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    Profissão Set Designer: Vinícius Manoel

    O cenógrafo atua na publicidade, moda, clipes e series de TV

    Vinicius Manoel aka Vini Studio (Foto: Divulgação)

    Vinícius Manoel aka Vini Studio (Foto: Divulgação)

    Quarto convidado da nossa série de entrevistas com set designers, Vinícius Manoel é plural, atuando na publicidade, moda, clipes e séries de TV. Cada questionamento se torna uma história com detalhes, minúcias e peculiaridades. Aqui, ele compartilha suas referências e relembra momentos decisivos e desafiadores da carreira.

    Qual a sua formação? Me fala um pouco do seu background? Quanto tempo atua como set designer, etc…

    Tenho 38 anos, faz 8 anos que sou Diretor de Arte e Set Designer. Antes disso eu fiz um pouco de tudo relacionado à arte: me mudei para São Paulo em 2001 para estudar, fiz faculdade de Artes Visuais, depois Design Gráfico. Ministrei oficinas de arte em centros culturais. Ganhei prêmio do Sebrae como oficina de estamparia modelo, gerava produtos e renda para as mulheres participantes. Em 2006 fui contratado pelo Sesc Pinheiro como produtor trainee e foi lá onde aprendi a produzir grandes exposições internacionais e eventos do teatro.

    Em 2009 fui morar na Nova Zelândia com visto de trabalho. Trabalhei em uma rede de cinemas que distribuía festivais de cinema para toda a Australásia, China, Japão, Polinésias, Austrália. Experiência muito transformadora, onde além de aprender a trabalhar falando em inglês, eu fazia de tudo um pouco, vendas, produção dos festivais, design gráfico dos materiais de comunicação. Ao mesmo tempo, fiz cursos de cinema, storytelling, set design e light design na University of Auckland, faculdade modelo para a área de cinema que é super desenvolvida por lá.

    Quando retornei para São Paulo, trabalhei na Galeria Luisa Strina como produtor executivo onde entre outras coisas produzia as exposições e feiras internacionais. Depois de um ano, eu decidi abrir minha própria galeria, Galeria Gramatura. Teve uma notável repercussão na época, foi um agito cultural de 2012, tinha um time de artistas renomados, exposições feitas por curadores importantes, aberturas lotadas, porém aliado ao trabalho de sócio da galeria, eu abracei de vez minha idéia de ser Diretor de Arte de foto e filme, pois a rentabilidade da galeria era muito esporádica. Comecei a fazer assistências para diretores de arte de São Paulo. Foi um período intenso, mergulhado nesse mundo de foto, filmagem, criação e produção de cenografia, conhecendo vários núcleos, até que em 2013, eu abri minha empresa de cenografia e comecei a assinar como Diretor de Arte.

    Vini, olhando seu perfil no Instagram notei que você trabalha bastante com papel, espelhos… Quais são os outros materiais que mais gosta de trabalhar?

    Gosto de construir tudo em marcenaria ou serralheria e explorar diferentes revestimentos como plásticos, pvcs, folhas de madeira, fórmicas, pinturas automotivas, etc.. um mundo infinito de materiais aqui. Por um lado gosto dos revestimentos quentes com textura macia, fosca, emborrachada, e por outro lado também gosto de trabalhar com vidro, acrílico, transparências, ou materiais sólidos e frios, como chapas de metais, aço inox, placas de diferentes tipos de rochas.

    Gosto de pensar nas cores para cada projeto, o desenvolvimento da cartela de cores é uma das primeiras criações e irá guiar todos os outros processos de criação seguintes. Gosto de criar a distribuição, intensidade e tipo de luz no set, que irá finalizar e dar vida ao cenário. Ultimamente tenho gostado de criar cenografias mais conceituais, por exemplo usando só painel de led para construir fundos, blocos, totens e objetos, criando assim uma cenografia só com luz. Acho a cara da atualidade, fluida, digital, imaterial, rápida, uma identidade sci-fi e que oferece infinitas possibilidades de formas, cores, efeitos e sensações.

    Quais características você acredita serem fundamentais para um bom set designer? Ter habilidades manuais, por exemplo, é algo obrigatório ou não necessariamente?

    Habilidades manuais são importantes por ser minha técnica prática onde eu expresso minha criatividade, entendo todos os processos de criação, e assim coordeno e sinco a criação de todo o time da arte. Nos jobs maiores só a equipe de arte chega a ter trinta pessoas. Então eu preciso conhecer o dom e o tempo de processo criativo de cada um dos integrantes.

    Outras habilidades fundamentais à posição é saber contratar equipe, passar informação, acompanhar os processos, coordenar as entregas e o bom acabamento, e se por algum motivo algum deles falhar, somente eu estou lá para substituí-lo e responder por todas as responsabilidades da direção de arte. Ter senso de equipe; ter o ímpeto pela pesquisa e saber onde encontrar ótimos e diferentes produtos, materiais, serviços e profissionais especializados; desenvolver uma teia de contato com seus fornecedores, clientes, produtoras de cinema, agências criativas, editoras e profissionais da moda; saber montar um orçamento descritivo e detalhado; coordenar a logística de um processo complexo (estudo do roteiro, decupagem, criação de layouts, conceitos, moodboard, reuniões com todas as equipes, contratação da equipe de arte, construção, transporte, montagem, velocidade e ordem dos processos e da filmagem, desmontagem, fechamento financeiro, pagamentos e entrega do produto final para o cliente); defender seu olhar e idéias criativas em uma reunião com um cliente sem visão alguma sobre arte; ser pesquisador nato em relação a tudo o que é visual, histórico, comportamental: tendências, moda, cinema, design gráfico, expressões culturais, arquitetura, objetos, sociedade, tecnologia.

    “É fundamental ser ser pesquisador nato em relação a tudo o que é visual, histórico, comportamental.”

    E talvez mais importante que tudo, saber criar a magia em um cenário. Quando você escolhe tudo o que vai aparecer de visual em uma foto ou filme, monta e posiciona o set, o trabalho não acaba aí, o Diretor de Arte tem que cuidar dos detalhes como luz, distribuição de cores, saber exatamente qual será o mise en scene, a atuação, o caminho de câmera, a vivência que existirá ali no cenário para estar atento ao enquadramento, composição no quadro, e fazer com que tudo se encaixe perfeitamente.

    Set design para Melissa (Foto: Divulgação)

    Set design para Melissa (Foto: Divulgação)

    Você acredita que tenha muitas peculiaridades quando o trabalho é publicidade se compararmos com um editorial ou campanha de moda?

    Cada universo é diferente do outro. Existem diversas peculiaridades em relação ao desenvolvimento de uma peça publicitária, um editorial de moda, uma peça de teatro, ópera, performance, cinema, instalações multimídia, cada um com sua própria identidade no exercício de produção cenográfica, mesmo que o resultado final para todos esses, seja uma obra visual para espectadores absorverem.

    Aqui falando dos dois campos os quais tenho trabalhado mais ultimamente, moda e publicidade, posso dizer que as peculiaridades da publicidade são: a criação de imagem perfeita, para estimular o consumo do produto que está sendo mostrado, e os investimentos, pelas marcas e empresas, destinados às criações de suas peças publicitárias são bem maiores que os investimentos das editoras, sites e marcas de moda para seus shootings; já a peculiaridade da moda é a que eu mais gosto: é mil vezes mais livre, mais expressiva, mais inovadora e mais criativa no quesito produção de imagem atual, aliás, ganha até se comparada às artes ditas maiores. Por ser menos engessada, a criação de imagem de moda é mais conceitual, mais rápida, mais acessível, e expressa mais a atualidade do que as artes visuais ou o cinema expressam, por exemplo.

    “a peculiaridade da moda é a que eu mais gosto: é mil vezes mais livre, mais expressiva, mais inovadora e mais criativa no quesito produção de imagem.”

    Quais são suas referências quanto à cenografia? 

    Minhas referências são muitas, de várias áreas e épocas diferentes. Tudo o que faz eu sentir uma conexão estética, ou conceitual, ou um encaixe familiar, minha mente já coloca na gaveta das amigas refs. Assim minhas refs vêm das artes visuais (Yoko Ono, Matthew Barney, Olafur), fotografia (o darkness e belo Joel-Peter Witkin, as criações lindas da Cindy Sherman), dança (os actings e espaços que Kazuo Ono e a Pina Bausch criaram para a história, em seus respectivos momentos criativos), passa pelo teatro (Bob Wilson e seus mundos concretistas), design gráfico (de Milton Glaiser à Eike König), design de produto (desde Ettore Sottsass e seu grupo pra lá de transformador Memphis, até as atuais Hella Jongerious, Sabine Marcelis, grupo Jumbo de NYC), arquitetura (Niemeyer, sua identidade única e monumentos surreais que estão no meu imaginário desde criança), decoração de interiores e visual merchandising (o contemporâneo Harry Nuriev e as criações super cool de seu Crosby Studios, ou uma criação recente que me deixou muito maravilhado: a nova loja do Martin Margiela em Paris, com visual e conceitos desenvolvidos por ele próprio e produzidos pela arquiteta Anne Holtrop, parece que tudo lá está quebrado/lascado, mas são peças cenográficas belamente esculpidas e perfeitamente bem posicionadas).

    No cinema,meus prediletos: os estranhos, obscuros e criadores de imagens plásticas: aqui vai do russo Tarkovsky la de 100 anos atrás, até o novíssimo do terror chic Ari Aster, que pra mim, seu filme Midsommar é uma vídeo arte de peso, histórica e necessária), e por fim, minhas refs vão até os novos modelos de desfiles de moda que vem provocando muito pela criatividade e novas expressões de atualidade ao se deslocarem agora para um território híbrido de filme super produção virtual. Por exemplo o mais recente desfile da Louis Vuitton masculino outono inverno 2021, com performance, teatro, dança, patinação no gelo, música, poesia e cenografia quadradona de muralhas de fórmica de mármore verde, teto chapado de luz branca, e o enobrecimento à cultura afro. Tocante e inesquecível. Queria muito ter feito essa cenografia [risos], acho que agora só falta as marcas juntarem de vez esse masculino e feminino num único happening, porque essa separação eu acho antigo demais, nessa explosão de pluralidade sexual e de gênero que estamos vivenciando.

    Você atuou de diferentes formas e de um jeito muito abrangente. Da arte à publicidade… Quais foram os momentos mais desafiadores ou inusitados?

    Todos os projetos são desafiadores. Em todos esses 8 anos de atuação na área, sempre dá aquele frio na barriga quando o job começa, nenhum nunca foi igual ao outro e todos têm seus próprios desafios a serem resolvidos. Mas resumidamente, os desafios corriqueiros são: calcular o tempo de todos os processos, organizar o cronograma e correr contra o relógio, transportar cenografia grande, saber orçar e negociar com o contratante, atravessar longas diárias consecutivas de produção, montagem, filmagem.

    Mas quero muito falar dos desafios maiores enfrentados pela nosso setor que muitos não imaginam: a formação específica na área ainda é bem escassa; o profissional necessariamente é um profissional autônomo, contratado por projeto, sem qualquer vínculo empregatício ou direitos trabalhistas; existe muita competição de mercado e oscilação do movimento do mercado, com meses cheios e enlouquecedores e meses mais parados, sendo necessário o domínio desse balanço emocional de viver numa rotina instável; é desafiador saber prospectar, criar boas conexões e conquistar clientes; é um cargo ainda com pouco reconhecimento, pasmem, existem importantes trabalhos em que o nome do Diretor de Arte nem entra nos créditos.

    Isso tudo está caminhando para uma melhora, com todos os direitos conquistados pela classe, definição de valores de cachês, delimitação do número máximo de horas diárias trabalhadas, e supervisão das produções audiovisuais pelo sindicato SindCine. Mas o desafio maior de toda a minha carreira profissional tem sido conviver com esse período de mais de um ano de pandemia no Brasil e um governo irresponsável, com administração ineficaz, descaso e demora na compra de vacinas, sucateamento de grandes instituições culturais e Ministério da Cultura, cortes de verbas destinadas à cultura e à produção audiovisual, além de ter quebrado financeiramente o mercado e a circulação de moeda, com isso foram inexistentes os grandes trabalhos de publicidade e de moda. A quantidade de trabalhos nesse período reduziu drasticamente, os poucos que houveram foram remotos, precários, com equipe reduzida e sobrecarregada. Torcendo muito para a vacinação rápida e a troca de governo. Força para todes! :)

    @vini_studio

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