Neste mês de orgulho LGBT+, vale lembrar e rever (ou assistir pela primeira vez) o documentário cult Paris Is Burning, lançado em 1991 e que apresentou ao mundo a cultura dos bailes gay no Harlem.
Ao mesmo tempo em que Paris is Burning é considerado um documentário necessário ao mostrar uma comunidade resiliente, criativa e inspiradora, ele também iniciou na época debates acalorados sobre apropriação e privilégio. Entre as reclamações, há a visão de que o filme é muito focado nas tragédias vividas pelo grupo, já que muitas cenas mostram xs artistxs falando sobre homofobia, transfobia, racismo, pobreza, Aids e ainda termina com uma revelação muito triste (que não citamos aqui para não dar spoiler para quem ainda não viu).
Em uma entrevista à i-D, a diretora Jennie Livingston defende-se: “Pensamos muito sobre isso. Se você apenas faz algo realmente otimista e divertido, isso é uma mentira, porque as pessoas estão na luta. Mas se você fizer tudo luta e drogas e AIDS e morte, isso também não é muito respeitoso, porque os bailes são incríveis e dão o sustento deles. sustentadoras. Então nós tentamos ser realistas”.
Na época, Livingston foi acusada de exploração e voyeurismo por documentar uma comunidade formada, em sua maioria, por performers negros, latinos, gays e transsexuais, uma comunidade da qual não fazia parte.
Jennie levou sete anos para finalizar o filme e está há quase 30 se defendendo dessas acusações (além de também a ter ajudado a perceber sua própria identidade gay). Ela teve dificuldade em levantar outros projetos no cinema por conta dessa história, até que foi chamada para ser consultora da série Pose, que tem a ver com o mesmo universo de Paris is Burning. Agora na terceira temporada, ela também foi convidada para dirigir alguns episódios. “Logo após o lançamento de Paris Is Burning, eu estava tendo essas experiências, onde foi muito difícil conseguir um segundo filme. Eu tinha reuniões, mas as portas de financiamento não estavam abertas. Felizmente, hoje em dia há muito mais discussão sobre as desigualdades no cinema e na TV; há uma unidade tangível para inclusão. Pode-se argumentar que Paris, com seu retrato de artistas drag icônicas, ajudou a nos levar até lá”.
Mas é fato que esse documentário, independente das polêmicas, é um retrato de uma cena, de uma comunidade em um período e em um bairro específico, mas que até hoje ressoa e faz sentido para milhares de pessoas ao redor do mundo. A criatividade pura que sai da escassez, a camaradagem, a paixão pela dança e pelo palco, a luta, o humor e a ironia, a alegria e o buzz das inesquecíveis competições de voguing.
Você pode assistir ao filme completo no início desta matéria (link do Youtube, com tradução em português) ou no Netflix.