Zapeando pelos canais da TV em um raro momento sozinha, me deparei com a capa da série I May Destroy You, exibida aqui pela HBO. A imagem e o título me chamaram atenção e comecei a assistir.
Bastaram alguns minutos para entender que iria até o fim e vi praticamente de uma vez os três episódios (de 12) que já estavam disponíveis. Nos créditos, também notei que a atriz principal, Michaela Coel, é também a criadora da série. E ela é incrível. A gente gruda o olho nela na tela.
A história se passa em Londres, onde a escritora Arabella precisa entregar seu novo livro para uma editora hype que está alavancando sua carreira. Mas, em uma noite com amigos e uns drinks a mais, ela passa a questionar o que aconteceu de fato e muito da história se desenrola a partir de perguntas e descobertas.
I May Destroy You é uma ficção baseada no abuso sexual que a própria Michaela sofreu em 2016 quando fez uma pausa no trabalho para se encontrar com um amigo em um bar. Nesta noite, ela foi agredida sexualmente por dois homens e se viu voltando à consciência no escritório de produção da Fremantle Media, onde trabalhava, com o celular quebrado. Nas 24 horas seguintes, ela lentamente começou a entender que a imagem do homem que aparecia em sua cabeça não era ilusão ou loucura, mas uma vivência da noite anterior.
Os episódios estão sendo publicados semanalmente, então ainda há muito o que acontecer. Por enquanto, vale também destacar o trabalho de figurino e beleza, assinado por Lynsey Moore e Bethany Swan. “Trabalhamos juntas para criar personagens reais com histórias de fundo ressonantes através do uso combinado de cores vistas no figurino, maquiagem e até no cabelo. Quando conhecemos Arabella, ela tinha cabelo rosa. De uma perspectiva externa, essa cor exala confiança, mas é um rosa desbotado pálido, tem longas raízes escuras, parece cansado, bem-amado e vivido”, diz Bethany, responsável por make & hair. “Esse é o estado de espírito em que a encontramos, emocionalmente esgotada e com bloqueios para escrever”.
Michaela já havia ganhado um BAFTA de Melhor Performance Feminina em um Programa de Comédia por Chewing Gun, transmitido pela Netflix no Reino Unido. Ela também havia participado de um episódio de Black Mirror e é uma das protagonistas de Black Earth Rising, que podemos ver aqui pela Netflix. A plataforma achou que seria a escolhida para distribuir I May Destroy You e fez uma oferta para Michaela no valor de US$ 1 milhão. Coel recusou a oferta do streaming porque a empresa não permitiria que ela retivesse qualquer porcentagem dos direitos autorais. Em uma entrevista ao site Vulture, ela conta que tentou negociar com “um executivo de desenvolvimento de nível sênior da Netflix” para reter “pelo menos 5% dos direitos autorais”.
Aos 32 anos, Michaela Coel ela parece estar em um pico de criatividade e liberdade, olhando para sua própria vida e relações para construir com tanta potência a personagem Arabella, que certamente ainda vai conquistar muita gente.