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    Tarsila do Amaral e Paul Poiret: Amizade e o vestido de casamento histórico

    No aniversário de Paul Poiret, lembramos da amizade e da troca criativa com Tarsila do Amaral, com quem não só vestiu mas também construiu uma imagem. 

    Tarsila do Amaral e Paul Poiret: Amizade e o vestido de casamento histórico

    No aniversário de Paul Poiret, lembramos da amizade e da troca criativa com Tarsila do Amaral, com quem não só vestiu mas também construiu uma imagem. 

    POR Gabriel Fusari

    “Caipirinha vestida de Poiret. A preguiça paulista reside nos teus olhos, que não viram Paris, nem Piccadilly, nem as exclamações dos homens.”  A frase é de Oswald de Andrade, no poema Atelier em que ele se declama romanticamente a Tarsila do Amaral, sua amada. Mas o nome que aparece ali — Paul Poiret — diz muito sobre o que vestia (e o que significava vestir) Tarsila do Amaral. 

    Poiret não era apenas um costureiro francês do início do século XX. Era o tipo de figura que entendia a moda como narrativa. Cada peça saía do seu ateliê como se fosse uma história: túnicas que lembravam quimonos, vestidos com nomes próprios, tecidos inspirados no Marrocos, joias e perfumes com o nome da filha (Rosine). Isso sem falar nos mobiliários que eram desejo entre as fashionistas da época, que queriam se vestir e vestir a casa de Poiret. Ele era um dos poucos naquele tempo que pensava em moda como um todo — da roupa ao cheiro, da festa ao cenário.

    Em 1926, durante a vernissage na Galeria Percier, em Paris, Tarsila do Amaral posa usando o vestido Écossais, em frente à sua obra Morro de Favela.

    Quando Tarsila ia a Paris, não saía apenas com vestidos sob medida. Poiret também desenhava móveis, acessórios e looks completos para ela. A relação entre os dois era estética, íntima e cheia de fantasia. Segundo Carolina Casarin, no livro O Guarda-Roupa Modernista, foi a partir de 1923 que Tarsila começou a se vestir mais intensamente com peças de Poiret. Isso coincidiu com o momento em que sua imagem pública deixava de ser discreta e assumia o visual exuberante que conhecemos hoje. 

    A pintora usava Poiret como quem performava: em jantares, festas e até na fazenda da família no interior de São Paulo. Era a fase em que os vestidos encurtavam, os braços apareciam, os tecidos ganhavam camadas e ornamentos. Como diz Casarin, a figura da “mulher elegante e rica” se convertia na imagem da “artista exuberante” — e Poiret tinha tudo a ver com essa transformação. Afinal, ele fez o papel de stylist muito antes da profissão existir, ajudando a criar atmosfera, personalidade e imagem pública por meio de suas criações.

    Vestindo o modelo Raight, Tarsila posa ao lado de Oswald. Poiret costumava dar nome às peças que criava.

    Na contramão das silhuetas práticas de Chanel ou técnicas de Vionnet, Poiret preferia o espetáculo. Suas roupas não queriam passar despercebidas. Queriam causar. Um bom exemplo disso é o vestido Écossais, usado por Tarsila em sua primeira exposição individual, na Galeria Percier, em Paris — uma peça com padronagem gráfica marcante e estrutura reta, que dizia mais sobre ela do que mil entrevistas.

    A unica parte que restou de seu vestido de noiva,
    a capa que acompanhava o look, feito por Poiret.

    Mas talvez o momento mais simbólico dessa parceria tenha sido o vestido de casamento entre Tarsila e Oswald, em 1926. A peça, criada por Poiret a partir da cauda do vestido da mãe do noivo, era creme, com uma capa branca de veludo e gola em pé. Não há imagens da cerimônia, só descrições. E o próprio vestido hoje é um conjunto de fragmentos guardados na Pinacoteca. Fragmentos que, como define Casarin, formam uma roupa antropofágica: misto de tradição familiar e atualização modernista.

    Junto de seu esposo Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral veste uma criação de Paul Poiret, em 1926.

    Poiret também era isso. Um estilista que não desenhava apenas para o corpo, mas para a atmosfera. Criava desfiles que pareciam festas, eventos com música, encenação, gente. Ele entendeu antes de muitos que a moda podia ser espetáculo — e que o estilista podia ser autor. Apesar disso, sua maison fechou em 1929. A moda seguiu outros rumos. O modernismo também. Mas as imagens — ainda que em fragmentos — permanecem. 

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