Rolou no último sábado (07/11), em São Paulo, a terceira edição do festival Planeta Terra. Desta vez, o evento aconteceu no parque de diversões Playcenter, com brinquedos funcionando, boa organização e shows começando na hora. Confira abaixo as resenhas dos melhores shows do palco principal, que teve Sonic Youth e Iggy Pop como principais atrações.
MÓVEIS COLONIAIS DE ACAJU
Produto nacional do tipo exportação, a banda Móveis Coloniais de Acaju entrou no palco principal do festival ainda de dia. Nativos de Brasília, eles lançaram em 2009 o seu terceiro disco, C_mpl_te; e se no álbum faixas como “Bem Natural” e “Cão Guia” faltam em energia, ao vivo elas ganham versão turbinada.
Com sua numerosa banda de metais, eles transformam a influência do ska em um “power ska” no momento em que entram guitarras sujas e percussões pronunciadas. Outro destaque é o vocalista André Gonzales: hiperativo, ele dançou, pulou e animou o público sem perder o fôlego em momento algum. Um número típico da banda, eles desceram do palco e tocaram no meio do plateia, que apesar de pequena, armou uma pequena festa sob o pôr-do-sol paulista. Um começo de noite animado.
MAXIMO PARK
A banda de Manchester, Inglaterra, tocou para um público modesto, mas cheio de fãs. Apesar da boa performance, o indie rock do grupo era “aguado” demais para um palco tão grande, e a energia se dissipou. Faixas como “Apply Some Pressure” e “Russian Literature”, junto à performance à la Mick Jagger do vocalista Paul Smith, poderiam ter funcionado melhor no palco Indie.
PRIMAL SCREAM
Formado em 1982 e com o status de uma bandas mais influentes do rock britânico, o Primal Scream subiu ao palco sob grande expectativa do público – que acabou saindo, em grande parte, decepcionado. Conhecidos pelas diversas mudanças de sonoridade ao longo da carreira, eles tocaram um tracklist com hits de todas as épocas, passando por “Miss Lucifer”, “Swastika Eyes” e “Can’t Go Back”, que abriu o show. Mas a combinação acabou saindo pela culatra: o show foi inconsistente e irregular.
A apresentação também sofreu de problemas técnicos: em “Exterminator”, o vocalista Bobby Gillespie – em um terno preto com camisa de animal print por baixo – interrompeu a banda duas vezes, para enfim desistir de tocar a faixa. Outro problema foi a ausência de um dos guitarristas do grupo, o que tirou boa parte do (legendário) barulho que a banda costuma fazer nos seu shows.
SONIC YOUTH
Com uma garoa pesada caindo na banda e no público, o Sonic Youth veio ao Brasil para provar que depois de 30 anos, eles nunca tiveram tanto controle do palco, domínio técnico e vontade de tocar quando agora. Com um set que privilegiou as músicas do disco mais recente do quinteto lançado em 2009, “The Eternal”, eles fizeram o maior show da noite, com 1h30m de duração.
Quase insuportavelmente sexy, Kim Gordon roubou a cena em um vestido de lamé prateado, luva de ciclista (aquele modelo sem dedos) com tachas metálicas e um sapato dourado tipo “Oxford”. Em “Anti-Orgasm”, gritando com seu timbre angustiado, ela levou o público à loucura.
“Ninguém vai morrer por causa de um pouco d’água”, brincou o guitarrista Thurston Moore logo depois de “Poison Arrow”, quando a chuva caía pesada. Abusando das distorções de Lee Ranaldo, e dos ruídos de Mark Ibold, eles ensaiaram um trecho do clássico “Teenage Riot”, para depois terminar o show em um momento apoteótico e, o tempo dirá, histórico.
IGGY AND THE STOOGES
A apresentação do Iggy Pop And The Stooges no Brasil foi a primeira de uma turnê de despedida, que viaja o mundo em 2010. Não há muito a se falar sobre Iggy: o cantor, aos 62 anos, é uma força da natureza. No seu figurino clássico – skinny jeans tamanho 36, tênis preto e torso nu – ele abriu o set com “Raw Power”, e o público se rendeu em segundos.
A banda valorizou o repertório inicial dos Stooges, indo do primeiro disco, de 1969, até o final da década de 70, com destaque para a agressiva “Search And Destroy”. Em “Loose”, Iggy exclamou: “Estou tão solitário aqui…”, e convidou o público para subir ao palco. Quase uma centena de fãs escalaram as grades e tentavam agarrar Iggy, o que causou confusão, acidentes, agressões e até fotógrafos nocauteados no fosso reservado à imprensa pelos próprios seguranças do evento.
Passado o incidente, o grupo seguiu hit após hit (“Funhouse”, “Johanna”, “I Gotta Right”) para então dedicar “I Wanna Be Your Dog” a Ron Asheton, membro da formação original dos Stooges que morreu em janeiro deste ano. O mais selvagem de todos os punks se despediu do Brasil com a bunda de fora e um bis caprichado: “Lust For Life”, de David Bowie, “Five Foot One”, “Death Trip” e “The Passenger”, cantada em coro pelo público em êxtase. Mais que justificado.
Fotos ©Juliana Knobel