Por Raisa Carlos de Andrade, em colaboração para o FFW
Eduardo Kobra em ação no SPFW Inverno 2014 ©Felipe Abe
Considerado um dos principais nomes em arte urbana do país, Eduardo Kobra finalmente une seu trabalho à moda. Reconhecido mundialmente, o grafiteiro precisou negar um convite semelhante durante a London Fashion Week. Na época, estava em Los Angeles, nos EUA, onde produzia seus imensos murais.
Há 26 anos, ele usa as ruas para estampar sua linguagem. Enquanto finalizava detalhes de sua pintura tridimensional dentro do SPFW Inverno 2014, Kobra falou sobre a imersão da estética urbana em territórios privados e a sensação de produzir sendo observado. As obras – um painel de 20 metros quadrados, um carro e três camisetas – marcam a entrada da Hot Wheels na semana de moda e dão ainda mais cor ao evento.
Como você vê a entrada da street art neste espaço?
Acredito que a moda e a street art são fontes de inspiração interligadas. Isso vem desde a década de 70, 80, em Nova York, com artistas como Jean-Michel Basquiat e Keith Hering, que quebraram essas fronteiras. Existia preconceito entre as ruas e as galerias de arte, eventos de moda, museus, casas noturnas. Eles foram os primeiros a quebrar essa barreira. O que Nova York representou nas décadas de 70 e 80, hoje é representado por São Paulo. Aqui é uma vitrine no que diz respeito a street art. Os melhores artistas do mundo estão pintando por aqui, pelos diversos estilos de linguagens, de tendências, enfim… É algo muito rico em São Paulo. Acho que é super natural acontecer uma fusão entre a moda e a street art.
Obra de Eduardo Kobra no SPFW Inverno 2014 ©Felipe Abe
Enquanto muitos artistas pensam em sair das galerias, o grafite tem feito um caminho oposto. Como você vê essa inversão de valores na arte?
No meu caso, isso aconteceu naturalmente. A gente vê artistas reconhecidos, como o casos dos Gêmeos, que já pintaram em lugares super importantes e não deixaram de pintar as ruas. No meu caso, também é assim. Posso estar em qualquer galeria que meu trabalho permanece nas ruas da cidade e justamente é o que me dá mais prazer. Para mim, é o principal museu, a principal galeria, o ambiente mais democrático. Eu não vejo nenhum problema em sair das ruas e ir para um lugar restrito. Contanto que você permaneça nas ruas. Obviamente que hoje existe um movimento contrário, muitos artistas percebem essa visibilidade e já colocam o trabalho na rua em busca de um convite para galerias, marcas… A rua possibilita tudo isso, mas os verdadeiros artistas de rua permanecem ali. Eu nunca tive preconceito em fazer trabalhos em ambientes restritos.
Você já é acostumado a criar de uma forma exposta. No SPFW é diferente?
Na realidade, não faço muitos eventos. Estou sempre pintando, mas nas ruas. As pessoas passam rapidamente, mas quando percebem, o trabalho já está pronto. Aqui está sendo interessante porque as pessoas estão passando, reconhecendo a linguagem, falando sobre o trabalho da Avenida Paulista. Por rosto, as pessoas não me reconhecem, reconhecem pela linguagem. Isso é muito legal, perceber que mesmo com as vidas estressantes, as pessoas estão prestando atenção nas obras da cidade.
Quais artistas te inspiram?
Sou autodidata. Entrei em uma galeria pela primeira vez por volta dos 25 anos de idade. Então, obviamente, minhas referências são os próprios grafiteiros. Hoje alguns são referências, como o Banksy. Para mim, ele é o mais importante, muito à frente dos outros. O que eu acho engraçado no Banksy é que ele vai lá, apenas com uma tinta preta e um estêncil e consegue fazer o trabalho mais interessante, sendo o mais simples. Tem um italiano sensacional, chamado Blu, que é um dos melhores. Também sigo outras tendências artísticas, como as pinturas anamórficas sobre outros pavimentos, em 3D. Aí minhas referências são o Kurt Wenner e o Julian Beever. Já em murais, acho que a estrutura do meu trabalho tem um pouco de Diego Rivera e Gabriel Orozco, que são os muralistas mexicanos.