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    Quanto lixo gera sua rotina de beleza?

    Analisamos o impacto ambiental da gigante indústria da beleza em entrevistas com experts e marcas nacionais

    Quanto lixo gera sua rotina de beleza?

    Analisamos o impacto ambiental da gigante indústria da beleza em entrevistas com experts e marcas nacionais

    POR Luxas Assunção

    Entre embalagens de plástico, inúmeros lançamentos e um problema intenso de reciclagem, o setor da beleza recebeu o benefício da dúvida por bastante tempo, mas com o boom de novas marcas, produtos e rotinas de beleza cada vez mais complexas, é impossível não questionar: para onde vai tudo isso? 

    Enquanto discussões sobre o impacto ambiental da moda já aparecem há algum tempo, com razão, a poluição e a geração de lixo pela indústria da beleza e da maquiagem ainda são tópicos pouco frequentes do dia-a-dia de grande parte da população. Compramos dezenas de novos produtos, com embalagens plásticas que acabam em pouco mais de um mês e por muitas vezes não nos questionamos sobre o destino desse lixo ou sequer sobre as políticas de sustentabilidade das empresas de beleza. 

    Isso é ainda mais alarmante quando compreendemos que alguns dos principais poluentes dos oceanos, como os microplásticos e o glitter, têm grande parte de sua origem na cadeia produtiva de beleza. Mundialmente, a indústria da beleza move mais 500 bilhões de dólares, e a expectativa é que ela cresça até valer 820 bilhões de dólares até 2023, segundo o Euromonitor.

    Mais de 120 bilhões de unidades de embalagens são produzidas por ano, a maioria de plástico, segundo pesquisa do Commercial Waste. Por sua vez, a indústria de embalagens para beleza e higiene pessoal vale em torno de 25 bilhões globalmente, segundo o National Geographic. Segundo uma pesquisa do Statistics, 120 bilhões de embalagens são produzidas anualmente pela indústria da beleza. 

    Entendemos que, atualmente, cada vez mais há uma preocupação do coletivo com o meio ambiente, com o excesso de lixo, desperdícios e especialmente com a saúde. Nesse cenário, não há mais espaço para uma rotina longa e complicada repleta de produtos de skincare e maquiagem com suas embalagens plásticas e toxinas.” afirma Patrícia Camargo, da Care Natural Beauty.

    Ainda, de acordo com uma estimativa do site Mint, se você usar apenas uma unidade dos produtos básicos, como xampu, condicionador, sabonete e pasta de dentes por mês, em um ano, seu descarte pode chegar a até 500 embalagens de produto, apenas com o básico. Uma pesquisa da Skin Score, de 2017, afirmou que a maioria das mulheres usam em média 16 produtos apenas em seu rosto. 

    Sobre a sustentabilidade no mercado de beauté, Patricia Lima, fundadora da Simple Organic, marca de clean beauty, que tem a sustentabilidade como premissa, questiona: “A partir do momento que existe sim possibilidade, tecnologia, alta performance por que não entregar o que tem de melhor na natureza para o nosso corpo? Que vai fazer muito bem para nossa pele, que faz muito bem a entrega de resultado de skincare e de maquiagem. E ainda, dessa forma, vai contribuir para um mundo melhor por meio de um extrativismo sustentável, uma cadeia transparente, neutralização de carbono.”

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    A HISTÓRIA DO PLÁSTICO NA INDÚSTRIA DA BELEZA

    Mas não foi sempre assim. No passado, as embalagens de itens pessoais de beleza não eram todas de plástico, sabonetes vinham apenas em barra, perfumes de luxo, em embalagens refinadas de vidro e os produtos para cabelo eram em sua maioria pomadas em textura de pó. No entanto, após a 1ª Guerra Mundial, os Estados Unidos se tornaram ávidos consumidores dos produtos de higiene pessoal, com uma campanha para a redução de proliferação de doenças, principalmente entre as tropas norte americanas. 

    Nesse contexto, a indústria da beleza explodiu nos anos 1920 e rapidamente se direcionou para o público feminino, associado ao glamour da década e de Hollywood. Durante a 2ª Guerra Mundial, o batom foi inclusive declarado um item de alta necessidade para tempos de guerra. Foi então durante o boom da indústria de plástico no meio do século XX, que a indústria da beleza se aproveitou do novo material para se popularizar ainda mais. 

    Essa história ainda é ligada à popularização dos chuveiros – isso mesmo – quando a maior parte dos banhos era realizada em rios ou banheiras, produtos sólidos e que boiassem eram a aposta do mercado; com o surgimento dos chuveiros, produtos com água em sua formulação e embalados em plásticos tiveram maior demanda popular. Desde então, a produção de plástico pela indústria da beleza nos EUA aumentou em mais de 120 vezes (a partir de 1960). 

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    A extensa rotina do skincare

    Os padrões de beleza também têm um papel importante no consumo exacerbado de produtos de maquiagem, sempre criando novos ‘defeitos’ e novas necessidades de consumo. O skincare, que parecia ter chegado para pregar uma beleza natural, também foi responsável pela criação de uma série de novas demandas de peles perfeitas,  produtos milagrosos e rotinas sem fim. 

    Luanda Vieira, expert em Beauté | Reprodução Instagram

    Luanda Vieira | Reprodução Instagram

    “Caímos no perigo da ‘cútis perfeita’ e a relação de quem tem acnes, por exemplo, passou a ser contraditória, afinal, mil passos copiados não resolvem doenças da pele sem a ajuda de profissionais. Hoje, já temos movimentos semelhantes ao body positive, como o skin positive, que nos incentiva a gostar da pele que temos, seja com manchas, acnes, etc” afirma a consultora e expert em beleza Luanda Vieira.

    COMO O MERCADO TEM ATUADO PARA REDUZIR O PLÁSTICO

    A indústria já se atentou à demanda dos consumidores por mais sustentabilidade e pela redução do lixo, seja por uma real tomada de consciência ou por ver uma nova oportunidade de negócios e pioneirismo nesse segmento.  “Após criar o problema, hoje vemos marcas correndo atrás do prejuízo, usando embalagens de vidro 100% reciclável, por exemplo, ou dedicando parte de suas linhas a uma produção mais sustentável” diz Luanda. 

    A Unilever e a L’óreal assinaram a meta “New Plastic Economy” da Fundação Ellen MacArthur e a segunda, afirma que vai transformar 100% de suas embalagens em reutilizáveis, com refil ou compostáveis até 2025 e usar pelo menos 50% de suas embalagens de material reciclado. 

    A Estée Lauder (dona de marcas como Bobbi Brown, Jo Malone, Smashbox, as fragrâncias Tom Ford e M.A.C) também afirma que até 2025 entre 75-100% de suas embalagens serão recicláveis, recicladas ou reutilizáveis. 

    Por sua vez, a Natura, em página oficial de sustentabilidade no seu site, afirma ser carbono neutro desde 2007 e que busca utilizar 74% de material reciclado em suas embalagens e 10% de material reciclado pós-consumo nas embalagens Natura Brasil até 2020 (o relatório não afirma se a marca conquistou as metas estipuladas até o ano passado). Além disso, a marca também afirma ter reduzido em até 33% sua emissão de gases de efeito estufa de 2006 a 2013 e produz embalagens de refil. 

    Já o grupo Natura&Co., também dono de marcas como Avon, The Body Shop e Aesop, afirma em seu documento “Compromisso com a Vida”, o objetivo de reunir esforços coletivos para acabar com o desmatamento da floresta Amazônica até 2025, aumentar a diversidade na liderança do grupo e promover a circularidade de embalagens, para que 100% de seus materiais sejam reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis.

    O Grupo Boticário, na área de sustentabilidade do site, aponta para a reciclagem de suas embalagens, que pode ser devolvida nos mais de quatro mil pontos de coleta espalhados pelo Brasil e a reciclagem de mais de 2 toneladas de plástico em 2021, transformadas em espaços escolares. No entanto, a marca não traz informações sobre a composição de suas embalagens ou compromissos de redução de embalagens para o futuro, além das iniciativas de reciclagem. 

    Em seu site, a Nivea traz dados sobre a redução de emissão de gases carbono entre 2016 e 2018, sobre a redução de material plástico em suas embalagens e que faz parte do compromisso Beiersdorf, de ter 25% de material reciclado nas embalagens plásticas até 2025 e chegar em até 100% de embalagens recicláveis até a data, na Europa. A marca também afirma o objetivo de reduzir em 100% os microplásticos em seus produtos até 2020, mas não atualiza se atingiu a meta em sua página oficial. 

    O problema, no entanto, de criar embalagens recicláveis ou reutilizáveis é jogar sobre o consumidor a responsabilidade social de encontrar meios de reciclar, devolver ou reutilizar essas embalagens, a não ser que haja uma grande penetração e acessibilidade no território nacional de postos de coleta e reciclagem – o que, infelizmente, não é o caso. Patricia Lima, CEO da Simple Organic, concorda: “O pós consumo é o grande X da questão na indústria da beleza, não só da beleza, mas como um todo. Não adianta a gente olhar e pensar naquele produto e ver o resultado da fórmula e não pensar em qual vai ser o descarte ou destino daquela embalagem no momento que o produto acabar”

    Patricia Lima, Simple Organic | Cortesia

    Patricia Lima, Simple Organic | Cortesia

    E esse é uma das principais dificuldades do consumidor que busca consumir de forma mais sustentável: conseguir separar as ações reais de marcas que se importam com pequenos passos de greenwashing – que buscam apenas mascarar a poluição das grandes empresas. 

    Para Luanda Vieira, o maior desafio do mercado de beauté atualmente, no que tange a sustentabilidade, é dar destino à quantidade de lixo que já foi produzida até agora, e buscar alternativas de gerar menos lixo na cadeia produtiva para o futuro. 

    COMO AS NOVAS MARCAS TÊM ATUADO

    Há alguns anos, a britânica Lush, fundada em 1995, entenderia que uma maneira de reduzir a produção de embalagens e plástico em sua produção seria simplesmente retirar a água da composição de seus produtos, voltando a produzir cosméticos em barra – como lá no século XX, antes da popularização dos chuveiros. Além disso, a marca também começou a vender seus produtos no formato naked, isto é, seus consumidores iam às suas lojas e compravam seus produtos sem nenhum tipo de embalagem, direto das prateleiras para suas próprias sacolas e ecobags, como numa feira. 

    Na época, a ação causou mais burburinho e de uma forma mais possível para o dia a dia, levou uma série de marcas a começarem a produzir em barra e criar embalagens mais simples e menos poluentes, de papel ou papelão reciclado, por exemplo. É o caso da marca brasileira B.O.B, Bars Over Bottles (em tradução livre, barras ao invés de embalagens); uma das pioneiras no mercado nacional a trazer os produtos cosméticos de uso pessoal como shampoo, condicionador e limpadores faciais em versão de barra. 

    A ideia da B.O.B, que significa bars over bottles, foi desde o início a de reduzir o impacto ambiental e resíduos produzidos pelos cosméticos de uso diário. A indústria convencional de cosméticos precisa se ajustar à nova realidade de mundo, em que o consumidor enxerga cada vez mais o impacto dos itens que consome, e valorizará cada vez produtos que o ajudam a reduzir sua pegada no planeta. Daí que trouxemos o conceito de ‘Waterless Cosmetics’ para o Brasil” conta Andreia Fulana, fundadora da B.O.B “Quando explicamos que um shampoo convencional tem mais de 80% de seu volume em água, rapidamente fica compreensível o impacto ambiental desnecessário de se transportar basicamente água em toda a cadeia logística, e ainda precisar de recipientes descartáveis, que duram mais de 400 anos no ambiente para se decompor.”.

    Produtos B.O.B | Cortesia

    Produtos B.O.B | Cortesia

    Segundo Andreia, a B.O.B também produz todas as suas embalagens em papel, o que tem um tempo de decomposição significativamente menor, além de terem uma parceria com a EuReciclo, onde a marca compensa todos os resíduos sólidos criados durante o processo produtivo. 

    Para a Simple Organic, a sustentabilidade sempre foi a premissa inicial: “A escolha dos materiais é muito importante, alumínio, vidro, materiais que são importantes dentro da cadeia de logística reversa e de reciclagem, a gente tem desde selo de compensação de reciclagem, até a logística reversa feita nas nossas lojas, que é um incentivo para o consumidor, por meio de desconto, a pessoa leva um produto e devolve para que ele seja descartado de forma correta”. A Simple Organic também se adaptou para o mercado e passou a ter produtos em barra, sem água em sua composição e apenas com envelopes de papel como embalagem. 

    Sérum da Simple Organic | Cortesia

    Sérum da Simple Organic | Cortesia

    A Care Natural Beauty, aposta em uma outra tendência, as embalagens de vidro e refil, uma forma de gerar menos lixo e menos embalagens, além de valorizarem o Clean Beauty – que busca uma beleza mais limpa, natural e com menos produtos químicos danosos ao meio ambiente. 

    Produtos e Refil da Care Natural Beauty | Cortesia

    Produtos e Refil da Care Natural Beauty | Cortesia

    “As nossas embalagens são predominantemente de vidro, papel e temos os nossos refis de alumínio; contamos com o Selo Eu Recilco e com o selo Carbono Zero (para compensação da emissão de carbono de nossa cadeia). Para única embalagem plástica que temos na linha, a máscara de cílios (que precisa do plástico para dar estabilidade) temos a parceria com o selo Eu Reciclo que fomenta as cooperativas recicladoras e compensa todo e qualquer impacto ao meio ambiente” nos conta Patrícia.

    Bioart Dermocosméticos | Reprodução

    Bioart Dermocosméticos | Reprodução

    Fundada em 2010 com a proposta de criar biodermocosméticos, a Bioart também é uma das marcas que pauta a sustentabilidade na cadeia da beleza: “O compromisso da Bioart com a verdade e a qualidade na fabricação de seus produtos pode ser visto durante todo o nosso processo – desde a criação, passando pela rastreabilidade dos ingredientes e pela forma de comercialização que, por sua vez, valoriza o consumo consciente e o reuso de embalagens.”. A marca também implantou um sistema de reciclagem direto no seu primeiro quiosque, inaugurado no último mês em que as embalagens devolvidas se tornarão novos embalagens e partes das próximas lojas. 

    O FUTURO DA SUSTENTABILIDADE NA BELEZA

    Algumas neomarcas, bem como marcas veteranas, têm encabeçado reais mudanças e anseios por sustentabilidade no mercado de cosméticos. Um consumo mais consciente, com menor geração de demandas e lançamentos de novos produtos e menos incentivo ao consumo são passos primordiais na geração de uma cadeia mais sustentável. 

    “Acredito que uma ótima alternativa é o crescimento de marcas que vendem produtos customizados, como temos visto no segmento de xampus. As empresas não precisam produzir em larga escala e evitam o desperdício. Olho essa possibilidade também como uma ação de diversidade e inclusão. Essa sensação de pertencimento na hora de escolher o produto é o que o brasileiro tem buscado cada vez mais” finaliza Luanda Vieira. 

    Existem alternativas e cada vez mais avanços tecnológicos para a geração de uma cadeia produtiva menos danosa ao meio ambiente, no entanto, parte dessas iniciativas sempre esbarra no lucro; e aí, cabe às marcas se posicionarem. 

    É o que conta Patrícia Lima, da Simple Organic, sobre os processos de expansão da marca: Quando a gente fala de marketplace, para atender a marca, eles não estão preparados, eles ainda estão numa política de plástico no envio do produto. Atrasamos o máximo nossa entrada no marketplace, até eles estarem um pouco mais preparados para as políticas de envio da Simple. Então a expansão da marca, exige que o mercado também acelere esse olhar para a sustentabilidade, entendemos que fazemos muita diferença no mercado brasileiro, a partir do momento que exigimos que todos nossos parceiros comecem a adotar essas políticas.”

    Cabe uma reflexão a todos nós consumidores dessa indústria: quanto lixo geram nossas rotinas de beleza? Mas ainda há a necessidade de cobrança e mudanças efetivas por parte das marcas para oferecerem produtos mais sustentáveis, reduzir ou zerar a geração de lixo atual e dar conta de ressignificar e resgatar o lixo que já foi produzido ao longo do último século. 

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