FFW
newsletter
RECEBA NOSSO CONTEÚDO DIRETO NO SEU EMAIL

    Não, obrigado
    Aceitando você concorda com os termos de uso e nossa política de privacidade

    especial: O que é moda brasileira? Os estilistas respondem

    especial: O que é moda brasileira? Os estilistas respondem

    POR Gabriel Fusari

    A moda brasileira tem grandes desafios e questões. Além da falta de incentivo, investimento público e ego, sem dúvidas é o questionamento do que é moda brasileira (ou não). Enquanto a moda estadunidense é rapidamente associada ao sportswear e o casual e a italiana a alfaiataria e preciso trabalho artesanal, a moda brasileira ainda encontra dificuldade de ser definida, seja por uma estética ou processo.

    Alexandre Herchcovitch, ao ser questionado em entrevista recente ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o estilista Alexandre Herchcovitch respondeu que, ao ser feita por um brasileiro, é moda brasileira. A resposta provocou uma série de postagens nas redes questionando a definição dada por ele, considerada por alguns como reducionista. Não é para menos. Quando se olha para o Brasil, um país continental que abraça culturas diversas nos quatro cantos, parece difícil encontrar uma resposta exata e objetiva. Por aqui, é preciso pensar na matéria-prima, no ofício, na narrativa e na história.

    Domenico de Masi pontuou em O Futuro Chegou que, desde a época da colonização, copiávamos sempre o que vinha de fora, e isso construiu nosso imaginário coletivo estético e cultural. Apesar disso, não tem como não lembrar do manifesto antropofágico de 1922, que fala sobre a assimilação da cultura estrangeira para a transformação em algo novo. E se Guimarães Rosa disse que viver é um eterno rasgar e remendar, com a moda não seria diferente. Ela, assim como a cultura, é uma combinação de influências que nos transforma num caldeirão de referências. Mas, melhor que teorias e filosofias, é trazer quem está no dia a dia construindo essa história na prática para tentarmos responder o que é a moda brasileira. Conheça o ponto de vista de alguns criadores brasileiros, entre nomes estabelecidos e emergentes o que têm a falar sobre o assunto:

    AIRON MARTIN (MISCI)

    Acho que tudo que é Brasileiro foi muito bem definido pelo mestre Ariano Suassuna. Ele disse: “Porque então qualquer coisa que vem de fora, em vez de ser uma influência que nos descaracteriza, passa a ser uma incorporação que nos enriquece.” Pra mim a moda Brasileira além de multicultural, é a principal maneira de contar uma nova história, a história de um novo Brasil. No Brasil que necessita do progresso, não há tempo para saudosismo.

    LENNY NIEMEYER
    “A moda brasileira tem todos ingredientes para ser a moda mais criativa e autoral do mundo. E acredito que, cada vez mais, nós designers buscamos valorizar nosso país através do olhar territorial, reverenciando culturas e matérias-primas nacionais. No meu caso a nova geração nacional também é uma inspiração, sempre busco me conectar com novos estilistas. Também ouço muito a minha equipe, que sempre me alimenta com um olhar fresh dos novos tempos. É uma moda potencial, mas que exige muito trabalho e resiliência, para todos que trabalham com ela.”

    ANTÔNIO CASTRO (FOZ)

    “A moda brasileira é uma construção contínua e complexa. Não há uma resposta definitiva, pois historicamente buscamos essa identidade desde a virada do século XX. A moda no Brasil começou a se distanciar dos ideais europeus com Zuzu Angel durante a ditadura e se consolidou com estilistas como Ronaldo Fraga, Maria Bonita entre outros nos anos 2000. Hoje, nossa geração se inspira na cultura brasileira para criar moda, valorizando aspectos como música, gastronomia e folclore, buscando uma identidade autoral e genuína.”

    LÍVIA BARROS E JANAINA AZEVEDO (KENGÁ BITCHWEAR)

    “A moda brasileira é um grande caldeirão.  Ela se distingue pela sua originalidade que é necessária para romper com um passado colonizado. Na sua face autoral ela é criativa, libertária, ancestral , diversa e sustentável.  Mas ela também pode se mostrar competitiva  desigual e injusta. Isso que a gente não está falando nem de varejo e nem de fast fashion.”

    SASHA MENEGHEL (MONDEPARS) 

    “É impossível falar do Brasil sem falar de pluralidade. Nós somos um país muito rico, formado por diversas culturas, gostos, raças e costumes. Para mim, a moda brasileira representa essa diversidade. Além de tudo, nossa indústria é repleta de excelentes profissionais, que possibilitam essa variedade de caminhos da produção. 

    Como diretora criativa da Mondepars,  faço questão de visitar as fábricas e ateliês parceiros para conhecer as pessoas que estão por trás de toda a construção das peças, pois é na junção de pessoas diversas que fazemos a moda nacional acontecer.”

    WALÉRIO ARAÚJO

    “Eu acho que a nossa moda brasileira é muito associada ao manual, ao artesanal, entendeu? Por mais que grandes marcas levem para o conceitual, é visível a mão de obra que cada uma expõe, exercita nas criações e na construção dos looks, seja para o comercial ou seja para o conceitual, que é o show de passarela. Então isso é muito visto também pelas pessoas de fora, até mesmo porque eles há muito tempo vêm procurando a nossa mão de obra.” 

    MARINA BITU

    “Sinto hoje uma percepção maior dos nossos valores culturais e o sentimento de pertencimento cada vez mais forte. Imaginem alfaiatarias reinventadas, com recortes fora do padrão e matérias primas com texturas ricas, que provocam o olhar de quem observa e convidam ao toque. Manualidades diversas como bordados, rendas, macrames e outras técnicas elevam os produtos a nível de arte carregada de histórias. Na criação de moda brasileira há também um desejo de contar uma narrativa. Estilistas que são verdadeiros contadores de histórias.”

    NORMANDO (MARCO NORMANDO E EMÍDIO CONTENTE)

    “A moda brasileira é a arqueologia do imaginário da e na história do nosso país, um retrato vestível do cotidiano, moderno e pós-moderno. Não é apenas o que é manufaturado por brasileiros ou sua artesania em si. É também o que é construído conceitualmente com padrão de significados, em que são incorporados símbolos de vivências; ou tradições;  ou manifestações culturais dos povos do Norte ao Sul, que vivem e constroem um léxico imagético único e próprio de uma nação.”

    CECÍLIA GROMANN  (ANACÊ)

    “Eu acho que o que faz a moda brasileira ser brasileira, além da fonte inesgotável que o Brasil é, de referências próprias, eu acredito que sejam as dores que a gente passa como sociedade, não só brasileira, como no contexto América Latina, onde os nossos hábitos de consumo são muito específicos e onde nós somos atravessados por inúmeras questões sociais. Então, eu acho que essas vivências de você criar pensando no Brasil como ele é e em todas as questões que a gente tem aqui, as dificuldades que a gente encontra na hora de falar de design no Brasil, caracterizam a força criativa que a gente tem, o potencial que a gente consegue transformar isso na hora de fazer o produto ou na hora de educar o consumidor final sobre o que é moda nacional. Valorizar esse produto nacional.”

    PATRÍCIA BONALDI (PATBO)

    “A moda brasileira reflete, na minha opinião, a nossa pluralidade: temos diversos saberes, diversas formas de expressão, não é monótona nem padronizada pois diversos olhares de pessoas com diferentes experiências imprimem na moda sua forma de ver o mundo! 

    Eu acho que temos um leque de muitas técnicas, visão e saberes diferentes! Temos do artesanal ao minimalismo e tudo isso é moda brasileira.”

    TEODORA OSHIMA

    “Pra mim a moda brasileira tem diversas camadas e recortes. Há marcas que seguem padrões estéticos hegemônicos e seguem tendências globais e há outras marcas autorais que buscam pela sua própria identidade brasileira – que é muito ampla – para além do mercado.”

    MAURÍCIO DUARTE
    “Hoje eu vejo a moda mais representada, principalmente no Brasil, há um retorno muito forte às raízes. Designers indígenas falando sobre suas raízes, designers pretos falando sobre suas ancestralidade, sobre suas religiões (muitas delas de matrizes africanas), há um orgulho imensurável em falar sobre suas lembranças e memórias afetivas. Até porque, não há produto sem alma, e quando entendemos que para além de bons estilista, temos que ser bons contadores de histórias, e nada mais lindo do que relembrar ou enaltecer a nossa verdadeira brasilidade.” 

    DAVID LEE

    “A moda brasileira é genuinamente diversa assim como seu povo e atualmente reflete muito mais essa diversidade com a descentralização do eixo RJ-SP como únicos locais influentes. E para além da criatividade não posso deixar de citar a resiliência e insistência da moda brasileira que sobrevive mais próxima do coletivo falando do que realmente importa: sua cultura e as pessoas que nela estão inseridas.”

    DENDEZEIRO (HISAN SILVA E PEDRO BATALHA)

    “A moda brasileira se constrói com muito pouco, com pouco acesso, com o que se tem. Então, é muito incrível ver que o que a gente produz e entrega quanto produto final passa por tantas defasagens, mas ainda assim consegue entregar um nível muito superior e lindo. É muito legal  ver como nos destacamos no mundo todo com nossa criatividade.”

    PAULA RAIA
    “Impossível definir a moda brasileira visualmente ou historicamente em uma fala só. Qualquer definição curta incorre no erro do apagamento. O Brasil tem a dimensão de um continente. A melhor forma de conhecer a moda nacional é conhecer o Brasil.

    Por exemplo, o trabalho artesanal é, para mim, uma das várias características da moda nacional. Não só no sentido do “feito à mão”, mas também na riqueza de técnicas que se misturam e se transformam em um país complexo como o nosso.”

    CRIS BARROS

    “Para mim, a moda nacional vai muito além de simplesmente roupas e tendências. Vejo na moda brasileira uma expressão criativa que não só impulsiona nossa economia, mas também fortalece nossa cultura e história. 

    Eu enxergo um profundo respeito pelas nossas tradições e técnicas, às vezes ancestrais e me orgulho da nossa marca fazer parte desse ecossistema de talentos brasileiros e tenho muita admiração por todos eles.”

    LINO VILLAVENTURA

    “Pra mim, moda nacional tem que ser uma moda com coragem, com identidade original, com respeito a nossas raízes, nossas culturas, as nossas ideias de brasileiro, as nossas vontades, as coisas que nos remetem aos povos originários. Eu sou do Pará, eu sou da Amazônia, eu sou do Ceará, eu sou do Nordeste e eu sou de São Paulo, eu também sou urbano. Isso é uma moda nacional que eu acredito, sabe, que engloba tudo isso, sabe, as nossas coisas tão fortes, a nossa cultura tão presente nas nossas vidas e que o brasileiro em geral ele tenta ocultar, mas a gente tem que ter respeito por aquilo que a gente acredita, que a gente vive, nossas vivências. Nacional é isso, a identidade acima de tudo, de originalidade.”

    ANDRÉ NAMITALA (Handred)

    De maneira mais óbvia, é moda feita e pensada por brasileiros. Pensada, contextualizada, inspirada e em constante diálogo com nossos códigos e com os recortes escolhidos da nossa cultura, que é gigantesca e muito plural.
    É curioso como muitas vezes as roupas carregam a nacionalidade de uma maneira muito clara. Os repertórios são facilmente decifrados sem qualquer necessidade de apresentação. Vem a cabeça muito rápido o que seria o estilo italiano, o francês, o mexicano, o japonês.

    Mas o Brasil é enorme e complexo. São muitos Brasis. Não se classifica só em moda praia, só em sexy, só em estampa de fauna ou flora. É um liquidificador de artesanias, de heranças, de natureza e grupos sociais. É uma roupa com cara de livre, de respiro, uma moda que dança.

    Não deixe de ver
    Cantão lança a coleção Mergulho celebrando a força feminina
    O desfile da Victoria’s Secrets de 2024 até tentou, mas agradrou?
    Victoria’s Secrets Fashion Show 2024 volta com mais diversidade
    Tudo sobre o Victoria’s Secret Fashion Show 2024
    Silvério anuncia Sud como diretor criativo da linha Essencial
    Converse volta com clássico modelo de cano alto 18 anos depois
    DRAPEADOS SÃO AS GRANDES APOSTAS DO VERÃO 2O25
    FARM Rio e Adidas celebram uma década de criatividade em nova coleção
    “Impecável: a confecção do estilo negro” é o tema da próxima exposição do met
    Simon Porte Jacquemus é o novo curador da exposição de Lalanne na Christie’s
    FFW