Make: Cleiton Santos @eucleiitonsantos

Assistente de beleza: David Batista @dvdbatista

Produção Executiva: Produção executiva: Henrique Costa @hc_42