Por Luiz Henrique Costa
Com sucessivas quedas de audiência, a temporada de premiações do cinema internacional chega a seu momento principal no próximo domingo (27/03) com o Oscar 2022, em Los Angeles. Depois de uma cerimonia estrita em 2021, o evento deste ano deve marcar uma volta grandiosa, com a presença de todas as estrelas no redcarpet e no palco do Dolby Theater, que receberá espetáculos e aguardadas apresentações de nomes como Beyoncé e Billie Eilish. De olho na audiência jovem, a Academia criou a categoria “Filme Favorito dos Fãs” com voto popular via redes sociais.
MELHOR FILME
Em ampla vantagem na corrida é ‘Ataque dos Cães’ concorrendo com 12 indicações. Uma trama difícil, mas bem sucedida, dirigida por Jane Campion e adaptada do livro homônimo de Thomas Savage.
Nem sempre o filme com o maior número de indicações leva a melhor, é verdade. Alguns hypes que prometem muito o ‘O Irlandês’ que deixou Scorsese de mãos abanando, podem amargar na disputa.
Seria ‘Ataque dos Cães’ o ‘O Irlandês’ da vez? Difícil dizer. O Oscar é um evento muitas vezes imprevisível.
O filme se passa em um rancho em Montana onde dois irmãos vivem cercados por gado. De personalidades opostas, Phil e George são vividos por Benedict Cumberbatch e Jesse Plemons respectivamente.
A trama se desenrola quando George se encanta pela personagem de Kirsten Dunst, uma viúva que possui um pequeno restaurante/hospedaria e vive com o filho adolescente, Kodi Smit-McPhee, um garoto sensível, tímido e de uma inteligência acima da média.
O relacionamento entre os dois escancara os traços da mente perversa e misógina de Phil. O rancho em que viviam sozinhos como herdeiros é o epicentro materializado de toda a sua masculinidade tóxica.
Masculinidade tóxica e solidão permeiam todos os pontos do ótimo roteiro e vão de encontro a uma fotografia empoeirada, quente, sufocante. Os campos bem abertos se contrapõem aos ambientes dos casarões escuros, sem vida. O resultado visual é cheio de simbologias – do celeiro até o labirinto secreto onde Phil se despe de si mesmo.
‘Ataque dos Cães’ concorre em Melhor Filme, Melhor Ator (Benedict Cumberbatch), Melhor Ator Coadjuvante (Jesse Plemons e Kodi Smit-McPhee), Melhor Atriz Coadjuvante (Kirsten Dunst), Roteiro Adaptado, Design de Produção, Som, Fotografia, Edição, Trilha Sonora Original e Direção (Jane Campion). São grandes chances em cada uma das categorias.
Da Netflix também surgem outras indicações a melhor filme, com menor chance e apelo, mas muito interessantes: A comédia ‘Não Olhe Para Cima’ e a ridicularizarão dos negacionistas – atual e oportuna – e na outra ponta, carregado de drama está ‘A Filha Perdida’ com Olivia Colman e uma discussão sobre maternidade e um trabalho cheio de signos, tabus e acima de tudo, corajoso.
Para os fãs de Drama com D maiúsculo, a releitura de ‘Macbeth’, o clássico de Shakespeare sob direção de Joel Coen, em um raro trabalho sem a parceria com o irmão, é puro deleite. Um sofisticado filme p&b, ‘A Tragédia de Macbeth’ estrelado por Denzel Washington e Frances McDormand, foi merecidamente ovacionado pela crítica especializada.
Não é só Joel Coen, um dos diretores peso-pesado, que vêm com tudo em 2022: Denis Villeneuve assina a adaptação de ‘Duna’ com Zendaya e Timothée Chalamet, um blockbuster realmente grandioso e nada óbvio, o mexicano Guillermo del Toro, que mais uma vez traz um filme com visual impressionante ‘O Beco do Pesadelo’, Spielberg revisitando o ótimo romance de 1961, ‘Amor, Sublime amor e finalmente Paul Thomas Anderson que, caso justiça seja feita, deveria levar o Oscar para casa com a direção de ‘Licorice Pizza’.
Outra surpresa para quem é fã de um bom cinema é o japonês ‘Drive My Car’, de Ryusuke Hamaguchi, concorrendo a quatro estatuetas: Filme, direção, filme internacional e roteiro adaptado. Não é pouca coisa.
MELHOR ATRIZ
Os fãs de Lady Gaga ainda não se conformam com o fato da estrela ter sido esnobada em das categorias mais disputadas da noite, mas este parece o ano de Kristen Stewart com a sua versão moderna da princesa Diana, em uma atuação realmente sutil e competente, ou de Nicole Kidman dando vida à pioneira dos sitcoms modernos, Lucille Ball, em ‘Apresentando os Richards’.
Outra atuação que vem com força é a da britânica Olívia Colman disputando com Penélope Cruz – cada vez melhor e surpreendente no filme de Almodóvar ‘Mães Paralelas’ – e Jéssica Chastain, que já coleciona duas estatuetas. Difícil saber quem leva dessa vez.
MELHOR FIGURINO
As cores ou a ausência delas são tão importantes em um filme que entre 1948 e 1967 existiam duas categorias na premiação: uma para filmes coloridos e outra filmes preto e branco. Claro que essa subdivisão existia pela limitação técnica de um período, mas com o sucesso do filme ‘O Artista’ em 2011 até o último ano com ‘Mank’ é cada vez maior o número de trabalhos nesse estilo.
Com esse raciocínio, Mary Zophers merecia ao menos uma indicação pelo trabalho de figurino em ‘Tragédia de Macabeth’ e o visual minimalista apurado. Não rolou.
Em contraponto, ‘Cyrano’, de Joe Wright, é um filme visualmente poderoso e reúne uma dupla de figurinistas vanguardista: Massimo Cantini Parrini e Jacqueline Durran. Juntos eles criaram um conjunto de aproximadamente 700 figurinos de cair o queixo. Massimo concorreu no ultimo ano por ‘Pinocchio’, e Jaqueline levou a estatueta em 2020 por ‘Adoráveis Mulheres’. Reuni-los é de um peso equivalente à uma colaboração entre Demna Gvasalia e Vivienne Westwood. Difícil visualizar? Seria fantástico e surpreende.
Já ‘Cruella’ assinada por Jenny Beavan merece destaque pela extravagância da sua protagonista e o abuso de cores que ela exige. Uma forte candidata. ‘Duna’ ‘Amor, sublime amor’ e ‘O beco do Pesadelo’ concorrem com visual apurado, mas talvez de menor impacto.
O Oscar 2022 será transmitido no Brasil pelos canais pagos TNT e TNT Series. Além disso, é possível acompanhar a cerimônia através do serviço de streaming Globoplay de forma gratuita.