Se você gosta de moda e de comprar as últimas tendências, você provavelmente já ouviu falar ou até mesmo já caiu na tentação de comprar algum produto da Shein, a varejista chinesa que virou fenômeno de vendas de mãos dadas com os influencers. Com vestidos custando módicos nove dólares e pares de tênis custando 12, a Shein tem levantado questionamentos sobre as condições de sua força de trabalho e produção desde que despontou no mercado há pouco mais de cinco anos. Foi durante a pandemia que a empresa chinesa chegou oficialmente ao Brasil e começou a chamar atenção, decolando meteoricamente ao longo dos últimos 12 meses, muito alavancada pelo alto investimento em mídia e publis, pelos hauls e vídeos de Youtubers com comprinhas.
Em diversas redes sociais, influenciadores e produtores de conteúdo postam suas compras na varejista, avaliando a qualidade e o custo-benefício dos produtos da marca e exaltando o fato de estarem disponíveis produtos em tamanhos diversos e ser inclusiva sem se questionar sobre o quão viável é a produção de roupas a esse preço e as condições de trabalho das fábricas para o custeio de peças tão baratas. Mesmo com a desvalorização internacional do real, os preços das peças ainda são muito baixos.
A agência internacional de notícias Reuters investigou a verdade por trás das afirmações oficiais disponíveis na página de Responsabilidade Social no site da empresa, que afirma ter boas condições de trabalho e não se relacionar com trabalho escravo ou infantil. No entanto, segundo uma apuração da Reuters, essa informação pode não ser tão verdadeira assim.
Ao serem contatados pela jornalista Victoria Waldersee, a marca se negou a revelar sua receita anual – em diversos países, marcas com receitas maiores que 36 milhões de libras são legalmente obrigadas a apresentar uma série de informações sobre as condições de trabalho em suas fábricas. Analistas estimam que a receita da empresa gira em torno de de 5 bilhões de libras anualmente, com valor estimado de mercado em 15 bilhões.
A marca ainda afirmou à jornalista que estaria providenciando as informações exigidas legalmente, que seriam publicadas até o dia 02 de agosto, o que não aconteceu. O site Reuters também afirma que não conseguiu acesso a nenhuma das fábricas utilizadas pela Shein ou aos salários pagos pela empresa a seus funcionários.
Sabemos que o fast-fashion nada de braçada nas brechas das legislações trabalhistas em diversos países, mas mesmo as principais rivais da marca, como a H&M, Asos, Boohoo e Zara, hoje em dia publicam relatórios com diversos dados de transparência. No caso da H&M e da Inditex (Zara), esses dados incluem até endereços e nomes específicos das fábricas que as marcas utilizam.
Ainda segundo a Reuters, a Shein afirma em seu site que é certificada pelo International Organization for Standardization (ISO) e pela SA8000, ambas, organizações internacionais de regulamentação da mão de obra e força de trabalho. A reportagem da Reuters afirmou que porta-vozes de ambas afirmaram não terem relação, certificação ou contato com a marca chinesa, que posteriormente a reportagem retirou a menção a essas organizações de sua página.
Casos como esses levantam o questionamento de até quando as pessoas farão vista grossa às condições de trabalho análogo à escravidão e trabalho infantil para ter sempre novas peças de roupa bonitas a preços baixos? É importante lembrar que se o consumidor não está pagando o preço real de uma roupa, é porque alguém, em outro lugar – possivelmente do outro lado do mundo – está. Também é importante reforçar a necessidade de legislações que obriguem marcas a serem mais transparentes e fiscalização constante das condições de suas fábricas e de seus funcionários.
Além disso, a marca frequentemente é acusada de plágio por uma série de pequenos criativos e designers. No caso mais recente, a designer Bailey Prado acusa a varejista chinesa de copiar mais de 40 de seus looks de crochê; a marca tirou de circulação 10 desses looks e manteve o restante à venda.
Curiosamente, a marca anunciou nos últimos dias o projeto Shein X, um reality-show/incubadora de novos talentos, criada para descobrir novos talentos de moda para venderem suas peças na Shein. O projeto conta com personalidades como Christian Siriano e Khloé Kardashian como porta vozes e jurados, e já nasceu em meio à uma série de controvérsias em torno do suposto apoio da empresa e dessas personalidades a novos designers enquanto a marca sofre acusações de plágios de vários criadores.