Andy Warhol dizia que “a ideia de esperar por algo o torna mais excitante”. Hoje nós não sabemos mais o que isso significa. Na fotografia, de forma geral, a estética vigente é a que vemos através da tela dos nossos smartphones. Nas revistas e campanhas, o trabalho de pós-produção tornou-se tão fundamental quanto o do fotógrafo. O que não se consegue com a foto digital o computador corrige, aplica, inventa.
Com a tecnologia, quando tudo parece digital ou computadorizado demais, surgem grupos que prezam pelo retorno da experiência e da vivência com mais emoção. Na fotografia com filme, não há uma tela ou um computador conectado à câmera recebendo e abrindo as fotos em tempo real. Não há mudanças digitais instantâneas em que você arruma a luz, a modelo, aplica fundos e mundos. E o resultado final só será visto após o filme ter sido processado e as fotos ampliadas.
Fora que cada foto custa dinheiro, então o fotógrafo tem que ter um controle técnico da fotografia e da cena para poder prever um resultado o mais próximo do imaginado quando as imagens estiverem em mãos. Na fotografia analógica, muitas vezes o erro se transforma em uma descoberta de novos efeitos sobre a foto.
Recentemente temos percebido uma volta da fotografia analógica. Uma geração de fotógrafos com menos de 30 anos que cresceu na era digital, mas tem construído sua carreira fotografando e experimentando com filmes. Vão contra o timing atual do mercado, que não tem mais paciência ou tempo para esperar, e trocam o controle total sobre uma imagem pela surpresa do imprevisível e a beleza de tons mais ricos e nuances captadas com detalhes.
Tyrone Lebon, Harley Weir, Colin Dodgson, Jamie Hawkesworth, Sophie Van der Perre e a nova Giulia Bersani têm como principais referências os trabalhos de Corinne Day, Alasdair McLellan e Nigel Shafran, para citar apenas alguns, mas principalmente, inspiram-se em suas próprias vidas e experiências reais.
E pouco a pouco têm conquistado o mercado, fazendo fotos para grandes empresas, como Nike, Apple e Gap, e grifes de nicho como JW Anderson. As revistas de moda e comportamento também ajudam a divulgar essa turma, publicando materiais impactantes, que vão de capas a editoriais especiais. Eles também são bem atuantes na internet como forma de divulgação, usando Flickr, Tumblr, Instagram e sites bem completos.
Abaixo, uma curadoria de seis nomes que estão trazendo a fotografia de filme de volta à moda. No final, não deixe de ver a galeria que mostra mais imagens de cada um.
Alguns dos trabalhos mais bonitos vistos são de Jamie, 27. Ele nasceu em Preston, cidade pacata na Inglaterra, e costumava fotografar adolescentes que encontrava pelo caminho até um estádio de futebol perto de sua casa. Foi quando viu o trabalho de Alasdair McLellan e conseguiu expandir sua ideia de fotografia: “era a mesma garotada normal com quem eu cruzava na minha cidade, só que com roupas de moda”, disse em entrevista ao BoF. Jamie acabou sendo seu assistente em alguns ensaios.
Assim, seu olhar foi criado e refinado, mas a direção ainda é a mesma de quando começou. Locações sem glamour, pontos de ônibus, cenas cruas, adolescentes e crianças “sem maquiagem”, documentando lugares e pessoas que poderiam passar despercebidos.
Para os trabalhos comerciais, ele procura levar o mesmo olhar e independência para uma estrutura maior. Na campanha de Verão 2015 de JW Anderson, ele e o stylist levaram uma sacola de roupas para a praia, acharam um casal de irmãos, vestiram as roupas da coleção, colocaram eles na água e apenas pediram que andassem de volta pra areia.
Para fotografar Miu Miu Resort 2015, ele viajou sozinho no Expresso Trans-Siberiano para clicar as fotos que acompanham as imagens das modelos, feitas em estúdio. “Acho que se você vai direto na referência em vez de recriá-la, tem mais possibilidade de achar situações curiosas.” Ele ainda está se acostumando com clientes mais comerciais.
Na noite em que foi ver a coleção da Miu Miu, a marca estava fotografando seu lookbook. “Havia um cenário superelaborado, com uns seis flashes e eu pensei: ‘eu não poderia fazer isso. Eu nem saberia como criar esse ambiente’.”
Harley tem 26 anos e já é um dos nomes mais quentes do momento. Ela fotografou a tão falada capa de Gisele sem maquiagem na revista “Pop”. Também está por trás da linda campanha atual de Stella McCartney. Formada na Central Saint Martins em 2010, fez a virada profissional em 2014, quando passou a publicar em revistas como “AnOther” e “i-D” e a fazer trabalhos para Bottega Veneta, Armani, Maison Martin Margiela, McQ e Proenza Schouler.
Corpos nus ou cobertos conseguem ter a mesma dose de erotismo. Um detalhe do corpo, cabelos ao vento, um pedaço de pele, um beijo, a verdade e a simplicidade do ser através do olhar. “Meu trabalho é sobre emoções, sobre aquela alegria que não dá para explicar quando você está olhando para algo sublime. Tento me inspirar no que acontece em minha própria vida, pois acho que esse é o único jeito de ter um ponto de vista único sobre as coisas que todos já viram tantas vezes”, diz. Agora, com tantos trabalhos comerciais, ela quer parar um pouco para redescobrir o que fez ela se apaixonar pela fotografia em primeiro lugar.
Tyrone, 32, nasceu em Londres e tem a cidade como sua maior inspiração. Ele também parece um hiperativo da fotografia, tamanha sua capacidade em produzir e se engajar em projetos diversos, de uma campanha pra Calvin Klein Jeans a uma comunidade online para amantes de fotografia. Seu primeiro filme foi feito aos 18 anos e veiculado pela MTV. Seu trabalho pessoal é inspirado pela juventude e mix de culturas vistos nas ruas de Londres e seus retratos são fortes e sinceros. Entre as marcas que já aderiram ao estilo de Lebon, estão Adidas, Céline, Calvin Klein Jeans, Gap, Maison Martin Margiela, Missoni, Moschino, Loewe, Louis Vuitton, Supreme e Apple, “i-D” e “The New York Times Magazine”.
Recentemente lançou o filme “Reely and Truly” (assista aqui), que mostra recortes nas vidas de 20 fotógrafos, como Juergen Teller, Mario Sorrenti e Petra Collins, e também está por trás do DoBeDo, uma organização de fotógrafos e diretores de cinema. O site promove as novidades, os eventos e os trabalhos de um grupo de profissionais. É uma comunidade online para aqueles com interesse na fotografia, além de facilitar exposições e lançamentos de livros.
Colin, 31, é da Califórnia e mudou-se para Nova York em 2006. Apesar de ser do mesmo grupo de Tyrone, Jamie e Hayley, Colin é o que começou mais tarde e passou a publicar mais seus trabalhos em 2014. Mas já trabalha para marcas grandes, como Chloé e Louis Vuitton, pegando campanhas secundárias e lookbooks. Ele tem sido chamado para fotografar para “Another Man”, “Dazed”, “i-D”, “V Man” e “The New York Times Magazine”. Suas fotos mais bonitas são as de jovens sendo… jovens, como na série “Friday I’m in Love”. É agenciado pela Art + Commerce, uma das principais agências de criativos do mundo e até a Zara já o contratou para uma campanha.
Sophie, 28, é belga e começou fotografando seus amigos em Amsterdã. Suas imagens mostram personagens, normalmente mulheres, em ambientes pessoais e intimistas, e momentos que evocam liberdade e uma sensação de nostalgia. O ambiente e as roupas – ou a falta delas – são muito importantes e contribuem com as histórias que Sophie conta, em uma mistura de fotografia de moda e documental. “Gosto de trabalhar com pessoas reais, com personalidade e carisma. Quero contar a história delas e não transforma-las em quem não são”, diz.
Sophie estagiou com Cass Bird e Ryan McGinley e já publicou seus trabalhos em publicações como “Elle”, “Marie Claire” e “Vice”. Tem um trabalho pessoal bem ativo que pode ser visto em seu site. Ela fotografa com uma Canon FTB, uma câmera de filme superclássica.
A italiana Giulia tem apenas 22 anos e uma paixão por fotografia que percebemos só de olhar em seu site. São diversas séries com muitas imagens cada, como se quisesse mostrar todas as suas inspirações e qualidades como fotógrafa. Giulia começou a fotografar durante a faculdade de Fashion Design e o que era hobbie virou profissão.
Ela é conhecida por seus retratos intimistas, cenas cotidianas, sonhos feitos de luz, histórias de amor, como se fossem quadros de um filme. “Gosto de contar histórias a partir de experiências próprias, mas também gosto de sugerir e deixar as pessoas imaginarem.”
Participa de exposições coletivas na Europa e mostra seu trabalho em revistas independentes de fotografia. Publicou de forma independente o livro “Lovers”, com 150 cópias que foram vendidas em um mês.