Pharrell Williams, o líder do N.E.R.D. ©Juliana Knobel/FFW
“O que você achou do álbum?”, perguntou Pharrell ao FFW. “Gravem o que ele está dizendo. Isto é importante!”.
Foi com os papéis invertidos que começou a entrevista de Pharrell Williams e Shay Haley, do N.E.R.D., com o FFW e apenas três veículos escolhidos a dedo na última sexta-feira (05/11). A conversa aconteceu o hotel Sheraton, em São Paulo, momentos antes do show no F1 Rocks, abrindo para o rapper/superstar Eminem. “Ele é um gênio, estamos orgulhosos de abrir para ele”, confessou Pharrell.
A entrevista, regada a Coca-Cola, transcorreu com o olhar dele se voltando algumas vezes para o smartphone e o Twitter. Ao lado do companheiro de banda, ele falou sobre o novo álbum, internet e muito mais. Depois, seguiram _acompanhados por um comboio policial que furou o trânsito da Marginal Pinheiros_ para o festival na Chácara do Jockey.
Como foi trabalhar com o Daft Punk neste disco?
Pharrel: Eles são caras inteligentes, nossos amigos há mais de 10 anos, produtores muito talentosos. Foi como trabalhar com garotos que você não vê há muito tempo. Muito divertido.
FFW: Este é o seu quarto disco de estúdio e marca uma nova fase para a banda. Como foi o processo de gravá-lo?
Pharrel: No começo, foi difícil. Começamos com um o disco inicial, chamado “Instinct Gratification”. Gravamos muita coisa, o bruto que trabalharíamos no ano seguinte. Gostávamos do material, mas não estávamos felizes com ele. Não tinha o tipo de esteróide que queríamos para o nosso quarto álbum. Um ano mais tarde, nós começamos a gravar o “Nothing”, e por dois meses entre um e outro, foi como um tempo morto para todos. Chad estava trabalhando em outro projeto e eu também, o Pharrell em uma trilha de filme. Um dia ele me ligou e disse que talvez tivesse a ideia. Ele descreveu por telefone, mas não saquei o conceito como um todo. Mais tarde, nos encontramos em Miami e ouvi “I’ve Seen The Light”. Assim tudo começou, era exatamente o que precisávamos.
Pharrell e Shay, do N.E.R.D. ©Juliana Knobel
FFW: Estão felizes com álbum?
Shay: Sim, bastante.
Pharrell: E você, está feliz com ele? O que você achou do álbum?
FFW: Nós gostamos. Tem tensão sexual, mas não é uma tensão óbvia.
Pharrell: É aquele momento sublime. Você sente, mas não atingiu o seu consciente ainda.
FFW: Sim. Foi essa a sua visão?
Pharrell: Sim. Queríamos compor música que estimulasse as pessoas. Não só de forma sexual. De uma forma humana. Sexualidade é uma parte das emoções humanas. Às vezes estamos felizes, tristes, confusos, curiosos, às vezes com tesão, às vezes com fome. Às vezes estamos procurando.
Falem um pouco sobre as influências do disco.
Pharrell: Estávamos gravando no estúdio de Hans Zimmer [compositor de trilhas sonoras]. E tinha um pôster de “Era uma Vez No Oeste”. Se voce ouvir o disco, não há muitas 808s [um tipo de percussão]. Isso porque durante a mixagem queríamos mostrar outras coisas. Mas ainda no conceito, você pode ouvi-lo nas canções, algumas mais do que em outras. Queria esse som de spaguetti movies do velho oeste. Pensei, Quentin Tarantino vai gostar disto. Pensei que queria fazer músicas que merecessem estar neste disco. O primeiro verso de “Ive Seen The Light” é super Jim Morrison, super Door-ish. Quando escrevemos “Help Me”, vi que era totalmente 60s, 70s. Vamos fazer algo como Moody Blues, como America, Neil Young. Tem as características e a nossa pegada, mas quem ditava a direção foram essas referências.
O que vocês gostam de música brasileira?
Pharrell: Gosto de… batucada? Acho que é batucada. Gosto do jeito de cantar [canta como no funk carioca]. É muito legal.
Como é a diferença entre criar para a moda e para música?
Pharrell: Basicamente a mesma coisa, só numa linguagem diferente. A inspiração é a mesma. É como você ser você, e falar com com o seu namorado ou com a sua mãe. Só muda o vocabulário. Fazendo música ou camisetas, ainda é você.
FFW: O disco vazou antes do seu lançamento oficial. Como se sentem a respeito? Como avaliam a questão da música online?
Pharrell: Ninguém realmente gosta disso. Mas ao mesmo tempo, o lado legal é que toda a molecada que baixou e ouviu antes estava divulgando, twittando, dizendo que o disco é bacana. Estamos honrados de receber as críticas calorosas que tivemos, este disco é… Nós geralmente fazemos música para os jovens, num som eclético, todo disco é diferente. É bom que as pessoas estão sempre abertas para boa música e música nova.
SHOW CURTO, PLATEIA MORNA
O show, que aconteceu pouco após Marcelo D2 e abrindo para Eminem, foi curto _a chuva atrapalhou o line up do festival. A organização, apesar da boa estrutura, errou na escolha do Jóquei Club como locação, que precisava ser entregue à meia-noite, encurtando o setlist de todas as bandas. Foram seis faixas, quatro delas do novo disco _como “Hipnotize U”, e “Hot ‘N Fun”, e os hits “Beautiful” e “Lapdance”.
“O Brasil tem as mulheres mais lindas do mundo”, elogiou enquanto em cada ponta do palco, uma dançarina requebrava. O público (muito por conta da enorme pista VIP) não era dos mais animados, e só se conectou com o cantor no final, quando pediu para que todos agachassem e depois pulassem em “I Wanna Jam”. Para uma banda tão sexy, a sensação que ficou foi de um coito interrompido.