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    Alasdair McLellan: olhando para a obra de um dos principais fotógrafos da atualidade
    O fotógrafo britânico Alasdair McLellan / Reprodução
    Alasdair McLellan: olhando para a obra de um dos principais fotógrafos da atualidade
    POR Camila Yahn

    Início e a primeira câmera

    Alasdair McLellan nasceu em 1974 no vilarejo Tickhill, em Doncaster, uma cidade pequena do norte da Inglaterra que não tem nem 200 mil habitantes e tem um aeroporto chamado Robin Hood.

    Ele começou a fotografar em 1987 as 13 anos, com uma câmera Halina que ganhou de aniversário. Passou a leva-la para todos os lados e também para a escola. Depois das aulas, sua namorada e um outro casal de amigos iam para sua casa e McLellan fazia ensaios e retratos com eles.

    A beleza de Tickhill

    Jamie (1994)

    Jamie (1994)

    O vilarejo onde cresceu, Tickhill, é uma grande influência em seu trabalho e aparece como tema ou locação em centenas de fotos. É um lugar industrial e rural ao mesmo tempo, um lugar em que inocência, romance, melancolia e uma atmosfera mais rude se misturam. Até hoje, seu coração está conectado a esse lugar e alguns de seus melhores trabalhos têm a ver com sua biografia pessoal. “Você tem que se colocar na foto. Sempre quando tenho que fazer um shooting, penso em memórias. Quando vou pra casa, fotografo lugares que significaram algo pra mim enquanto crescia. Podia ser algo associado a primeira pessoa por quem me apaixonei ou a rua onde dei meu primeiro beijo. Há sempre um significado”.

    A influência da música

    Alasdair gostava tanto de música quanto de imagem e era leitor de revistas como Smash Hits, NME e Melody Maker. Foi sua “ascensão” como DJ local que o fez abrir os olhos para algo maior. Ele discotecava em um barzinho do vilarejo, depois no pub do pai de um amigo e então no centro de Doncaster, para um público maior. Lá, passou a notar os looks das pessoas e a cena que se criava em torno da música. Foi também quando descobriu a revista The Face, que trouxe uma fascinação pela cultura clubber que o inspirou por muitos anos.

    Para um trabalho de conclusão de curso, ele mais uma vez tirou fotos dos amigos. Desta vez, tentava recriar os posters que uma amiga tinha na parede, como um da Madonna fotografada por Herb Ritts. “Lembro de assistir aos vídeos do Pet Shop Boys e esse da Madonna dirigido pelo Ritts e pensei: “nossa, isso parece muito legal. O que é isso? Que tipo de trabalho é esse?”.

    Outra paixão era o cantor Morrissey. Ele olhava para a estética dos Smiths, as capas de disco, as letras, a melancolia. Até hoje, quando é questionado sobre algo que não considera relevante, responde com um: “it says nothing to me about my life”, frase tirada da letra de Panic.

    Referências

    Leonardo di Caprio fotografado por Bruce Weber em 1994

    Leonardo di Caprio fotografado por Bruce Weber em 1994

    Na adolescência Alasdair era apaixonado pelas imagens de Bruce Weber. O romance, a carga sexual e a inocência, tudo ao mesmo tempo, foi uma grande inspiração no início de sua carreira. Ele conheceu o trabalho de Weber através do vídeo Being Boring, dos Pet Shop Boys, dirigido por ele em 1990.

    Era isso que gostaria de fazer, mas em vez de usar os modelos perfeitos de Weber, começou a escalar um tipo específico de menina ou menino, provenientes da classe trabalhadora do norte inglês. “Meus modelos eram muito football casual na forma como se vestiam e lembro de pensar: se eu conseguisse colocar pessoas assim nos ensaios, então esse poderia ser o meu diferencial”.

    O próximo passo era publicar suas fotos em revistas, mas ele achava que as imagens eram sempre super produzidas, uma estética distante do que fazia com seus amigos. “Não foi até eu começar a entender o trabalho de Corinne Day e David Sims pra i-D e The Face, que eu finalmente entendi que poderia sim colocar na revista fotos de pessoas que pareciam meus amigos”.

    A passagem para as revistas

    Capa da i-D com Coco Rocha

    Capa da i-D com Coco Rocha em 2006

    Alasdair então foi pra Londres e levou seu portfólio para tudo quanto é lado. “Cheguei a pensar: meu Deus, todo mundo é tão cruel. É muito difícil entrar nessa indústria, foi bem intimidador”. Quem não deixou que ele desistisse foi sua amiga Jo-Ann Furniss, hoje editora da i-D. “Ela foi a única que disse: ‘você tem algo’. Mas me lembro que por quatro anos, eu só pensava: não quero, não quero. não quero. Eu trabalhava em uma loja e continuava tirando foto, mas achava que para entrar na moda, você teria que fazer assistência para alguém por anos até conhecer todo mundo e eu não queria isso”.

    Na época, Alasdair fazia lookbooks para pagar as contas e estava desencantado com a possibilidade de fotografar moda. Até que a agente Julie Brown gostou do seu trabalho e decidiu representa-lo e ele começou a fotografar com ótimos stylists, como Joe McKenna e Jane How.

    Seu sonho era publicar suas fotos na i-D, o que aconteceu somente em 2000. Mas entrar na revista foi outro teste de resistência. “Eles derrubavam minhas pautas o tempo todo. Terry Jones não conseguia entender o meu trabalho, até que devagar, começou a gostar das minhas fotos e de mim”.

    Entram em cena os stylists Thom Murphy e Simon Foxton, do time de frente da i-D. Thom é de Liverpool, eles tinham a mesma idade e interesses em comum. Assim, começaram a trabalhar juntos e a desenvolver ensaios com castings formados por meninos ingleses do norte. “Essas fotos receberam uma resposta bem ruim, as pessoas simplesmente não entendiam porque a gente queria lançar esses meninos. Mas eventualmente, eles acabaram saindo em todos os lugares depois disso”.

    Simon Foxton, principal stylist da i-D na época, se interessou por essa estética e começou a chamar Alasdair para fotografar. “Foi o primeiro grande stylist que se interessou por mim”.

    Outro stylist fundamental na evolução de Alasdair como fotógrafo é o belga Olivier Rizzo, que conheceu no início dos anos 2000 e até hoje é um de seus principais parceiros. Criando juntos, cresceram simultaneamente no mercado.

    Com bons guias por perto e uma revista de ponta que comunicava o que era novo na moda e na cultura pop, Alasdair começou a chamar atenção, inclusive de grandes marcas.

    Estilo

    Sam (2002)

    Sam (2002)

    É curioso olhar para uma foto dos anos 90 ao lado de uma atual. As memórias de sua cidade e dos adolescentes que nela viviam estão presentes até hoje, vide o clipe que dirigiu para o The XX da música I Dare You. “Não acho que o que eu faço mudou tanto assim. Quer dizer, eu espero que tenha ficado melhor!”, disse à sua amiga Jo Ann Furniss.

    Através de um tipo específico de meninos e meninas, ele criou uma estética própria, uma experiência de verdade e realidade. As pessoas que ele conheceu na escola e que foram seus primeiros modelos, ocasionalmente aparecem em fotos atuais. E Alasdair consegue trazer para a foto a pessoa além do modelo.

    Com o tempo, as fotos ficaram mais elaboradas, mas o espírito que as define não mudou. “Meu trabalho é sobre o meu mundo, o meu gosto e as pessoas com quem gosto de trabalhar”. E por essas pessoas ele faz tudo. Foi até Los Angeles fotografar Grimes só porque seu assistente estava apaixonado por ela.

    Trabalhos comerciaiscaptura-de-tela-2017-07-14-as-12-12-24

    “O equilíbrio entre editorial e comercial é 50/50. Você tem que conhecer a marca. Fotografar para a i-D é bem diferente de fotografar para a Vogue, que é diferente de fazer Fantastic Man. Em termos de publicidade, você tem que pensar sobre a marca e a sua própria fotografia e como você pode criar seu universo dentro disso”. McLellan já fotografou campanhas para Miu Miu, Louis Vuitton, Margaret Howell, Topshop, Calvin Klein, H&M e Supreme.

    Filme x digital

    “Não gosto que tudo está virando digital porque minha parte favorita é olhar os contatos no dia seguinte e ver o que saiu. Adoro sentar e passar por esse processo”.

    Para ele, fotografar com digital muda a dinâmica no set. “Fica todo mundo em volta do computador. Mas quando faço em filme, as pessoas ficam em torno da modelo pra ver se algo precisa mudar, fazer, desfazer, olham o cabelo. Com o digital você perde esse momento”.

    Identificando grandes fotógrafos

    Uma fascinação pessoal fácil de identificar é o que faz um trabalho chamar atenção. “Você sabe pelo o que os ótimos fotógrafos são fascinados. Sabe que David Sims é obcecado por David Bowie e que ele se interessa por questionar a sexualidade. Bruce Weber criou esse mundo incrível .

    Revistas e escapismo

    “As revistas são sobre escapismo. Você quer se perder nelas e descobrir coisas que não necessariamente são parte da sua vida. Era por isso que queria trabalhar pra elas quando estava começando. Agora, eu quero que as pessoas escapem para o meu pequeno mundo particular”.

    Livros

    Umbro by Kim Jones

    Ultimate Clothing Company (2013): documenta o masculino britânico.

    Ceremony (2016): projeto iniciado em 2006, quando fotografou as tropas da exército britânico para a Arena Homme Plus. O livro é um documento tanto do lado cerimonial do exército quanto da tremenda disciplina necessária para a Inglaterra manter suas tradições.

    The Palace (2016): reúne as imagens que tira da turma da Palace Skateboards desde 2009. O lançamento aconteceu junto com uma exposição no ICA em Londres com 64 ampliações e uma instalação em vídeo do fundador da Palace, Lev Tanju.

     

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