Emicida: o rapper que já mordeu cachorro pra não passar fome agora quer devorar sua fatia da música nacional ©Ênio César
Armado de uma exposição sem precedentes na imprensa, o rapper paulistano Emicida lançou, no último dia 17/10, a sua segunda mixtape. “Emicídio” foi lançado pela gravadora independente Laboratório Fantasma, o segundo lançamento do paulistano, batizado como Leandro Roque, depois do bem-sucedido “Pra Quem Mordeu Cachorro Por Comida Eu Até Que Cheguei Longe”, de 2009.
Apesar de produzida em esquema caseiro _por isso é um mixtape, e não um álbum de estúdio_ a produção é cheia de bases, colagens e soluções de arranjos bem sacadas. O CD começa com a pergunta: “E Agora?”, evidenciando o jeito de Emicida de rimar _ele vem da escola do improviso_ forte e calcado em frases de impacto.
Nos arranjos, os metais são o carro-chefe, importados do soul de James Brown ou de Tim Maia; recortados, em loops ou acelerados, como em “Então Toma” _que cita de Geyse Arruda ao jogador Robinho, e lembra o hit “Triunfo”, que alcançou mais de 600 mil visualizações no You Tube.
“Cê Lá Faz Ideia” – Emicida
Outras bases sensacionais dão o humor mais sombrio, como na faixa “Emicida”, com seu soturno sample de piano; e “Avua Besouro”, onde Emicida não dispensa a crítica social pesada, característica do rap, passada com verdade. Já em “Isso Não Pode Se Perder”, ou mesmo “E Agora?”, o uso de outras vozes no refrão _ lembra dos Fugees?_ não funcionam, com traduções literais do r&b americano que passam do ponto.
Emicida é um tipo diferente de rapper. Não tem medo da TV, dos jornais, do monstro que é a grande mídia, e que artistas indies costumam não ter estômago para encarar. Respeita e exige respeito, explora outros territórios. Recentemente, gravou com o NX Zero e vai assinar faixa com uma das bandas “coloridas”. Se conseguir manter a autenticidade de hoje (como um dia Planet Hemp ou Racionais fizeram) com a coragem que lhe é exigida, Emicida pode escrever algumas rimas novas na história da música brasileira.
Myspace: myspace.com/emicida