Honey Dijon tem sido um dos nomes favoritos da turma da moda quando o assunto é DJ. Ela já fez collab com a Ray-Ban, trilhas para Louis Vuitton, Hermès, Balenciaga, Givenchy e Dior e tocou em festas da Burberry, mas sua próxima empreitada vai além de suas habilidades como DJ. Honey Dijon acaba de fechar uma parceria com a Comme des Garçons para a criação de uma marca própria sob o guarda-chuva do grupo.
A Honey Fucking Dijon será lançada no final do verão europeu já com uma série de bolsas e camisetas. “Como uma mulher trans e de cor, nunca poderia imaginar que isso aconteceria. Obrigada Comme des Garçons por permitir que eu represente a minha cultura, comunidade e meu amor pela house music. Estou verdadeiramente honrada”, disse em um post no Instagram revelando a parceria.
Dijon, que veio já duas vezes ao Brasil (em 2017 para o Red Bull Music Academy e em 2018 para o festival Dekmantel), é uma voz não apenas na música eletrônica, mas nas comunidades queer e negra. Leia abaixo alguns fatos sobre Honey Dijon:
A DJ nasceu em Chicago e foi influenciada pelo som de mestres como Frankie Knuckles e Derrick Carter (de quem hoje é amiga).
Seu verdadeiro nome é Honey Redmond e sua família sempre foi muito musical e apoiou sua trajetória desde o início. “Eles eram amantes da música, então sempre havia música na minha casa. Tenho muita sorte de ter aparecido em uma época em que a música estava vindo do Movimento dos Direitos Civis. Eu cresci com muitas mensagens na música: sobre a conexão humana, sobre a experiência humana, sobre amor, perda de amor, aspiração. Tive muita sorte em ter pais que me expusessem a uma música tão incrível”, disse ao site da Red Bull Music Academy.
Ainda muito jovem, ela conheceu uma menina que era protegida de Frankie Knuckles e conhecia todo mundo da cena house. Um dia ela falou: “Conheço alguém que acho que você adoraria conhecer. O nome dele é Derrick Carter e ele é DJ e ele trabalha nesta loja de discos e eu acho que você se daria muito, muito bem”. E através de Derrick, Dijon começou a frequentar festas underground e se encontrar no meio disso tudo.
Entre outras pessoas que ela cita como referência estão Grace Jones e Robert Mapplethorpe. “Grace Jones apenas quebrou todos os estereótipos. Ela liberou minha mente sobre o que significava ser uma mulher, um homem, queer, um artista, não convencionalmente bonita, negra como a noite, assimétrica, forte, geométrica. Ela me deu a coragem de ser uma artista”.
“E Mapplethorpe mudou as coisas para mim porque eu nunca tinha visto o sexo representado graficamente de uma maneira tão bonita. Lembro-me de ir à biblioteca quando tinha 15 anos e de descobrir Irving Penn, apenas retrato preto e branco. Eu sou uma pessoa muito sexual, assim como eu acho que muitos artistas são. Ele também representou um tempo, para mim, que eu gostaria de ter vivido. Eu não vim para Nova York até o final dos anos 90, mas meu tempo favorito na história é Nova York de 1976 a cerca de 1990”.
Dijon conheceu uma comunidade de mulheres trans quando se mudou para Nova York. na época, ela era uma performer – ou uma showgirl como ela mesma conta – e tinha uma noite chamada A Taste of Honey onde dublava hits de dance music e falava besteira no microfone. “Era uma ótima dançarina antes de virar DJ”, lembra em uma entrevista para a i-D. Essa comunidade e o acolhimento que recebeu então foram de grande influência para sua vida e carreira. “Tudo o que eu sei e que gosto – arte, moda e música – aprendi através da comunidade negra queer. Se tivesse nascido uma menina heteronormativa, eu provavelmente não teria tido acesso aos espaços e à cultura que tive”.
Quando questionada sobre seu período de transição em entrevistas, Dijon diz que detesta esse termo e prefere algo como “jornada para a verdade” já que transição é algo que diz respeito a todos. “Todos vão de um trabalho para o outro, de rico a pobre, todos estão em mudança constante. Eu me cansei de sempre pensar que precisava consertar algo em mim, me cansei de sempre esperar para viver. Eu só queria me sentir bem comigo mesmo”.
Ainda sobre esse assunto, ela diz que não atua como uma “mulher trans profissional”. “Antes de ver meu gênero, você vê a minha raça. Eu vivo como uma pessoa de cor. Em cima disso, eu passo a vida como uma mulher que é uma pessoa de cor, e só então, se você olhar mais fundo, verá que sou trans. Realmente, esse é o terceiro da lista”. De qualquer forma, ela é uma das poucas vozes negras e trans no alto escalão da moda e da música.
Honey Dijon é uma apaixonada por moda. Colecionadora de revistas, ela tem todas as edições da i-D, W e da Vogue italiana durante o longo período Franca Sozzani-Meisel. Também sabe dizer, em segundos, os nomes de dezenas de designers de nicho.
Sobre suas próprias produções, ela se considera uma boa produtora. Sou DJ primeiro e depois produtora porque eu venho da arte e da cultura de ser DJ. Estou sempre aprendendo e trabalhando com pessoas realmente boas. Estou me envolvendo com pessoas realmente boas e, por isso, sempre estou aprendo coisas novas. É uma curva de aprendizado sem fim para mim. Não há maneira certa ou errada de fazer música”
Ela tem conseguido unir os mundos da moda e da música sem comprometer sua conexão com a cultura underground. “Da cultura que eu venho, você tinha que trazer algo. Precisava ter talento ou personalidade; tinha que trazer algo para a festa em vez de simplesmente levar algo embora com você”.
@HONEYDIJON of course! https://t.co/FokqaYwYjE
— Boy George (@BoyGeorge) May 16, 2019