Temos visto o quanto tem se falado em logomania de novo de uns tempos para cá. Mas a tendência que foi um dos grandes hypes do final dos anos 80 e parte dos 90, acabava por encontrar seu oposto, o das marcas que criavam sua comunicação aplicando o design gráfico de forma minimalista e inteligente.
Logos sempre foram trabalhados como ferramenta de marketing, uma maneira de chamar a atenção, causar reconhecimento e conectar sua marca à palavras chave como qualidade. Assim, se você usava e gostava de um produto da marca X, da próxima vez era só ir direto atrás do logo que era seu porto seguro e sinônimo de que estava gastando bem seu dinheiro. E assim foi a vida toda para comprar cosméticos, roupas, tênis, sabão em pó, shampoo para bebê… Quem tinha mais verba, anunciava mais e abocanhava fatias maiores do mercado.
Lembro quando lojas da japonesa Muji começaram a aparecer em pontos comerciais de cidades como Londres. Era um respiro entrar naquele mundo brandless, minimalista, transparente e com bons preços. E ainda assim, tudo parecia ter qualidade, nada parecia barato ou ruim.
Pois um movimento parecido está ganhando cada vez mais força, o das marcas sem logo, mas com ética e qualidade inegáveis.
Uma delas é a The Unbranded Brand, grife de jeans lançada por Brandon Syarc, veterano do segmento (ele lançou a Naked & Famous). Sua nova empreitada é comunicada assim: “jeans with no branding, no washes, no embroidery, no ad campaigns and no celebrities”. Não tem nem a etiqueta com o nome (ou o não nome). Quer dizer, tem a etiqueta, mas ela é um patch de couro liso, sem nada.
Outra iniciativa é o e-commerce Brandless, que vende produtos de toda ordem (papelaria, beleza, cozinha e até alimentos) sem comunicação via logomarca e com atenção à produção – sua linha de beleza, por exemplo, é livre de 400 ingredientes que prejudicam a saúde, como parabenos, polipropilenos e sulfatos. Uma informação importante: todos os produtos estão à venda por apenas 3 dólares (e não se trata de trabalho escravo).
Em uma entrevista ao site The Fashion Law, a empresa diz que consegue oferecer preços baixos porque conseguiu abolir o BrandTax™, “os custos escondidos” que você paga por uma marca nacional. “Nós fomos treinados a acreditar que esses custos aumentam a qualidade, mas raramente é o caso. Estimamos que um consumidor comum paga pelo menos 40% a mais para produtos de qualidade similar a nossa. E às vezes 370% a mais para produtos de beleza como creme para o rosto”. 370% é realmente um número que chama atenção.
Portanto, está implícita nessa nova geração de marcas uma consciência em relação ao que você gasta para operar uma empresa da maneira antiga. De acordo com a The Unbranded Brand, sem campanhas ou outros esforços de marketing, o consumidor paga apenas pelo produto – no caso deles, um calça jeans sai por entre $82 e $118 (em comparação, uma calça da Acne pode custar até mais de US$ 300). “A diferença entre um jeans que custa US$ 250 e um que custa US$ 80 é o hype – aka custos de marketing”, diz Svarc. O que ele fez foi eliminar tudo o que era desnecessário e focar em bom caimento, construção sólida e um jeans de ótima qualidade. “Enquanto outras empresas tentam criar uma imagem através de campanhas publicitárias super caras ou pagando celebridades, nós fazemos o oposto. Achamos uma besteira jeans que são muito caros ou muito hypados. É por isso que decidimos focar nos essenciais. Ao eliminar o que não é necessário, podemos oferecer um produto melhor por um preço melhor”, diz a marca em seu site.
Essa é uma tendência é crescente no mercado e está alinhada com o interesse do consumidor atual em pagar menos por produtos de marca. Hoje, com o acesso não só à informação, mas também ferramentas de criação e sites, plataformas, e-commerces e claro, redes sociais, fica mais fácil de fazer, vender, comunicar e comprar (ainda com a ajuda dos reviews de quem já usou).
Outra marca nos Estados Unidos que está indo por esse caminho, é a Glossier, da blogueira-empresária Emily Weiss, fundadora do blog Into the Gloss. Sua grife de beleza estourou e tem crescido a passos largos desde que foi lançada em 2014. Weiss trabalha com o logo de diversas formas, mas alguns produtos não têm logo algum, apenas uma super elaborada direção de arte que acende sob nossos olhos – as embalagens da linha Cloud Paint, com design minimalista e apenas a cor do balm na tampa.
Aqui no Brasil, a gente já falou de marcas pequenas como a Nu Cosméticos, que vende produtos naturais e artesanais e aplica os ingredientes dos produtos na própria embalagem em vez de um logo.
Esses são apenas alguns exemplos que evidenciam uma nova maneira de se relacionar com as marcas, bastante focada em transparência. Se antes, o quanto mais caro o produto, melhor ele seria – na nossa convicção antiga – hoje, ao menos em alguns casos, essa premissa cai por água abaixo. Não se discute a qualidade e o valor de muitas empresas que investem no marketing tradicional. O que muda agora é que há opções de qualidade a preços mais acessíveis e que se comunicam através de valores essenciais, valores que por sua vez, atingem os novos consumidores, uma geração mais informada e com maior poder de escolha.
Se você conhece uma marca assim, compartilhe nos comentários!