Daniel Carvalho, a Katylene, e Pedro Beck ©Reprodução/UHB
Se nos anos 1990 o culto ao DJ era o que norteava a cena noturna em São Paulo (e em outras capitais do país), e nos anos 2000 a cultura clube foi orientada pelo indie rock e suas estrelas, agora vivemos uma movimento diferente. Um constante clima de “festa na casa de amigos” _e não DJs contratados_ comandando as pickups de boates e festas mais importantes da cidade. Lions Nightclub, Funhouse, Emme, Alberta e Glória são alguns dos lugares onde você ouve jornalistas, chefs de cozinha e outras “personalidades atacando de DJ”.
Gabriel Finotti, da Decadance, festa que acontece aos sábados no Alberta #3 ©Divulgação
Para Gabriel Finotti (@GabrielFinotti), produtor da Decadance, que acontece aos sábados no #Alberta 3, chamar os amigos depende da intenção do dono. “É despretensão, o iPod rola de mão em mão”, explica. Pedro Beck (@PedroBeck), que organiza a Balada Mixta (sábados mensais no Estúdio Emme), defende a presença dos amigos. “Acabo chamando amigos para tocar nos meus projetos porque às vezes você tem um cara tecnicamente perfeito, mas que não tem o feeling de uma pista, o famoso ‘DJ Moisés’: quando ele entra pra tocar, a pista abre e esvazia”.
Será uma questão de popularidade? Personagens mais “reais” trazem mais público para a balada?
Maria Prata (@Maria_Prata), que é jornalista e diretora da Fashion TV, usa redes sociais como Twitter para chamar seus amigos e seguidores. “Aviso no twitter e tem muita gente vai por isso. Algumas pessoas que eu não conhecia vão falar comigo”, conta. Para Pedro, não necessariamente. “O Sany Pitbull (@SanyPitbull) coloca quatro mil pessoas onde for tocar. Chame um twitteiro com 100 mil followers para tocar na sua festa. Nem mil aparecem”.
Sergio Amaral (@SergioAmaral), jornalista, defende o clima mais descontraído de ter amigos tocando. “Agora é moda, né? Tava faltando uma boa dose de diversão, que é o que todo mundo de uma forma ou de outra busca na noite e nas festas que freqüenta”. Jana Rosa (@JanessaCamargo), repórter do programa de moda It MTV, concorda. “[Toco] o que eu gosto de dançar. Hits dos anos 90, pop bate-cabelo e clássicos do rock”. Mesma vibe de Daniel Carvalho, Katylene (@Katylene), que além da Balada Mixta toca em várias noites em SP.
“Comecei muito mais pela brincadeira e pela vontade de querer dançar na pista a música que eu ouvia em casa do que por qualquer outra coisa”, conta. Com mais de 50 mil fiéis seguidores no twitter, Katylene garante que a divulgação através das redes é importante. “Hoje em dia a divulgação das festas é basicamente através dessas mídias. Acabou essa história de flyer”.
CARTEIRA ASSINADA
Johnny Luxo, o club kid mais famoso do Brasil, saiu do fervo das pistas para incendiar as pickups e defende: “Gosto muito de convidar os não-DJs para tocar” ©Reprodução
Atividade que há muito tempo busca mais respeito e meios de se profissionalizar (como um sindicato), o que pensam os DJs sobre essa onda de sets amadores? Johnny Luxo (@RealJohnnyLuxo), que fez a transição de club kid para DJ profissional e hoje comanda a maior parte das noites no Clube Glória, além de tocar na A Lôca e outras casas, opina: “Eu gosto muito de convidar os não-DJs para tocar, por vários motivos, como flexibilidade de setlist (é fundamental) e carisma. Até algum tempo atrás, eu só convidava DJs profissionais, mas nos últimos anos notei que depois de um certo momento da noite a pista despencava e a festa terminava, e isso acaba sendo prejudicial para a festa/clube. Afinal de contas, festas em clubes são negócios, não é à toa que vários lugares modificaram suas programações, pode reparar”.
Ad Ferrera, que fez a transição de DJ ocasional para DJ profissional: “Acho que há espaço para as duas coisas” ©Reprodução
Ad Ferrera (@AdFerrera), que foi residente do Bar Secreto por dois anos, e também fez a transição de amador para profissional, conclui: “Geralmente um DJ profissional quer impressionar a audiência com sua técnica apurada, seu repertório novidadeiro e sua trip autoral, coisa que nem sempre funciona, já que numa pista o povo paga caro pra dançar e muitas vezes esses sets profissionais são muito chatos pro público. Acho que tem espaço pras duas coisas. O mercado é competitivo mesmo”.