*Matéria atualizada após novas informações da Chanel
No final do ano passado, a Chanel chamou atenção ao realizar um reajuste significativo no preço de suas bolsas. Alguns dos modelos receberam aumentos estimados de mais de 20% no valor de suas etiquetas, esbarrando nos preços da Hermès e significando um aumento de até 60% em comparação aos valores de 2019. Esse foi o quarto aumento de preços da Chanel desde o início da pandemia. A A bolsa Chanel Classic Flag passou a custar na França 7,800 euros (em torno de 45.000 reais), 100 euros somente a menos que a desejada e rara bolsa Birkin, da Hermès.
Não obstante, a marca também passou a aplicar uma política de uma única compra por pessoa na Coreia, limitando o número de itens por cliente da marca, em algo que parecia ser uma mudança de posicionamento, ou afunilamento de público.
Contactamos a marca sobre o assunto, que nos afirmou que: “Como todas as grandes marcas de luxo, ajustamos regularmente nossos preços para levar em consideração mudanças em nossos custos de produção e preços de matérias-primas, bem como flutuações nas taxas de câmbio.
Uma bolsa Chanel, seja ela icônica ou parte das últimas coleções, encarna o que a Maison Chanel tem de melhor. Todas elas carregam os valores e características que tornaram a marca icônica ao longo dos anos: uma criatividade única, um reconhecido know-how, design francês, um compromisso inabalável com a preservação do artesanato e instalações e estrutura para sua fabricação na vanguarda da inovação.” afirma a assessoria da Chanel no Brasil.
AUMENTO NOS PREÇOS DO LUXO
Mas, o que parecia uma mudança de posicionamento da Chanel, para aumento de exclusividade e uma competição mais árdua com outras grandes concorrentes do segmento como Hermès, foi seguida por outras marcas e holdings. Há poucos dias atrás, a Louis Vuitton e o grupo LVMH como um todo, anunciou um reajuste nos seus preços, segundo o Reuters, para lidar com os custos de transporte, produção e aumento da inflação a nível mundial.
A Louis Vuitton aumentou todos os preços em 7%, e 1% a mais em artigos de couro. Enquanto o preço das bolsas mais populares da marca teria recebido aumentos de até 25%, segundo analistas. Em Shangai, a influenciadora sino-brasileira Priscila Jihn mostrou em seus stories uma série de consumidores chineses se abarrotando de compras nos shoppings locais antes que o aumento dos preços entrasse em vigor.
Espera-se que o grupo Kering (Saint Laurent, Balenciaga, Gucci) siga na mesma direção, que também já começa a aumentar seus preços. Segundo o Reuters, a Marmont, da Gucci, já recebeu um ajuste de 3% em seu valor, enquanto outros acessórios podem aumentar em até 15%. Em janeiro, a Balenciaga também já teria aplicado um reajuste para a China, de até 4% na bolsa Hourglass, que pode seguir para outras localidades.
Enquanto a maioria das marcas justifica a subida nos preços devido ao aumento da inflação e consequentemente, dos custos de produção, isso não quer dizer uma diminuição dos lucros dessas marcas desde o início da pandemia, muito pelo contrário. Apesar de um ano estagnado em 2020, com a explosão da pandemia, a grande maioria das marcas de luxo apresentou crescimentos vertiginosos que significariam mais que uma recuperação em 2021.
As vendas do grupo LVMH dispararam no último ano, com crescimento de 47% e estima-se que a Louis Vuitton sozinha tenha gerado mais de 16 bilhões de euros no ano. Comparativamente, a marca cresceu 11% desde 2019, com o setor de artigos de luxo apresentando um crescimento de 38%.
Já a Gucci, do grupo Kering, reportou um crescimento de mais de 35% no último ano enquanto o grupo espera confirmar um crescimento de 20% apenas no último trimestre de 2021 – a ser revelado em breve, nas prestações de contas do grupo. O grupo também reporta um crescimento total de 35% ano-após-ano em 2021, segundo dados do BoF, o que representa um crescimento de 13% desde 2019.
o de cima sobe e o de baixo, desce.
Com isso, está posto que o aumento nos preços não vem de um risco de prejuízo, apesar de Bernad Arnault, presidente do grupo LVMH, afirmar que “são tempos difíceis” para o grupo financeiramente. Esse aumento nos preços, no entanto, não deve impactar fortemente os grandes clientes dessas marcas.
Desde e explosão da COVID-19 no mundo, ocorreu uma aceleração da concentração de renda e desigualdade social. Os ricos ficaram mais ricos e os pobres, mais pobres. Estima-se hoje que os 10% mais ricos do mundo tem 76% do patrimônio do planeta. No Brasil, o 1% mais rico da população ganha até 35 vezes mais que os 50% mais pobres. De 2020 para cá, um seleto grupo de milionários e bilionários, menos de 0,0001% da população mundial, viu sua fortuna crescer em 14%, em contrapartida, 100 milhões de pessoas caíram para a pobreza extrema.
Por sua vez, o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, na frente de EUA e China. Por aqui, os 10% mais ricos concentram 59% da renda nacional total, enquanto a metade inferior da população leva apenas cerca de 10%. O fosso é maior do que nos EUA, onde o ‘top 10%’ capta 45% da renda nacional total, e na China, onde essa parcela leva 42% da renda.
Enquanto possa parecer estranho falar do aumento do preço de bolsas como algo significante para as desigualdades sociais, o luxo, bem como este aumento de preço é bastante sintomático do aumento da concentração de renda e desigualdade social ao redor do mundo. Enquanto os ricos continuam gastando milhares de reais em artigos de luxo, a classe média perdeu poder de consumo, resultando indiretamente em ainda mais exclusividade e diferenciação social por esses produtos.